Atual motor do mundo da inteligência artificial (IA), a Nvidia passou os últimos dois anos vendo a demanda por seus chips de processamento neural estourarem com o avanço da tecnologia - trazendo resultados, principalmente, no crescente aumento de seu valor de mercado, que chegou a ultrapassar Microsoft e Apple na casa dos US$ 3 trilhões. Para 2025, a empresa de Jensen Huang deve se aproveitar do fato de ter virado a companhia mais importante do mundo para alastrar ainda mais seu domínio.
O sucesso da Nvidia veio de uma aposta quando a empresa ainda era uma pequena fabricante de chips. Ao contrário de rivais como Intel e AMD, a companhia de Huang mirou em construir processadores gráficos voltados para atividades de edição e games - o que, mais tarde, a empresa pode evoluir para os cobiçados GPU, chips de processamento neural que são a base para o desenvolvimento de IA atualmente.
Para qualquer inteligência artificial funcionar, é necessária uma quantidade enorme de dados, que exigem uma infraestrutura de computadores de ponta para processar informações. É aí que entram as GPUs: criadas para acelerar o processamento gráfico de forma paralela às CPUs (unidades de processamento central, que executam tarefas sequencialmente e com mais consumo de energia), esses chips evoluíram para abastecer as máquinas por onde rodam as redes neurais que turbinam a IA.
Com isso, a Nvidia se posicionou desde cedo como a única empresa do mercado capaz de fornecer processadores de IA em quantidade suficiente para atender as demandas de outras companhias - OpenAI, Meta, Microsoft e até o Google se viram em uma disputa para conseguir os produtos.
Com o boom da IA em 2022, graças a chegada do ChatGPT, a Nvidia se tornou ainda mais procurada por qualquer empresa que quisesse desenvolver sistemas de IA para acompanhar a concorrência e a tendência de tecnologia que se estabelecia.
Isso levou a empresa a um crescimento exponencial: em 2021, o valor de mercado da Nvidia era de US$ 735 bilhões. Agora, no final de 2024, a empresa já é a segunda mais valiosa do setor de tecnologia, avaliada em US$ 3,4 trilhões. Dentro do ranking da S&P 500, que lista as 500 maiores empresas do mundo, a Nvidia já aparece com mais proeminência que quase todas as empresas do chamado G7 (ou Magnificent Seven, em inglês). O grupo é composto por Apple, Google, Amazon, Meta, Microsoft e a Nvidia.
Esse é um valor que a coloca em disputa direta com gigantes como Apple e Microsoft. A Nvidia chegou, inclusive, a ultrapassar as duas empresas neste ano, registrando, em seu ápice, a marca de US$ 3,41 trilhões no início de novembro. A companhia não manteve a liderança, mas continuou sempre próxima nos fechamentos de mercado.
Concorrentes
Por conta do momento de entrada no mercado, a Nvidia se tornou um rival difícil de acompanhar. A AMD, que busca uma fatia desse mercado, é uma das empresas que busca parcerias com outras gigantes de tecnologia para desenvolver seus chips voltados para IA. No ano passado, Meta, OpenAI e Microsoft firmaram um acordo para comprar o Instinct MI300X, processador semelhante ao H100, principal componente da Nvidia para IA.
A AMD já registra crescimento nos últimos anos, sendo a segunda no ranking de fornecimento de processadores, mas ainda está longe da companhia de Huang.
A Intel, talvez a empresa mais famosa de processadores do mundo - principalmente chips de computadores, como as linhas Celeron e I Core - ficou para trás na corrida quando não percebeu a urgência dos componentes de IA no mercado.
A Broadcom é outra empresa que também tem se aproveitado do boom da IA para fazer negócios com seus chips. Sendo a segunda maior força do mercado, a empresa faz parcerias com gigantes de tecnologia para tentar equilibrar as demandas pelos componentes.
Clientes para dar e vender
O sucesso da Nvidia não seria possível, claro, se ela não tivesse tantos clientes interessados em seus produtos de processamento de IA. E as suas principais parceiras demandam quantidades grandes o suficiente para manter a empresa líder no mercado.
De acordo com o jornal Financial Times, só em 2024, a Microsoft comprou cerca de 485 mil unidades de processadores da marca, mais que o dobro do que a segunda maior consumidora da Nvidia nos EUA, a Meta, que negociou cerca de 224 mil unidades.
Várias dessas empresas trabalham em seus próprios chips de IA - o Google vem fazendo avanços com a linha Tensor, enquanto a Amazon desenvolve seu processador Trainium. Já a Microsoft lançou o Maia, chip com capacidade para rodar LLMs da base do serviço Azure, de nuvem.
Ainda assim, toda essa produção ainda não é capaz de acompanhar o rápido desenvolvimento que essas companhias empregam em IA. A corrida do ouro fica ainda mais rápida quando rivais, como a OpenAI, anunciam novidades quase mensalmente no universo da inteligência artificial.
Todos esses fatores levam a Nvidia a estar em uma posição privilegiada em 2025, com o maior mercado, a maior demanda e a capacidade de brigar pela posição de empresa mais valiosa do mundo - e a expectativa de que a guerra pela inteligência artificial faça ainda mais barulho.
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