Os últimos meses foram particularmente difíceis para as empresas do setor de tecnologia, que passam por ajustes após a bonança vista no período da pandemia de covid-19. Entre os mecanismos utilizados para cortar custos estão as demissões em massa, que se popularizaram em um setor conhecido por empregar milhares de pessoas.
Até o momento, cerca de 85,9 mil pessoas foram atingidas por demissões em massa em empresas de tecnologia dos Estados Unidos, segundo levantamento do Estadão. No Brasil, em startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão (denominadas “unicórnios”), o número é de 4 mil demitidos.
A empresa mais recente a anunciar cortes é a Dell, que revelou um plano de demitir cerca de 6 mil pessoas do seu quadro de funcionários. Os cortes seriam devido à queda de venda de aparelhos eletrônicos da marca e a alta nos juros.
Mas a alta dos números foi empurrada principalmente pela Amazon, que realizou três rodadas de demissões: na primeira, em novembro do ano passado, foram dispensadas 10 mil pessoas; enquanto em janeiro de 2023, mais 8 mil vagas foram fechadas na companhia e, em março, outras 9 mil vagas foram eliminadas.
Também em novembro de 2022, a Microsoft dispensou 10 mil pessoas e o Google anunciou a demissão de outros 12 mil funcionários. A Meta, holding do Facebook, Instagram e WhatsApp, demitiu 11 mil pessoas no mesmo mês e anunciou o corte de mais 10 mil funcionários em maio desse ano.
O Twitter fez um corte de cerca de 3,7 mil pessoas nos escritórios de todo o mundo, após o bilionário Elon Musk assumir o comando da companhia em novembro. Para o CEO da Tesla, a justificativa era menos relacionada à crise e mais relacionada à forma como o Twitter deve seguir a operação sob a nova gestão. Ainda assim, problemas na captação de receita em publicidade e menor número de usuários monetizáveis foram fatores importantes para justificar as demissões.
Além dessas companhias, nomes como Salesforce, Netflix e Apple também realizaram demissões no último ano. Veja a lista abaixo:
Em um comunicado interno no último dia 4, o Twitter informou seus funcionários individualmente sobre a função ocupada na empresa — e se o cargo tinha sido eliminado ou não. Ao todo, 3,7 mil pessoas foram demitidas após Elon Musk, novo presidente da companhia, confirmar a compra da plataforma no valor de US$ 44 bilhões. Segundo o Washington Post, o corte significa uma redução de 50% de seus cerca de 7,5 mil empregados.
“O Twitter está realizando uma redução da força de trabalho para ajudar a melhorar a saúde da empresa. Essas decisões nunca são fáceis e é com pesar que escrevemos para informar que sua função no Twitter foi afetada. Hoje é seu último dia de trabalho na empresa, no entanto, você permanecerá empregado pelo Twitter e receberá remuneração e benefícios até a data de separação de 2 de fevereiro de 2023″, dizia a carta enviada aos funcionários demitidos. Colaboradores no Brasil também foram afetados, embora não seja possível determinar um número no momento.
A Meta anunciou em novembro que estava eliminando cerca de 11 mil postos de trabalho na empresa em todos os escritórios do mundo.
Foram cortados 13% da companhia - esse não é apenas o maior corte da história da empresa fundada por Mark Zuckerberg como também é o maior corte já realizado por uma empresa de tecnologia na história. Ainda não há informações sobre o tamanho do corte nas operações brasileiras da companhia, mas é possível afirmar que áreas de marketing e recrutamento foram afetadas.
“Hoje estou compartilhando algumas das mudanças mais difíceis que fizemos na história da Meta. Decidi reduzir o tamanho de nossa equipe em cerca de 13% e dispensar mais de 11 mil de nossos talentosos funcionários. Também estamos tomando várias medidas adicionais para nos tornarmos uma empresa mais enxuta e eficiente, cortando gastos e estendendo a pausa nas contratações até o primeiro trimestre de 2023″, disse Zuckerberg em carta aos funcionários. Antes do corte, a companhia tinha um quadro de 87,3 mil funcionários em todo o mundo.
Apple
Para desacelerar o crescimento em meio a crise econômica que afeta as empresas no mundo todo em 2022, a Apple demitiu cerca de 100 funcionários da área de recrutamento de pessoas, afirmou a agência de notícias Bloomberg. A empresa já havia anunciado o movimento e começou a colocar em prática a redução do time.
De acordo com a Bloomberg, a empresa californiana disse aos funcionários que estava demitindo para alocar outras necessidades da empresa.
Netflix
Depois de perder assinantes pela primeira vez em 11 anos, a Netflix anunciou a demissão de cerca de 450 pessoas no primeiro semestre deste ano. Cortes em maio e junho de 2022 foram responsáveis por enxugar a empresa que vive trimestres de baixa.
Em junho, a empresa divulgou um comunicado lamentando os cortes. “Enquanto continuamos a investir significativamente em nosso negócio, nós fizemos ajustes para que os custos crescentes estejam alinhados com o nosso crescimento mais lento de receita”, afirmou a empresa, que conseguiu recuperar os 1,2 milhão de assinantes perdidos no primeiro semestre.
Microsoft
Em junho, foi a vez da Microsoft demitir parte do seu quadro de funcionários. A empresa não revelou quais foram as áreas afetadas nem a quantidade exata de funcionários que deixaram a companhia. Segundo a Bloomberg, porém, o número não chegou a 1% à época. Para comparação, 1% dos funcionários seriam, aproximadamente, 1,8 mil pessoas.
“Recentemente eliminamos um pequeno número de posições. Como todas as empresas, avaliamos nossas prioridades de negócios regularmente e fazemos ajustes estruturais de acordo com essas análises. Continuaremos a investir em nossos negócios e a aumentar o número de funcionários, em geral, no próximo ano”, afirmou a Microsoft em nota ao Estadão.
Em 18 de janeiro de 2023, mais 10 mil pessoas foram cortadas, anunciou em comunicado o presidente executivo da Microsoft, Satya Nadella. O CEO atribui as dispensas ao cenário macroeconômico: “Essas são os tipos de escolhas difíceis que fizemos em nossos 47 anos de história para continuar uma empresa nesta indústria que é imperdoável para quem não se adaptar a mudanças de plataformas”, disse em nota.
Tesla
A montadora Tesla demitiu cerca de 200 trabalhadores envolvidos com o sistema de piloto autônomo dos carros da marca americana, de acordo com a reportagem da agência Bloomberg. Os cortes afetam a aposta principal da montadora de veículos elétricos, que desenvolve maneiras de tornar seus carros autônomos.
As demissões foram concentradas em San Mateo, na Califórnia, onde a companhia de Elon Musk possui funcionários envolvidos com o sistema piloto autônomo, responsável por dar alguma autonomia aos carros da marca. Segundo a apuração da Bloomberg, esses funcionários treinavam a inteligência artificial da companhia com dados sobre tráfego, tarefa geralmente considerada mal-paga e pouco especializada.
Salesforce
A empresa de software Salesforce realizou duas rodadas de demissões nos últimos meses. De acordo com o site americano TechCrunch, a companhia demitiu cerca de mil funcionários em novembro passado, mas a companhia nunca confirmou o número.
À época, a Salesforce afirmou que o “desempenho de vendas” da empresa precisa ser olhado com responsabilidade e que a performance pode levar a companhia a fazer cortes de funcionários no processo. “Nós estamos apoiando (os funcionários demitidos) durante a transição”, afirmou a companhia para o canal americano CNBC.
Em 4 de janeiro, uma nova rodada de demissões foi anunciada pelo presidente executivo da Salesforce, Marc Benioff. Ao todo, a companhia cortou 10% da força de trabalho global, equivalente a 7 mil pessoas. Nas projeções da firma, as demissões devem gerar multas entre US$ 1,4 bilhão e US$ 2,1 bilhões para a Salesforce.
“O ambiente permanece desafiador e os nossos clientes estão sendo mais cautelosos em suas decisões de compras”, escreveu Benioff. “Quando nossa receita acelerou durante a pandemia, contratamos muita gente e entramos nessa baixa econômica. Eu assumo a responsabilidade”, completou.
Amazon
A Amazon também foi uma das empresas que fez mais de uma rodada de demissões em massa neste.
Em novembro, a gigante do varejo despediu 10 mil funcionários de todos os escritórios da empresa. Em e-mails acessados pelo jornal americano Washington Post e pelo site Business Insider, colaboradores foram convocados para reuniões com gestores da Amazon.
Na reunião, funcionários demitidos foram informados de que teriam 60 dias para se realocarem em vagas da própria empresa e, caso não fosse possível ocupar outro cargo interno, a Amazon ficaria responsável por pagar um período de salário. Ainda não foi possível saber quantos meses benefícios seriam oferecidos pela empresa.
Em 5 de janeiro, a empresa realizou outra rodada de demissões, desta vez afetando 8 mil pessoas em todo o mundo, no que foi considerado uma extensão da previsão de cortes do mês de novembro. Segundo o CEO Andy Jassy, o comunicado foi antecipado após um ex-funcionário vazar a notícia para a imprensa.
Jassy também destacou que a administração da empresa estava “profundamente ciente de que esses cortes de empregos são difíceis para as pessoas e não tomamos essas decisões levianamente”. “Estamos trabalhando para apoiar os afetados e oferecer pacotes que incluem indenização, seguro médico temporário e ajuda externa para encontrar trabalho”, acrescentou.
Em março de 2023, a companhia adicionou mais 9 mil cortes de funcionários na operação. A informação foi confirmada pelo presidente da empresa em um comunicado. Ao todo, as demissões na gigante do varejo chegaram a 27 mil funcionários.
No final de setembro de 2022, a Amazon possuía 1,54 milhão de funcionários em todo o mundo, sem incluir trabalhadores sazonais que atuam em períodos de maior atividade, especialmente durante as férias de fim de ano.
A Alphabet, controladora do Google, anunciou em janeiro que planeja eliminar 12 mil empregos, reduzindo seu quadro de funcionários em aproximadamente 6%. O corte pode ser o maior da história da empresa e coloca a companhia ao lado de outras gigantes de tecnologia que fizeram demissões em massa, como Meta , holding do Facebook, Microsoft e Amazon.
Em um email para os funcionários, Sundar Pichai, presidente do Google, assumiu total responsabilidade pelas demissões e afirmou que a empresa está em um momento de “escolhas” e, por isso, precisa reestruturar as posições de trabalho. Pichai citou os investimentos em inteligência artificial (IA) como uma oportunidade de guiar a companhia para tempos melhores.
“Realizamos uma revisão rigorosa em todas as áreas e funções de produtos para garantir que nosso pessoal e funções estejam alinhados com nossas maiores prioridades como empresa. As funções que estamos eliminando refletem o resultado dessa revisão. Eles atravessam a Alphabet, áreas de produtos, funções, níveis e regiões”.
IBM
A empresa IBM de tecnologia anunciou no dia 26 de janeiro de 2023 que vai demitir cerca de 3,9 mil funcionários. Os cortes representam 1,4% do quadro total de 280 mil empregados.
Os motivos para as demissões teriam sido o baixo crescimento da receita da empresa em 2022 e, também, o não cumprimento da meta anual de vendas.
Paypal
A gigante de pagamentos online, Paypal, no dia 31 de janeiro de 2023, também anunciou que vai realizar demissões. O número de demitidos seria de 2 mil, que representa cerca de 7% da força de trabalho total da empresa.
O chefe-executivo da companhia, Dan Schulman, teria dito na última terça-feira que a empresa chegou a fazer progresso em redimensionar sua estrutura de custos, mas que há “mais trabalho a ser feito”.
Dell
A Dell, de tecnologia, anunciou no início de fevereiro de 2023 que vai demitir cerca 5% da sua força de trabalho, o que representa aproximadamente 6,6 mil empregos. Jeff Clarke, codiretor de operações da Dell, afirmou que interrompeu contratações, impôs limites às viagens de empregados e reduziu gastos com serviços externos, mas tudo isso não foi o suficiente.
Os motivos das demissões seriam, principalmente, o aumento dos juros e a queda nas vendas de dispositivos eletrônicos. Dados da consultoria IDC demonstram que a empresa teve queda de 37% nas vendas de PCs e computadores em 2022 em relação ao mesmo período de 2021 e, segundo a Boomberg, 55% da receita da empresa viria da venda desses aparelhos.
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