Se não concentrasse tanto poder dentro da companhia, Mark Zuckerberg já teria sido demitido do Facebook em diferentes ocasiões. Quem admite isso é o próprio fundador da rede social em áudio vazado, obtido pelo site The Verge. Segundo a publicação, a gravação foi feita em julho durante um encontro em formato de perguntas e respostas entre Zuckerberg e seus funcionários.
"Uma das coisas de que tive sorte construindo essa companhia é que tenho controle de votação. Isso é algo que foquei desde o começo. E foi importante porque, sem isso, houve diversos pontos onde eu teria sido demitido. Certeza, certeza...", disse ele. Zuckerberg defendia aos funcionários sua posição de manter controle absoluto da empresa.
Entre os momentos de possíveis de demissões citados por ele estão quando o Yahoo! fez uma oferta para comprar a companhia em 2006 por US$ 1 bilhão. Zuckerberg disse que se não tivesse poder de votação, o conselho da empresa da época teria demitido ele e optado pela venda - segundo ele, a venda frustrada fez os executivos no comando abandonarem a empresa.
Outro momento decisivo foi em julho de 2018, quando o Facebook perdeu US$ 120 bilhões em valor de mercado, registrando a maior perda em dia único da história de empresas de capital aberto nos EUA.
O argumento do executivo é de que a companhia pode focar em estratégias de longo prazo, que ignoram as pressões do conselho e de acionistas a cada resultado financeiro trimestral, o que, segundo ele, é o que acontece com muitas empresas de capital aberto. Para Zuckerberg, essa estrutura permitiu que a empresa se tornasse o gigante que é atualmente.
Após o o escândalo da Cambridge Analytica, surgiram rumores de que uma ala dos membros do conselho queria remover poderes do executivo, o que não aconteceu.
Ignorar audiências
No áudio, de cerca de duas horas, Zuckerberg tocou em diferentes temas, como sua ausência em audiências com congressistas de diferentes países, a vontade de políticos americanos de desmembrar a empresa, o crescimento do TikTok e o lançamento da moeda digital libra.
Sobre as audiências, ele disse: "Não vou a todas as audiências ao redor do mundo. Muitas pessoas diferentes querem fazer isso. Quando os problemas surgiram no ano passado por conta da Cambridge Analytica, fui às audiências nos EUA e na União Europeia. Não faz sentido para mim ir a audiências em cada país que quer que eu apareça e, francamente, não tem jurisdição para exigir isso. Mas as pessoas usarão a minha posição e a da companhia para nos criticar... Temos que lidar com isso", disse.
Zuckerberg demonstrou insatisfação sobre um possível processo de desmembramento da companhia. "Se [a senadora Elizabeth Warren] for eleita presidente, aposto que teremos um desafio legal, e apostaria também que venceríamos. Isso é um saco para a gente? Sim. Eu não quero encarar um grande processo contra nosso próprio governo", disse.
Em relação ao crescimento do TikTok, o executivo citou o novo app da empresa, Lasso, que se apresenta como arma do Facebook contra o aplicativo chinês. Zuckerberg disse que a estratégia será ganhar mercados onde o TikTok ainda não decolou para depois encarar o rival em mercados onde é popular.
Zuck gostou do vazamento
Após a publicação da reportagem, Zuckerberg compartilhou o link para a reportagem, o que aparentemente demonstra que o vazamento não desagradou o fundador da rede social. "Você pode ver uma versão sem filtros do que falo para os funcionários", disse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.