Muito antes de Elon Musk assumir o controle, o Twitter já se destacava entre as principais redes sociais por sua tolerância à pornografia. Nesta semana, a plataforma, agora chamada de X, atualizou suas políticas para permitir “nudez ou comportamento sexual adulto produzido e distribuído de forma consensual”, desde que devidamente identificado no momento do compartilhamento.
Esses novos rótulos de “Conteúdo adulto” aparecerão como um aviso de conteúdo no qual as pessoas terão que clicar para ver a publicação. Os usuários menores de 18 anos ou que não fornecerem sua data de nascimento ao X não poderão visualizá-la, e aqueles que não quiserem visualizar o conteúdo poderão ajustar suas configurações.
A medida não é tanto uma mudança de política, mas um sinal de que a X vê o conteúdo adulto como uma oportunidade de negócios.
Embora o X tenha se recusado a comentar as alterações, a conta de segurança da empresa postou na terça-feira, 4, que está em processo de atualização e esclarecimento de muitas de suas páginas de ajuda. “A intenção dessas atualizações não é mudar nossa aplicação, mas tornar nossas regras mais claras para todos”, disse a conta.
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“A maioria das plataformas prefere manter diretrizes confusas para o conteúdo (adulto) ou evitar o assunto por completo, e o X merece crédito por esclarecer sua política”, diz Nu Wexler, sócio da consultoria Four Corners Public Affairs e ex-funcionário de comunicações de políticas do Twitter, Facebook e Google.
“Eles ainda precisam aumentar a fiscalização contra conteúdo ilegal”, como material de abuso sexual infantil e pornografia não consensual, acrescentou. “Mas esse anúncio poupará tempo com os formuladores de políticas que não sabem que a nudez sempre foi permitida no Twitter e no X.” Talvez o mais importante seja o fato de a nova política sinalizar aos criadores de conteúdo adulto que “o X está aberto para negócios”.
Inclinar-se para o conteúdo adulto pode ser uma maneira de o X se diferenciar de seus rivais mais próximos na batalha para atrair criadores.
Tradicionalmente, ele tem sido a única grande rede social que permite que profissionais do sexo e outros artistas que retratam a nudez compartilhem seu trabalho sem censura. A Meta, por exemplo, retirou as contas de profissionais do sexo quando considerou que suas fotos ultrapassaram o limite do sensual para o sexual. Isso tornou o X popular como um outdoor para criadores de conteúdo adulto que anunciam seu trabalho em outros lugares, como no OnlyFans.
As redes sociais podem ser um ambiente precário para profissionais do sexo e criadores de conteúdo adulto, afirma Brooke Erin Duffy, professora da Universidade de Cornell, que está trabalhando em um livro sobre a economia dos criadores e influenciadores. “Eu estava conversando com uma criadora de conteúdo que tinha 4 milhões de seguidores no Instagram e de uma hora para outra ela poderia ficar sem acesso à sua conta por meses. Isso afeta fundamentalmente sua capacidade de seguir suas carreiras.”
Com as redes sociais mirando cada vez mais influenciadores e criadores como a chave para crescimento, o X pode ver uma oportunidade de cortejar um grupo que foi marginalizado em outros lugares, diz Duffy.
A empresa também pode tentar monetizar diretamente o conteúdo adulto.
No passado, houve indícios de que Musk estava de olho em vídeos adultos pagos como uma possível fonte de receita.
Grandes sites de entretenimento adulto recebem mais tráfego mensal do que a Amazon, a Netflix ou o TikTok, segundo uma análise acadêmica. E esse público está disposto a pagar: Os criadores do OnlyFans, por exemplo, arrecadaram US$ 5,5 bilhões em 2022.
Mas entrar no negócio de conteúdo adulto também traz riscos. O site The Verge informou em 2022 que o Twitter estava planejando um concorrente para o OnlyFans, mas acabou descartando o projeto em meio a preocupações sobre sua capacidade de moderar material de abuso sexual infantil.
Profissionais do sexo são céticas
Desde a aquisição do Twitter por Musk, algumas profissionais do sexo viram o número de seu público estagnar, diz a artista adulta Jenna Starr, que compartilha conteúdo com quase meio milhão de seguidores. Sua conta não aparece nos resultados de pesquisa, afirma ela, o que ela atribui a um banimento não oficial.
A artista adulta Lana Smalls, 23, diz que a mudança provavelmente não criará mudanças significativas para os profissionais do sexo que dependem da plataforma para direcionar o tráfego para espaços monetizados como OnlyFans ou PornHub.
“Sempre publicamos pornografia no Twitter”, diz ela. “Se eles nos desbloquearem e permitirem que (profissionais do sexo) monetizem suas contas, isso seria um passo na direção certa, mas considerando as promessas passadas que o X/Twitter fez com a remoção de bots e a liberdade de expressão, não espero que muita coisa mude.”
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