Zuckerberg é de direita? É de esquerda? Qual a relação dele com Trump?

Após as eleições presidenciais americanas, CEO da Meta fez uma série de escolhas para reestabelecer a relação com o presidente eleito dos Estados Unidos

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Por Redação
Atualização:

A recente decisão de encerrar a moderação de conteúdo e o sistema de checagem de fatos nas plataformas da Meta, como Facebook e Instagram, reacendeu os debates uma reaproximação entre Mark Zuckerberg, CEO da Meta, e Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos. Essa política, que visava reduzir a disseminação de desinformação nas redes sociais, agora dá lugar a um discurso de liberdade de expressão absoluta.

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“É hora de voltarmos às nossas raízes em relação à liberdade de expressão”, afirmou Zuckerberg. Sobre o sistema atual de checagem de fatos, ele afirmou que “chegou a um ponto em que há muitos erros e muita censura”.

A mudança segue uma tendência iniciada pelo X (antigo Twitter), ao implementar as chamadas “Notas da Comunidade”, permitindo que os próprios usuários – e não checadores de fatos especializados – adicionem correções a publicações potencialmente falsas ou enganosas. Zuckerberg, ao citar seu concorrente, reforça um alinhamento ideológico com Elon Musk e Trump.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta Foto: Andrew Caballero-reynolds/AFP

Direita ou esquerda?

A checagem de fatos nas plataformas da Meta foi introduzida após as eleições presidenciais dos EUA de 2016, quando a desinformação nas redes sociais foi apontada como uma ameaça à democracia. Na época, o Facebook enfrentou críticas por permitir a disseminação desenfreada de informações falsas. Assim, a política de moderação atendia aos apelos especialmente de pessoas progressistas, comumente alinhadas mais à esquerda. Agora, em um pronunciamento em vídeo, Zuckerberg afirmou que os checadores responsáveis pela moderação das plataformas da Meta eram “muito enviesados politicamente” e que “destruíram mais confiança do que criaram, especialmente nos EUA”. Dessa vez, o discurso do CEO é mais alinhado à direita.

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Nos últimos anos, Zuckerberg parecia tentar se posicionar como “neutro” politicamente. Em conversas com amigos, colegas, executivos e consultores, ele expressou seu cinismo em relação à política, segundo reportagem do New York Times. Ele e outras pessoas do alto escalão da Meta diziam que ambos os partidos dos EUA (Democratas e Republicanos) detestavam a tecnologia e que tentar continuar a se envolver com causas políticas seria pior para a empresa.

Zuckerberg agora considera sua política pessoal mais parecida com o “liberalismo clássico”, de acordo com pessoas que falaram com ele recentemente, afirma a reportagem. Isso inclui uma hostilidade às regulamentações que restringem os negócios, além da defesa de mercados livres e de uma abertura para reformas de justiça social - mas somente se isso não atingir o que ele considera “progressismo de extrema esquerda”.

A postura atual do CEO difere de seus esforços passados, quando suas escolhas o poderiam colocar no espectro mais progressista. Em 2013, o executivo ajudou a fundar e se tornou o rosto da organização de defesa política Fwd.US, cujo objetivo era ajudar a criar um caminho para a cidadania de imigrantes sem documentos.

Dois anos depois, inspirando-se em Bill Gates, Zuckerberg e Priscilla Chan, sua esposa, criaram a Iniciativa Chan Zuckerberg, uma organização filantrópica que investiu US$ 436 milhões em cinco anos em questões como a legalização de drogas e a redução do encarceramento.

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Em 2015, Zuckerberg e Priscilla escreveram uma carta para a filha recém-nascida, sonhando com um mundo igualitário em que pudessem “eliminar a pobreza e a fome”, “oferecer a todos assistência médica básica” e “cultivar relacionamentos pacíficos e compreensivos entre pessoas de todas as nações”. Ele contratou um ex-conselheiro importante de Obama (democrata), David Plouffe, para supervisionar o trabalho.

Zuckerberg está registrado para votar no Condado de Santa Clara, Califórnia, mas não se identifica como filiado ao Partido Republicano, Democrata ou qualquer outro partido, informou o The Wall Street Journal. “Acho difícil me filiar a um partido democrata ou republicano. Sou a favor da economia do conhecimento”, disse em setembro de 2016. Naquele pleito, a Meta gastou US$ 517 mil para apoiar diferentes candidatos. No total, 56% foram para os republicanos e 44% para os democratas.

“Zuckerbucks”

Após a eleição de 2020, Zuckerberg e Priscilla foram criticados por doarem US$ 400 milhões para o Center for Tech and Civic Life, uma organização sem fins lucrativos, para ajudar a promover a segurança nas cabines de votação durante a pandemia, afirma a reportagem do New York Times.

Zuckerberg e Priscilla consideraram suas contribuições como um esforço apartidário. No entanto, os conservadores as consideraram como um incentivo aos democratas. As doações passaram a ser conhecidas como “Zuckerbucks” nos círculos republicanos. Os conservadores, incluindo Trump, criticaram Zuckerberg pelo que eles disseram ser uma tentativa de aumentar a participação dos eleitores em áreas democratas.

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Em conversas particulares com conselheiros e amigos, Zuckerberg e Priscilla expressaram certo arrependimento em relação às contribuições e ao fato de elas terem saído pela culatra. Após as críticas ao “Zuckerbucks”, Zuckerberg contratou Brian Baker, um famoso estrategista republicano, para melhorar seu posicionamento com a mídia de direita e com as autoridades republicanas.

“Meu objetivo é ser neutro”

Quatro anos depois, em agosto de 2024, Zuckerberg afirmou que não planejava repetir seus esforços para financiar ONGs para ajudar em eleições estaduais. As afirmações foram feitas em uma carta enviada a Jim Jordan, republicano da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos que criticou as iniciativas passadas de Zuckerberg.

O executivo também disse que foi inapropriado da parte do governo Biden ter pressionado o Facebook a censurar determinados conteúdos ligados à pandemia da covid-19 em 2021. Além disso, ele afirmou que a empresa rejeitaria quaisquer outras tentativas do tipo no futuro. “Meu objetivo é ser neutro e não desempenhar um papel de uma forma ou de outra - ou mesmo parecer estar desempenhando um papel”, escreveu Zuckerberg na carta.

Mark Zuckerberg fala durante evento da Meta realizado em setembro de 2024 Foto: Godofredo A. Vásquez/AP

Afastamento político

Zuckerberg e Priscilla foram pegos de surpresa pelo ativismo em sua filantropia. Após os protestos contra o assassinato de George Floyd pela polícia em 2020, um funcionário da Iniciativa Chan Zuckerberg pediu a Zuckerberg, durante uma reunião de equipe, que se demitisse do Facebook ou da iniciativa devido à sua relutância, na época, em moderar os comentários de Trump.

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O incidente e outros semelhantes incomodaram Zuckerberg, segundo pessoas próximas, afastando-o do trabalho político progressista da fundação. Em 2021, Zuckerberg e Priscilla decidiram encerrar o trabalho político interno do grupo e, em vez disso, financiar dois grupos bipartidários, incluindo o Fwd.us, que trabalhavam com essas questões. Muitos de seus cerca de 30 funcionários que se dedicavam à política pediram demissão, foram transferidos ou enviados para esses dois grupos.

Reaproximação com Trump

Após a vitória de Donald Trump nas eleições de 2024, Zuckerberg parece ter adotado uma estratégia de reaproximação com o presidente eleito, buscando amenizar uma relação que antes era tensa.

Em 2021, Trump teve suas contas do Facebook e do Instagram suspensas após elogiar envolvidos nos atos violentos no Capitólio, em 6 de janeiro. Em 2024, Trump disse que mandaria Zuckerberg para prisão perpétua, pois, segundo o republicano, o dono da Meta teria colocado as redes sociais contra ele.

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Ao anunciar o fim da moderação das plataformas, Zuckerberg disse que a Meta trabalhará junto com o governo Trump para lutar contra os governos de outros países que “censuram plataformas”. Mas essa não foi a primeira decisão que marca a nova fase do relacionamento entre o dono do Facebook e o republicano.

Durante a Convenção Nacional Republicana, Trump agradeceu ao bilionário em um telefonema por ter dito publicamente que estava “rezando” por Trump após a tentativa de assassinato. Algumas semanas depois, eles voltaram a se falar.

Depois que a Meta retirou erroneamente as imagens da tentativa de assassinato que estavam circulando pela Meta, Zuckerberg ligou diretamente para o ex-presidente e pediu desculpas pelo erro. .

Em novembro de 2024, já após as eleições, Zuckerberg visitou Trump em seu resort em Mar-a-Lago para um jantar. Na semana passada, Nick Clegg, presidente de assuntos globais da Meta, setor que trata especialmente sobre políticas públicas com governos pelo mundo, anunciou que deixaria a empresa após quase sete anos. Ele será substituído por seu atual vice, o republicano Joel Kaplan, que foi vice-chefe de gabinete na Casa Branca durante a administração do presidente George W. Bush e é conhecido por gerenciar as relações da empresa com os republicanos.

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Além disso, na segunda-feira, 6, a Meta nomeou Dana White, presidente do UFC e amigo próximo de Trump, para integrar seu conselho administrativo. A empresa também doou US$ 1 milhão para a cerimônia de posse de Trump, assim como fizeram outros vários magnatas do setor da tecnologia como um sinal de cooperação com a nova administração.

Ao longo dos anos, Zuckerberg contribuiu para as campanhas de vários políticos, tanto republicanos quanto democratas. /Com informações do New York Times

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