Em meio à pandemia do coronavírus, milhões de consumidores estão usando serviços de comércio eletrônico para obter recursos básicos, como comida e produtos de higiene. Nos Estados Unidos, a Amazon está liderando esse processo, seja por sua loja online ou pelo mercado Whole Foods, comprado por ela em 2017. No entanto, a alta na demanda também tem afetado a força de trabalho da empresa, que começou a fazer manifestações, faltas e greves para demandar melhores medidas de proteção e pagamento, até por conta do alto risco que têm de contrair a doença ao irem trabalhar.
Na última segunda-feira, 30, um grupo de funcionários de um centro de distribuição da Amazon em Staten Island, uma das cinco grandes zonas de Nova York, deixou seu postos de trabalho porque disseram que a empresa não está fazendo o suficiente para protegê-los. Nesta terça-feira, 31, funcionários do Whole Foods em todo o país começaram a planejar um movimento de faltas por “doença”, pedindo à empresa que dobre o pagamento por hora oferecido aos trabalhadores, além de medidas de saúde.
As ações dos trabalhadores acontecem num momento em que muitos americanos estão “presos em casa” por semanas, graças a ordens de isolamento social instituídas por cidades e Estados. Isso fez os americanos, mais do que nunca, dependentes de serviços de entrega. No entanto, os trabalhadores reclamam de que as empresas estão colocando suas vidas em risco. Porta-vozes da Amazon e do Whole Foods, porém, discordaram das reclamações dos empregados.
Neste momento, empregados de ao menos 21 centros de distribuição e entrega da Amazon nos Estados Unidos tiveram testes positivos para a covid-19, doença causada pelo coronavírus, segundo a empresa e notícias de jornais locais. Ainda não está claro, porém, se as ações dos empregados de Staten Island afetaram as operações da companhia.
Os empregados da Amazon pediram à empresa que pagassem pelo tempo de licença médica necessário para quem se sinta doente ou precise se ausentar do trabalho para fazer quarentenas. Além disso, os trabalhadores também pediram que a empresa feche os centros de distribuição para limpeza onde tenham acontecidos casos de contaminação pelo novo coronavírus. No protesto da última segunda-feira, um cartaz fazia referência à assistente de voz da empresa. “Alexa, feche as portas e limpe o prédio.”
Demissão
Segundo Chris Smalls, trabalhador que liderou a manifestação, um grupo de 50 pessoas participou do protesto. Já a Amazon, que está contratando 100 mil pessoas para lidar com a alta na demanda por conta do coronavírus, disse que foram apenas 15 pessoas – ao todo, 5 mil pessoas trabalham no centro de distribuição. A empresa também refutou a ideia de que não está protegendo os trabalhadores, por meio de um posicionamento enviado por email.
No final do dia de trabalho, a Amazon demitiu Smalls, que trabalhava na empresa há cinco anos. Um gerente do centro disse a Smalls que seu contrato foi encerrado por violar uma quarentena, disse o funcionário, uma vez que ele tinha estado em contato com um colega que testou positivo para o vírus.
Segundo o empregado demitido, a Amazon não havia o avisado da quarentena até a tarde a segunda-feira. “Eles estão tentando me silenciar. É retaliação”, disse. Já a porta-voz da Amazon disse que Smalls foi mandado para casa, com pagamento e que sua decisão de vir até o centro de distribuição colocou outras pessoas em risco. “É inaceitável”, declarou a empresa. “Estamos ainda lutando para lidar com todas as dimensões do coronavírus e trabalhando duro para manter os empregados seguros.”
Na noite da segunda-feira, a advogada geral de Nova York, Letitia James, chamou a demissão de “vergonhosa” e pediu ao órgão regulatório de relações de trabalho para investigar o incidente. / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS
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