Um juiz federal dos Estados Unidos declarou na segunda-feira 5 que o Google violou a lei americana para prejudicar a concorrência na pesquisa na Web de forma a consolidar o poder da empresa. As próximas etapas, que envolvem a proposta de correções legais para desfazer o comportamento do Google, consistem essencialmente em imaginar um futuro alternativo no qual o Google não seja o Google como o conhecemos hoje.
Essa foi a segunda vez que a Justiça declarou o Google um monopólio ilegal. A vez anterior foi sobre como o Google administra sua loja de aplicativos nos celulares Android.
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O jornal americano Washington Post elencou o que pode ser o futuro do Google, caso a decisão não seja anulada por uma corte superior. Trata-se de uma especulação fundamentada. Também é possível que nada mude de fato. Foi o que aconteceu depois que se descobriu que o Google violou as leis antimonopólio da União Europeia.
O governo dos EUA deve agora propor ao juiz Amit Mehta, quem decretou a sentença de segunda-feira passada, maneiras de restringir as ações do Google para firmar seu monopólio. Isso pode levar anos para ser resolvido. No caso da loja de aplicativos, um juiz decidirá em breve como o Google deve alterar seu status quo ilegal.
O Google disse que planeja recorrer da decisão de segunda-feira e que está “focado em criar produtos que as pessoas considerem úteis e fáceis de usar”. Um porta-voz do Google se recusou a discutir especulações sobre o que acontecerá em seguida.
1. Google vai ter de revelar seu ‘molho secreto’
É possível que o Google seja forçado a permitir que outras empresas acessem sua tecnologia de pesquisa ou seus dados essenciais para criar mecanismos de pesquisa com a capacidade técnica do Google, mas sem o Google.
Você poderia imaginar que uma empresa pegasse o “molho secreto” do Google e o ajustasse para criar um mecanismo de busca adequado para crianças, sugeriu Matt Stoller, diretor de pesquisa do American Economic Liberties Project e um crítico frequente do poder das grandes empresas de tecnologia. Outra empresa poderia priorizar sites que cuidam de sua privacidade. Outra poderia mostrar as pesquisas de uma forma visual em primeiro lugar.
“Veremos as inovações da humanidade surgirem”, disse Stoller.
Permitir que mil mecanismos de pesquisa do tipo Google floresçam é provavelmente a ideia que os críticos do Google mais abraçaram. Mas, mesmo que o governo solicite e Mehta concorde, talvez não funcione.
Houve e há outros mecanismos de busca, incluindo o Bing, da Microsoft, o DuckDuckGo, voltado para a privacidade, e o Neeva, criado por um ex-executivo sênior do Google. O DuckDuckGo e o Bing não são nem de longe tão populares ou lucrativos quanto o Google. O Neeva foi pouco utilizado e encerrado este ano.
A questão que poderá ser testada é: se o Google for forçado a compartilhar a proeza de pesquisa que o juiz disse ter obtido ilegalmente, os rivais poderão criar mecanismos de pesquisa mais atraentes?
2. Apple cria um mecanismo de busca rival
O Google paga à Apple muitos bilhões de dólares por ano (foram US$ 20 bilhões em 2022) para tornar o Google a opção padrão de pesquisas no navegador Safari, disponível nos celulares e computadores da marca.
É uma situação de ganha-ganha para as duas companhias. Esse acordo dá ao Google acesso a pesquisas valiosas de proprietários de dispositivos Apple e garante à Apple muito dinheiro.
Megan Gray, especialista em leis antitruste da GrayMatters Law & Policy e crítica do poder do Google, disse que o juiz poderia alterar significativamente ou encerrar os acordos do Google com a Apple e com as empresas que colocam a pesquisa do Google em primeiro plano nos telefones Android e nos navegadores da Web.
O cenário mais provável é que você precise escolher se quer usar o Google no seu iPhone ou em outro dispositivo. Mas tecnólogos e analistas de ações também especulam há anos que a Apple poderia criar seu próprio mecanismo de busca. Seria como quando a Apple criou, em 2012, o Apple Maps como uma alternativa ao Google Maps.
A Apple não respondeu a um pedido de comentário.
3. Preços de produtos e serviços podem cair
Mehta disse que o Google tem o poder de cobrar preços artificialmente altos pelos anúncios de texto que você pode ver ao pesquisar termos como “cotações de seguro de automóvel em Minneapolis”.
Em teoria, se os mecanismos de pesquisa alternativos se tornarem populares, haverá mais concorrência e preços mais baixos para os provedores de seguros e outras empresas que tentam chamar sua atenção quando você faz uma pesquisa.
E, novamente, em teoria, se eles pagarem menos pela publicidade, o seguro de carro e outros produtos que você compra poderão ser mais baratos.
4. Google pode ser dividido em pequenas empresas
Essa parece improvável, mas o governo poderia pedir ao juiz que dividisse o Google em partes para corrigir seu poder de monopólio ilegal. Nesse cenário, o navegador Chrome poderia ser sua própria empresa, assim como o Google Search e o Android, por exemplo.
Stoller disse que, quando corporações como a Standard Oil e a AT&T foram forçadas a se dividir em decisões anteriores de monopólio ilegal, as empresas componentes foram liberadas para apresentar ideias inteligentes que não tinham chance dentro da corporação gigante.
5. Google pode perder acesso a dados de usuários
Jason Kint, CEO do grupo de lobby de notícias online Digital Content Next, disse que os vários produtos do Google não deveriam mais ter permissão para combinar informações sobre o que você faz. Seria basicamente um divórcio dos produtos do Google sem desmembrar a empresa.
Isso poderia significar, por exemplo, que tudo o que você fizesse em seu telefone Android ou os sites que visitasse usando o Chrome não alimentariam um repositório gigante do Google sobre suas atividades e interesses.
Se o Google tivesse menos informações, isso poderia ser melhor para sua privacidade e poderia ajudar outras empresas, inclusive organizações de notícias que não têm a riqueza de dados do Google.
6. Afrouxar a loja de apps do Android
O juiz do outro caso de monopólio do Google pareceu receptivo a afrouxar o poder absoluto da empresa sobre os aplicativos.
Isso pode significar que você poderá comprar um e-book do Kindle, da Amazon, pelo aplicativo Android, o que não é possível fazer agora. Jogos como o Fortnite, que não estão disponíveis nos telefones Android, também poderão ficar disponíveis.
Em uma recente audiência no tribunal, o juiz também pareceu aberto a reduzir as taxas que o Google cobra quando o usuário compra assinaturas digitais de produtos como Disney Plus, Match.com ou X a partir de aplicativos Android. Isso poderia se traduzir em preços mais baixos para as coisas que você compra nos aplicativos.
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