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Google: Veja os principais pontos do processo que considerou a empresa um monopólio nas buscas

Gigante da tecnologia firma contratos de exclusividade com parceiras e mina inovação nas concorrência, diz sentença

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Foto do author Bruna Arimathea
Foto do author Guilherme Guerra

O Google foi considerado uma empresa monopolista no segmento de buscas online pela Justiça americana na semana passada, dando fim a um processo aberto em 2020 pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A decisão, que vai ser apelada pela empresa em instância superior, pode mudar o futuro da companhia

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A decisão, assinada pelo juiz americano Amit P. Mehta, do tribunal distrital dos EUA para o distrito de Columbia, em um processo de 277 páginas, afirma que a gigante de tecnologia construiu sua dominância no mercado de buscas online firmando contratos exclusivos com outras companhias (como a Apple e Samsung), o que prejudicou rivais do mesmo segmento, na avaliação da Justiça americana.

Essas parcerias permitiram que, ao comprar um novo celular ou baixar um novo navegador, o usuário não precisasse optar entre o buscador do Google ou o de um rival, como o Bing (da Microsoft) ou DuckDuckGo. Assim, continua o argumento, a empresa teria se consolidado como a principal em buscas digitais, da qual, hoje, tem mais de 90% da participação do mercado mundial.

“O Google é um monopolista e tem atuado como tal para manter o seu monopólio”, escreveu Mehta na sentença.

Agora, a corte americana deve decidir quais os “remédios” devem ser aplicados para conter o comportamento monopolista da gigante da tecnologia. Essa sentença pode levar meses, ou até anos, para ser definida – e pode incluir a divisão da empresa em pequenas firmas.

Para o Google, a alta relevância do serviço não é resultado do monopólio do mercado, e sim da preferência do público pelo produto. Em defesa, a empresa afirma que investiu no desenvolvimento da ferramenta e que, por isso, alcançou o status no setor.

“O Google não alcançou o domínio do mercado por acaso. Ela contratou milhares de engenheiros altamente qualificados, inovou de forma consistente e tomou decisões comerciais astutas. O resultado é o mecanismo de pesquisa da mais alta qualidade do setor, que conquistou para o Google a confiança de centenas de milhões de usuários diários”, defende a empresa no processo.

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Abaixo, leia os principais destaques do processo.

Google foi considerado uma empresa monopolista pela Justiça americana Foto: Jason Henry/NYT

Onze empresas recebem o pagamento do Google

Um dos pontos principais do processo leva em consideração os acordos de distribuição do buscador do Google para outras empresas. Segundo o documento da decisão, onze empresas (que incluem fabricantes de celular, desenvolvedoras de navegadores e telecomunicações) têm acordo com a gigante de tecnologia para usar seu buscador. São elas:

  • Apple (Safari);
  • Mozilla (Firefox);
  • Opera;
  • UCWeb
  • S Browser (navegador da Samsung)
  • Samsung;
  • Motorola;
  • Sony;
  • AT&T;
  • Verizon;
  • T-Mobile;

Para que essas empresas utilizassem o Google como mecanismo de pesquisa padrão, a gigante tem desembolsado mais de US$ 20 bilhões anuais em média, considerando os últimos anos. Segundo o documento, em 2021, o valor pago para as parceiras foi de US$ 26,3 bilhões.

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Ao todo, no ano de 2022, apenas a Apple ficou com uma fatia de US$ 20 bilhões para colocar o buscador no Safari, seu navegador nativo. No ano anterior, a organização sem fins lucrativos Mozilla recebeu US$ 400 milhões para ter o mecanismo de pesquisa em seu navegador Firefox, valor que representou 80% do orçamento operacional da empresa em 2021.

Apple ganha US$ 20 bilhões ao ano do Google

A cifra mais chocante do processo é o quanto a Apple recebe para colocar o buscador do Google como favorito do iPhone e outros produtos da marca: cerca de US$ 20 bilhões ao ano. A parceria teve início em 2016 e foi renovada em 2021, com validade para durar até 2026.

Esse valor entra como “receita com publicidade” no balanço da Apple e é uma parte significativa do quanto a companhia gera anualmente, que foi US$ 316 bilhões em 2022.

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Além disso, os US$ 20 bilhões representam mais de 75% do quanto o Google desembolsa em contratos de exclusividade com as empresas de tecnologia parceiras.

Apple recebe cerca de US$ 20 bilhões ao ano para colocar o Google como navegadão padrão dos dispositivos da marca Foto: Jeff Chiu/AP

Pagou US$ 26 bilhões, gerou US$ 146 bilhões

Os contratos de exclusividade firmados pelo Google forçaram a companhia a desembolsar cerca de US$ 26 bilhões anualmente para outras empresas de tecnologia. O valor é alto, mas a companhia reportou US$ 146 bilhões gerados com receita publicitária em 2021, mais do que o triplo do que foi gerado em 2014 (de US$ 41 bilhões). O Bing, por sua vez, registrou US$ 12 bilhões no mesmo período.

Mais usuários significam mais anunciantes, e mais anunciantes significam maior receita

Amit P. Mehta, juiz do caso Google

“Os contratos de distribuição beneficiam o Google de uma maneira importante”, escreveu o juiz Mehta na sentença. “Mais usuários significam mais anunciantes, e mais anunciantes significam maior receita”.

Até 95% do mercado de buscas

O juiz Mehta também concluiu que a empresa se beneficia da amplitude de produtos utilizando o buscador do Google como padrão. Isso porque, de acordo com a decisão, mesmo com a opção de trocar o mecanismo de busca nas configurações dos dispositivos, a maioria dos usuários não o fazem - é mais fácil utilizar o buscador já configurado nos aparelhos.

Em dispositivos móveis, cerca de 95% das buscas feitas pelo usuário são por meio do Google – esse porcentual é igual no iPhone. No mercado total, considerando outros dispositivos, o Google controlava cerca de 90% de todas as pesquisas nos EUA em 2020.

A decisão cita que o Microsoft Bing, buscador da empresa criada por Bill Gates, fica com apenas 6% das pesquisas na internet - sendo o maior concorrente do Google no setor. Outros mecanismos, como Yahoo e Duck Duck Go, ficam com pouco mais de 5% das pesquisas no mesmo período.

Anticoncorrência

O documento afirma que o Google está em uma espécie de retroalimentação de dados de usuários, que permite que o tráfego no buscador seja constante e elimine o volume de acessos de outros buscadores. Na prática, quanto mais usuários usam a pesquisa do Google, mais dados a empresa recolhe e mais insumos ela tem para alimentar seu produto - o que faz que ela se torne mais relevante diante dos outros buscadores.

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Isso só é possível pelo investimento feito pelo Google na distribuição do buscador em outras plataformas e navegadores - como os US$ 26,3 bilhões pagos à outras companhias em 2021. Sem esse investimento, os outros buscadores não conseguem alcançar uma fatia mínima de volume de buscas para alcançar o Google, tornando a gigante de tecnologia um dominante do setor.

Custo de entrada nesse mercado é alto

O juiz Mehta afirma que manter uma ferramenta de buscas exige um custo bilionário para uma companhia que deseja adentrar esse mercado.

O processo deixa registrado que o Google desembolsou US$ 8,4 bilhões em 2020 para manter o buscador online. Os maiores gastos são com processamento de nuvem, para onde são “enviados” os pentabytes de dados dos usuários, que posteriormente são utilizados para treinar o algoritmo.

Ainda, Mehta afirma que utilizar modelos de inteligência artificial (IA) encarecem ainda mais a manutenção de um buscador desse tipo – algo em que o Google vem investindo desde a chegada do ChatGPT, da OpenAI, em novembro de 2022.

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Além da análise geral do monopólio de buscas, o processo também incluiu a ação do Google no mercado anunciante dentro do mecanismo de pesquisa. Por conta da relevância no setor, a empresa poderia alterar o preço de seus anúncios em uma margem que vai de 5% a 20%, sem considerar o quanto está sendo cobrado por seus concorrentes, afirmou o documento.

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