Confirmando um ano de fraco desempenho, a Meta, holding do Facebook, registrou queda de 4% na receita no último trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado — é o segundo trimestre seguido com queda na receita. Após o fechamento do mercado, os papéis da empresa de Mark Zuckerberg chegaram a ter queda de 19,80%, levando a empresa a atingir o menor patamar desde fevereiro de 2016. O recuo fez a companhia perder cerca de US$ 68 bilhões em valor de mercado.
No primeiro balanço sem a presença de Sheryl Sandberg, ex número 2 da gigante, a empresa teve receita de US$ 27,7 bilhões, ante US$ 29 bilhões do mesmo período de 2021. De acordo com a consultoria Refinitiv, a receita esperada para o período era de US$ 27,38 bilhões.
Com o aumento de 19% nos custos, o lucro líquido da companhia no trimestre também teve queda acentuada, registrando recuo de 46% na comparação anual, caindo para US$ 5,6 bilhões. A companhia atribui parte dos resultados à desvalorização do dólar, algo que vem abalando os resultados de todas as gigantes de tecnologia.
Essa, porém, não é a única explicação. A companhia vem sofrendo com a alta global da inflação, o que reduz o apetite de anunciantes - publicidade é a principal fonte de receita da gigante. Além disso, a Apple alterou as configurações de privacidade dos aplicativos no iOS 15, lançado em 2021. Desde então, usuários com o novo sistema operacional devem aceitar ser rastreados na web, uma das funções mais utilizadas por anunciantes nos sistemas do Facebook e Instagram — a decisão foi duramente criticada por Zuckerberg à época.
Para tentar amenizar as perdas, a companhia afirmou em comunicado que busca mais eficiência na operação, o que pode significar demissões. “Estamos fazendo mudanças significativas em toda a linha para operar com mais eficiência. Estamos mantendo algumas equipes em termos de pessoal, encolhendo outras e investindo no crescimento do número de funcionários apenas em nossas maiores prioridades”, afirmou a empresa em comunicado. Atualmente, a companhia tem um quadro de 87,3 mil funcionários em todo o mundo.
Por outro lado, após dois trimestres com queda no número de usuários ativos por mês (MAUs, na sigla em inglês), o Facebook registrou um pequeno aumento de 2% na comparação com o mesmo trimestre de 2021 — são cerca de 2,96 bilhões de usuários. Já o número de usuários ativos por dia (ou DAUs) foi de 1,98 bilhão, alta de 3% ante 2021.
“A Meta mostra sinais claros de estagnação. Agora, ela sai do patamar de crescimento e se torna uma empresa madura, com dificuldades para crescer e sentindo o ambiente econômico difícil”, diz Guilherme Zanin, analista da corretora Avenue. Consultado pelo Estadão, o especialista calculou a perda do Facebook de acordo com o pós-mercado americano — a queda de quase 20% nas ações configurou diminuição no valor de mercado de cerca de US$ 68 bilhões.
Momento difícil
Com a crise econômica global, empresas de tecnologia também começaram a olhar para as finanças em busca de cortes de gastos. Segundo o Wall Street Journal, a Meta está tentando diminuir seu número de funcionários a partir de uma reorganização dos times internos.
O assunto teria sido abordado em uma reunião com funcionários da empresa, no início do mês de outubro, em que Zuckerberg indicou que até 10% das posições de trabalho da companhia em todo o mundo poderiam ser afetadas.
“Esperava que a economia já tivesse se estabilizado de forma mais clara. Mas, pelo que estamos vendo, ainda não parece ser o cenário, então queremos planejar de forma um pouco mais conservadora”, afirmou na reunião com colaboradores.
Em setembro do ano passado, a gigante, impulsionada pelos ganhos da pandemia, chegou a atingir seu valor recorde de mercado: US$ 1 trilhão. Na época, a Meta figurava entre as mais valiosas do mundo, mas com as perdas acumuladas, já ameaça deixar o top 10. Nesta quarta, a empresa fundada por Zuckerberg fechou valendo US$ 348,8 bilhões.
Só em 2022, o empresário já perdeu cerca de US$ 71 bilhões, caindo de sexto para 20º no ranking dos mais ricos do mundo, segundo a Bloomberg. De acordo com a agência, o dono do Facebook possui mais de 350 milhões de ações da empresa e, à medida que elas se desvalorizam, a fortuna do empresário diminui.
Em meados de 2021, Zuckerberg chegou a ser o quarto homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em cerca de US$ 106 bilhões. Agora, seu patrimônio é avaliado em “apenas” US$ 46,9 bilhões, de acordo com o ranking da Forbes — o empresário é a 25ª pessoa mais rica do mundo.
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