O Facebook anunciou nesta segunda, 25, uma reorganização em sua estrutura financeira que indica que uma mudança de nome deve ocorrer em breve. No balanço do terceiro trimestre, a rede social comunicou investidores que, a partir do próximo trimestre, os resultados do Facebook Reality Labs, ou FRL, serão separados dos números de outros serviços como Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp.
Com a nova estrutura, receita e lucro dos aplicativos serão registrados separadamente dos produtos do FRL, que desenvolve produtos voltados a realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV). Na semana passada, o site The Verge afirmou que a empresa deverá anunciar uma mudança de nome, baseada no novo foco de construção de um metaverso, um conceito amplo que se refere a espaços digitais que se tornam mais realistas com o uso de realidade virtual (RV) ou realidade aumentada (RA).
A nova holding de nome desconhecido (o The Verge cita o nome Horizon como uma possibilidade) seria responsável pelos dois segmentos diferentes. No documento, Mark Zuckerberg escreve: "Fizemos um bom progresso nesse trimestre e a nossa comunidade continua a crescer. Estou empolgado com o nosso roadmap, especialmente em relação a criadores, comércio e a construção do metaverso".
Segundo o diretor financeiro da empresa, David Wehner, o Facebook espera que o investimento na FLR, segmento que vai abrigar as operações de realidade virtual, reduza o lucro operacional geral de 2021 em aproximadamente US$ 10 bilhões. Atualmente, o Facebook tem mais de 10 mil funcionários focados na construção de hardwares como óculos de realidade aumentada. Na visão da empresa, esses dispositivos serão tão onipresentes quanto smartphones no futuro. Agora, expectativa é que Zuckerberg fale sobre a mudança na conferência Connect, marcada para esta quinta, 28.
A mudança foi bem recebida por investidores: após o fechamento do mercado, as ações da empresa subiram cerca de 4%. Mesmo com as perspectivas reduzidas e uma crise iminente, o valor da empresa não se abalou. "Tenho a impressão de que, qualquer que seja o movimento, ele tende a ser visto com bons olhos pelo mercado de ações. Não tenho muitas ilusões de que o mercado seja desconfiado com o Facebook", diz ao Estadão Paulo Rená, professor de Direito no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
"O Facebook está lidando com o maior dilúvio de mídia negativa que já enfrentou e certamente há mais por vir", disse Debra Aho Williamson, principal analista da empresa de pesquisas eMarketer. "Mas, por enquanto, o quadro de receita do Facebook parece tão bom quanto o esperado", disse ela.
Problemas no horizonte
A empresa registrou lucro melhor do que o esperado no terceiro trimestre, atingindo US$ 9,19 bilhões – crescimento de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a receita ficou abaixo da expectativa de analistas: o faturamento do Facebook no trimestre foi de US$ 29 bilhões, aumento de 35% ante 2020.
Em relação aos usuários, o Facebook manteve um crescimento estável de cerca de 12% nos últimos três meses em seus aplicativos, um aumento de 6% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, os apps registraram quase 3,6 bilhões de usuários mensais — acima da expectativa de 3,5 bilhões — mesmo em meio aos vazamentos slides que mostravam prejuízo aos usuários em detrimento do crescimento das redes.
"Milhões de pessoas usam nossos serviços porque temos as melhores soluções para as pessoas se conectarem. O motivo pelo qual o Facebook é deste tamanho é porque seguimos construindo e aprimorando os nossos serviços", afirmou Zuckerberg, no webcast da empresa para os investidores, transmitido depois da divulgação do balanço. Foi a primeira vez que o presidente do Facebook falou publicamente após o depoimento de Frances, que revelou documentos sobre o crescimento da empresa em detrimento da saúde mental de seus usuários.
A divisão "Outros" do Facebook, que inclui hardwares como o aparelho de realidade virtual Oculus, atingiu receita de US$ 734 milhões, um aumento de 195%, acima das expectativas de analistas, que eram de US$ 477 milhões.
Para o próximo trimestre, a companhia espera uma receita entre US$ 31,5 bilhões e US$ 34 bilhões – a expectativa de analistas é de US$ 34,8 bilhões. A empresa, porém, enfrenta uma crise após virem à tona denúncias feitas por Frances Haugen, ex-funcionária da empresa.
Na última sexta-feira, 22. Um consórcio chamado "Facebook Papers", formado por 17 veículos jornalísticos dos Estados Unidos, incluindo New York Times, CNN e Washington Post, começou a publicar detalhes de documentos vazados da companhia de Mark Zuckerberg.
Os arquivos mostram que o Facebook foi alertado por funcionários sobre a disseminação de desinformação e discurso de ódio antes das eleições americanas de 2020 e também em países como a Índia. Além disso, pesquisas internas da empresa revelam que os algoritmos da plataforma impulsionam conteúdos de movimentos conspiratórios como o QAnon. Outro documento revela como o Facebook está lidando com as consequências de ferramentas que se tornaram o DNA da rede social, como o botão "curtir".
No webcast voltado para investidores, Zuckerberg falou sobre os vazamentos divulgados pela imprensa e voltou a afirmar que as informações são "um esforço coordenado para selecionar documentos que construam uma imagem negativa" da empresa.
"A polarização começou a aumentar nos EUA antes de eu nascer. A realidade é que as redes sociais não são a principal causa desses problemas e provavelmente elas também não podem resolvê-los por si só", disse Zuckerberg. "Devemos desejar que todas as outras empresas em nosso setor façam os investimentos e alcancem os resultados que temos".
No trimestre que passou, o Facebook reconheceu problemas em relação à nova política da Apple de permitir que usuários escolham se os apps podem ou não rastrear suas atividades. Segundo o relatório, o impacto da decisão pode se estender também para o quarto trimestre da empresa. “Esperamos que a receita total do quarto trimestre de 2021 fique na faixa de US$ 31,5 bilhões a US$ 34 bilhões. Nossa perspectiva reflete a incerteza significativa que vamos enfrentar no quarto trimestre devido aos obstáculos impostos pelo iOS 14, da Apple, e mudanças e fatores macroeconômicos e relacionados a covid”.
Apesar do Facebook ter passado ileso em mais um trimestre em relação às novas regras da Apple, outros aplicativos já estão sentindo o baque. As ações da Snap, dona do Snapchat, despencaram 25% na última quinta-feira, 21, depois que as mudanças no iOS prejudicaram a capacidade da empresa de direcionar e medir sua publicidade digital.
Segundo Zuckerberg, que foi corroborado pela chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, as regras da Apple não afetaram apenas a empresa, mas "também os milhões de pequenos comerciantes que usam desse serviço".
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