Entenda por que o Facebook está na mira da regulação nos EUA e na Europa

Crise. Após revelações de que dados de até 50 milhões de usuários foram usados para favorecer eleição de Trump, agência reguladora de comércio dos EUA abriu investigação e Zuckerberg foi convocado a prestar esclarecimentos na Europa; empresa perdeu US$ 49 bi na Bolsa

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Sob pressão.Após escândalo estourar, fortuna de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, encolheu em US$ 7,3 bilhões Foto: AP/Marcio José Sanchez

O Facebook entrou ontem na mira de governos e agências regulatórias nos Estados Unidos e na Europa, três dias depois das revelações de que a empresa de inteligência Cambridge Analytica obteve, de forma ilícita, dados pessoais de 50 milhões de usuários da rede social. Isso permitiu que a empresa criasse ações de marketing digital para influenciar as eleições americanas que levaram Donald Trump à presidência e o referendo pré-Brexit, que decidiu pela separação do Reino Unido da União Europeia.

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Ontem, o Parlamento britânico convocou o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, a prestar esclarecimentos. Do outro lado do Atlântico, a agência reguladora de comércio americana (FTC, na sigla em inglês), começou uma investigação sobre o assunto.

A repercussão também atingiu Wall Street: nos últimos dois dias, o Facebook chegou a perder US$ 60 bilhões em valor de mercado – encerrou o pregão de ontem valendo US$ 488,5 bilhões, ou US$ 49 bilhões a menos que no fechamento da bolsa Nasdaq na sexta-feira, 16. Zuckerberg, sozinho, perdeu US$ 7,3 bilhões de sua fortuna pessoal desde que as reportagens sobre o caso começaram a sair.

O principal temor no mercado é que o escândalo, revelado no último final de semana (ler mais ao lado), degringole na regulamentação das atividades da empresa, baseadas na coleta, tratamento e uso de dados pessoais de seus 2,13 bilhões de usuários. Além disso, a empresa pode sofrer com multas bilionárias e sanções.

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“É hora de ouvir um executivo sênior do Facebook com autoridade suficiente para dar uma explicação correta sobre essa falha catastrófica”, disse Damian Collins, presidente do comitê responsável por regular a área digital e de mídia no Parlamento britânico, na convocação enviada a Zuckerberg. Para o comissário Terrell McSweeney, da FTC americana, o episódio mostra que “os consumidores precisam de proteções mais fortes na era digital.”

Por enquanto, as reações da empresa têm ajudado a pôr mais lenha na fogueira. Na sexta-feira, já ciente da publicação das matérias, a empresa suspendeu a Cambridge Analytica da rede social e ameaçou os jornais com processos antes da publicação das reportagens.

Além disso, Zuckerberg e sua número 2, a diretora de operações Sheryl Sandberg, não se pronunciaram publicamente sobre o assunto. “Conduzimos uma análise robusta para identificar potenciais violações”, disse o Facebook, em nota divulgada na segunda-feira.

Iniciativa. Para os especialistas ouvidos pelo Estado, o Facebook ainda pode virar o jogo. “O Facebook está com a bola na mão para propor mudanças”, diz Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio). “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades: uma empresa desse tamanho precisa ter postura ativa com os dados dos usuários.”

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Para o português Pedro Domingos, professor da Universidade de Washington e autor do livro O algoritmo mestre, o episódio reforça a má reputação da rede social no quesito privacidade. “É a maior crise de confiança do Facebook até aqui”, diz o pesquisador. Para ele, no entanto, o episódio não deve levar ao êxodo de usuários. “O público em geral não é muito consciente de sua privacidade.”

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