Pela segunda vez em sua história, o Facebook registrou a maior queda em valor de mercado em um único dia. A empresa comandada por Mark Zuckerberg registrou nesta quinta, 3, perda de US$ 252 bilhões na sua avaliação. O tombo é resultado do balanço financeiro apresentado pela empresa na noite de quarta, 2.
Segundo o documento, o Facebook perdeu cerca de 500 mil usuários diários globalmente nos últimos três meses do ano passado – o número passou de 1,93 bilhão para 1,92 bilhão. Após a divulgação dos resultados nesta quarta-feira, as ações da empresa caíram cerca de 20%. Nesta quinta, a empresa fechou com queda de 26%, gerando perda de US$ 252 bilhões em valor de mercado - a marca é equivalente a cerca de um terço de todas as empresas listadas na Ibovespa, que tem valor acumulado de US$ 895 bilhões.
Desde que foi criado por um grupo de alunos de Harvard, o Facebook só viu sua operação crescer nos últimos 18 anos, chegando a quase todos os cantos do mundo. Porém, a empresa começar a dar sinais de estagnação, o que espantou os investidores. A queda foi maior na África e na América Latina – houve perda de usuários também nos EUA e no Canadá. A rede social, porém, cresceu na Europa e na Ásia.
O declínio parece ser consequência da perda de relevância do Facebook entre jovens. É um problema reconhecido pelo fundador e presidente executivo da empresa, Mark Zuckerberg. “O TikTok já é um concorrente grande e também continua a crescer em um ritmo bastante rápido”, disse o executivo nesta quarta-feira, em conferência com investidores.
Michael Nathanson, analista da corretora Moffett Nathanson, afirmou à agência de notícias Bloomberg que a concorrência com o TikTok pode estar deixando marcas na empresa de Zuckerberg. “Esses cortes são profundos”, escreveu ele. Os resultados foram “uma manchete forte, e não no bom sentido”.
Na noite desta quarta, antes do anúncio do balanço, o Facebook tinha valor de mercado superior a US$ 900 bilhões e chegou na casa dos US$ 650 bilhões no fechamento do mercado nesta quinta. A primeira vez que o Facebook registrou o recorde de maior queda em um único dia foi em 2018, quando perdeu cerca de US$ 120 bilhões na esteira dos escândalos da Cambridge Analytica. Até esta quinta, o recorde era da Apple, que perdeu US$ 180 bilhões em setembro de 2020.
Tempos difíceis
Apesar da queda em usuários diários, o Facebook cresceu sua base de usuários mensais ativos nas plataformas do grupo (MAUs, na sigla em inglês), registrando 2,91 bilhões, alta de 4% na comparação com o mesmo período de 2020 – mas não o suficiente para agradar o mercado financeiro, que esperava o número de 2,95 bilhões.
Nem mesmo o metaverso, aposta de Mark Zuckerberg como futuro modelo de negócio da empresa, deu sinais positivos: a divisão, que estreou em destaque separado nos balanços da empresa, registrou prejuízo de US$ 3,3 bilhões nas operações no último trimestre de 2021. Na prática, isso significa que o que é faturado com produtos de realidades virtual e aumentada ainda não paga as contas da nova divisão.
Aumentando ainda mais a insatisfação com investidores, a Meta, holding do Facebook, projeta que o ano de 2022 deve ser mais difícil, impactando negativamente o desempenho do grupo. Os fatores que devem frear o crescimento são a inflação, cuja alta nos preços é sentida em todo o mundo, e problemas de logística, ambos afetando a circulação de venda de anúncios nas plataformas.
Além disso, a empresa afirmou no balanço que espera ver mais ventos contrários “tanto pelo aumento da corrida pelo tempo das pessoas quanto pela mudança de engajamento em nossos aplicativos de vídeo, como Reels, que gera receitas mais baixas do que o feed de notícias e os Stories”.
Fator Apple
Na chamada para os investidores após a divulgação do balanço na noite de quarta, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, comentou sobre o impacto das mudanças de configuração de privacidade que foram adicionadas no iOS 15, sistema operacional da Apple. Nas atualizações, o iPhone permite que usuários escolham se querem ou não compartilhar os dados de navegação e personalização de publicidades com redes sociais como o Facebook, por exemplo.
“Como outras empresas em nosso setor, enfrentamos ventos contrários como resultado das mudanças no iOS da Apple. A Apple criou dois desafios para os anunciantes: um é que a precisão de nossa segmentação de anúncios diminuiu, o que aumentou o custo de gerar resultados. O outro é que medir esses os resultados se tornaram mais difíceis”, disse Sheryl.
Ainda na conversa com investidores, o diretor financeiro da empresa, David Wehner, afirmou que a manobra da Apple pode gerar uma perda de, pelo menos, US$ 10 bilhões em receita no ano de 2022 do Facebook.
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