Gigantes da tecnologia perdem US$ 900 bilhões após ‘euforia’ com IA e crise nas Bolsas; entenda

Queda na bolsa de valores reflete temor com o retorno do investimento em IA e é puxada pela queda de valor da Nvidia

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Por Redação
Atualização:

As gigantes de tecnologia têm vivido dias de baixa, e um pouco de desespero, desde a última semana, quando as maiores empresas do setor registraram queda na Bolsa americana. Mesmo que tenham sido as maiores vencedoras na alta do mercado este ano, os membros do grupo conhecido como “Magnificent Seven” (“as sete magníficas”, em tradução livre), grupo que compreende a Amazon, Apple, Alphabet (dona do Google), Microsoft, Meta, Tesla e Nvidia, registraram nesta segunda-feira, 5, uma perda de valor de mercado de cerca de US$ 900 bilhões.

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O conjunto de empresas passou a maior parte de 2024 surfando em uma onda de prosperidade e ganhos, batendo recordes nos valores de mercado e fechando negócios bilionários, em grande parte devido ao frenesi em torno da tecnologia de inteligência artificial (IA).

Mas isso mudou no mês passado, quando investidores começaram a se preocupar com uma elevação exagerada dos seus preços. A alta fez com que as expectativas de ganhos de lucros se tornassem muito difíceis de serem atendidas, principalmente no que diz respeito à IA.

Euforia com IA aumentou os preços das ações das Big Techs, que enfrentam "ressaca" do mercado Foto: Charly Triballeau/CHARLY TRIBALLEAU

Com isso, a Apple caiu quase 5% nesta segunda-feira, impulsionada pelo anúncio da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que divulgou que havia reduzido sua participação acionária na fabricante do iPhone. A Berkshire Hathaway vendeu cerca de 390 milhões de ações apenas nestes primeiros meses do segundo semestre, o que cortou a participação de Buffett na Apple pela metade.

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Ainda na onda do conservadorismo com o investimento em IA, a Nvidia perdeu mais de US$ 238 bilhões em valor de mercado na última semana e as ações caíram quase 7% nesta segunda-feira. A Amazon fechou o dia com queda de 4%; a Alphabet, com baixa de 4,6%; a Microsoft, com encolhimento de 3,27%; e a Meta, com diminuição de 2,5% nos papéis. A Tesla, de Elon Musk, encerrou o pregão nesta segunda com retração de 4,2%.

O valor perdido pelas sete empresas juntas é de cerca de US$ 900 bilhões, de acordo com a agência de notícias Reuters, cerca de 6,5% do montante que o conjunto representa - considerado o fechamento da Bolsa americana nesta segunda-feira, 5, que resultou em pouco mais de US$ 14 trilhões em valor de mercado para as Magnificent Seven.

O mercado tem questionado a sustentabilidade dos números atuais

Matheus Popst, sócio da gestora Arbor Capital

Para Matheus Popst, sócio da Arbor Capital, um conjunto de fatores colabora para que a preocupação com o retorno financeiro em IA esteja se refletindo nas ações das Big Techs – a empolgação e a aposta em produtos futuros da tecnologia são a maior parte do temor.

“No mercado de tecnologia em específico, há crescentes preocupações a respeito do retorno no investimento do capital gasto em inteligência artificial”, afirmou Popst em entrevista ao Estadão. “O mercado tem questionado a sustentabilidade dos números atuais”.

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De acordo com o site americano The Information, é possível que a nova geração de GPUs da Nvidia, responsáveis pelo processamento de IA em computadores, atrase em até três meses. Isso poderia impactar toda a cadeia de desenvolvimento de IA pelo mundo, já que a empresa é a principal fornecedora de chips desse tipo.

Pânico nesta segunda-feira

Nesta segunda-feira, 5, os mercados em Wall Street e em todo o mundo estão em um minipânico. Preocupados com a desaceleração da economia dos EUA, os investidores levaram o mercado do Japão ao seu pior dia em décadas e cortaram bilhões em valor de mercado de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo. Eles viraram de cabeça para baixo um ano relativamente calmo nos mercados globais.

Durante a maior parte de 2024, investidores de todo o mundo levaram os mercados de ações a uma alta generalizada, convencidos de que os bancos centrais estavam conseguindo controlar a inflação, ainda que de forma hesitante, e estimulados por uma economia saudável nos EUA e pela promessa da inteligência artificial.

A Nvidia tem sido uma das ações mais quentes do setor de tecnologia, impulsionada pelo frenesi da IA. O valor de mercado da empresa aumentou de US$ 1 trilhão há um ano para US$ 2,43 trilhões, o que a torna mais valiosa do que a Alphabet e a Amazon. Mas seu aumento foi marcado pela volatilidade, já que os investidores oscilam entre o entusiasmo e o ceticismo em relação ao potencial da IA para gerar novos negócios - e agora, a empresa tem sido uma das responsáveis por puxar o mercado para baixo no setor.

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A janela competitiva da Nvidia é tão grande no momento que não acreditamos que um atraso de três meses causará mudanças significativas de participação

Stacy Rasgon, analista da Bernstein

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Líder na fabricação de chips de IA e atual símbolo do poder da tecnologia, a empresa juntou-se à Apple e à Microsoft em junho como umas das empresas que ultrapassaram o valor de US$ 3 trilhões. Stacy Rasgon, analista da Bernstein que acompanha a Nvidia, disse que não havia necessidade de pânico porque as empresas de computação em nuvem, como a Microsoft e a Amazon, continuavam a aumentar seus gastos com centros de dados de IA. Essa expansão significa que os chips da Nvidia estarão em demanda, disse ele.

“A janela competitiva da Nvidia é tão grande no momento que não acreditamos que um atraso de três meses causará mudanças significativas de participação”, disse Rasgon.

Mas a confiança foi afetada nos últimos dias. Os investidores estão ouvindo avisos de que as ações da Nvidia e de outras grandes empresas de tecnologia ficaram muito caras e que os gastos maciços com IA podem não se transformar em lucros por algum tempo. Leituras fracas sobre o mercado de trabalho, manufatura e construção na semana passada geraram preocupações sobre uma recessão nos EUA e críticas de que o Fed esperou muito tempo para reduzir as taxas.

“A premissa não dita é se que espera que os modelos fiquem substancialmente melhores. No caso de os engenheiros não conseguirem desenvolver essas novas versões ou, no mínimo, não conseguirem desenvolver tão rápido, as gigantes têm muita flexibilidade para usar as GPUs que já compraram para outros casos de uso. Elas vão ficar bem”, explica Popst. “No caso da Nvidia, isso pode ser prejudicial para a empresa e a ação. Não que a empresa possa quebrar, mas a Nvidia poderia ver sua receita e lucro cair substancialmente”. / COM NEW YORK TIMES E AP

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