LAS VEGAS - O momento atual é bastante fértil para qualquer empresa que esteja trabalhando com inteligência artificial (IA) : com a tecnologia em alta, é quase impossível encontrar quem não abrace a ideia ou que esteja, de alguma forma, tentando embutir o conceito dentro de seus produtos. As IAs, porém, não seriam nem tão desenvolvidas nem teriam tido um avanço tão rápida se não fossem os processadores que permitem com que diversos programas deem vida à tecnologia. E enquanto a Nvidia se mantém como líder do mercado, a edição deste ano da Consumer Electronics Show (CES), maior feira de tecnologia do mundo, mostrou uma nova trincheira na guerra dos chips para IA.
Durante o evento em Las Vegas, Nvidia, Intel, AMD e Qualcomm apresentaram um total de 15 novos chips, mirando nas várias demandas de IA - desde o Blackwell, um super processador da empresa de Jensen Huang voltado para data centers, até o Snapdragon, voltado para computadores pessoais compatíveis com o assistente Copilot, da Microsoft. O destaque de fabricantes de componentes é um desfile pouco comum para uma feira que sempre foi palco de eletrônicos de consumo.
E existe um motivo para a disputa ser tão acirrada: a inteligência artificial nunca cresceu tanto e tão rapidamente como agora. As demandas por chips, que possam equipar máquinas para o processamento de dados, estão em alta e empresas como Meta, Google e Microsoft, algumas das gigantes que estão com a produção de chips de IA a todo vapor, ainda não conseguem sustentar a sua tecnologia apenas com os chips que produzem dentro de casa.
Mais CES
“A internet está produzindo cerca de duas vezes mais dados por ano do que no ano passado”, disse Huang, durante sua apresentação em Las Vegas, em que o Estadão esteve presente. “Acho que nos próximos dois anos, a humanidade produzirá mais dados do que toda a humanidade já produziu desde o início.”
Enquanto o ChatGPT foi lançado há apenas pouco mais de dois anos - e todos ficaram impressionados com a capacidade de conversar com um robô que tinha resposta para tudo - a próxima conversa no setor já passa por agentes de IA, que podem fazer tarefas sem a necessidade de supervisão humana, e uma nova era de robôs que pode, finalmente, chegar à casa das pessoas. Tudo isso vai exigir chips com capacidade ainda mais complexa de raciocínio.
“A cada dois meses você vê novos recursos sendo explorados. Espero que essa tendência continue porque há muito potencial, seja para melhorar a qualidade de vida, reduzir custos, há muitas coisas que podem ser feitas com isso”, afirmou Jason Banta, vice-presidente da AMD, em entrevista ao Estadão.
Mercado
Ainda é impossível comparar empresas do setor com a Nvidia, que hoje possui uma fatia que chega aos US$ 113 bilhões, de acordo com a consultoria financeira Arbor Capital. Isso representa mais de 80% do mercado de chips de IA.
Mas outros segmentos estão surgindo para tentar ocupar o mercado. O setor chamado AI PC ganhou força na CES, representando o investimento em processadores de IA específicos para computadores pessoais. Em especial, aqueles que podem ser comercializados para o consumidor final, já que muitos deles focam em otimizar o funcionamento do Copilot, IA da Microsoft.
Nessa aposta, por exemplo, AMD, Intel e Qualcomm anunciaram produtos para suprir essa demanda. Os computadores com chips dedicados ao processamento de IA no Windows - as GPUs (unidades de processamento gráfico) e NPUs (unidades de processamento neural) - chegam com preços que podem competir com outros produtos, com valores que começam pouco abaixo dos R$ 4 mil.
É uma barreira que transforma a forma como a IA é vista, também, no consumo. Em vez de apenas chips caros e ultra especializados para gigantes de tecnologia, as empresas trazem o benefício também para as mãos do consumidor final em um momento em que os usuários estão aprendendo que também podem trabalhar com IA em pequenas tarefas do dia a dia.
Fabricantes como HP, Dell, Asus e Lenovo já procuram essas empresas para equipar seus próprios computadores. Esse apelo mantém o mercado girando e possibilita que outras empresas possam oferecer parcerias que aumentem sua participação na bilionária economia dos chips de IA.
Além disso, as fabricantes de chips miram os grandes investimentos previstos por governos de todo o mundo. A União Europeia tem plano de US$ 46,3 bilhões para expandir a capacidade de fabricação local de chips. O objetivo é dobrar a produção do bloco para 20% do mercado global até 2030. No ano passado, a Índia aprovou investimentos no valor de US$ 15,2 bilhões em fábricas de semicondutores. O Japão vai investir US$ 25,3 bilhões em um projeto para a produção de semicondutores lançado em 2021.
Por fim, nos EUA, mais de 600 empresas estão de olho num programa do governo que vai investir US$ 39 bilhões na produção local de chips. E a China tem um plano de US$ 142 bilhões de investimentos no setor, uma estratégia que já prevê sanções americanas no setor e busca contornos para isso.
*A repórter viajou a convite da Consumer Technology Association (CTA), organizadora da CES