Meta é processada por ‘viciar’ crianças no Facebook e Instagram nos EUA

Ação marca mais amplo desafio estadual sobre impacto da mídia social na saúde mental dos jovens

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Por Cristiano Lima e Naomi Nix

THE WASHINGTON POST - 41 estados e o Distrito de Columbia, EUA, estão processando a Meta alegando que a gigante da tecnologia prejudica as crianças ao criar recursos viciantes no Instagram e no Facebook. As ações legais desta terça-feira, 24, representam o esforço mais significativo das autoridades estaduais para controlar o impacto da rede social na saúde mental das crianças.

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A enxurrada de ações judiciais é o ponto culminante de uma ampla investigação de 2021 sobre as alegações de que a Meta contribui para problemas de saúde mental entre os jovens.

“Nossa investigação bipartidária chegou a uma conclusão solene: a Meta tem prejudicado nossas crianças e adolescentes, cultivando o vício para aumentar os lucros das empresas”, disse em um comunicado o procurador-geral da Califórnia, EUA, Rob Bonta, uma das autoridades que lideram o processo.

33 estados dos EUA estão entrando com uma ação conjunta no tribunal federal do Distrito Norte da Califórnia, enquanto os procuradores-gerais do D.C. e oito estados estão entrando com queixas separadas em tribunais federais, estaduais ou locais.

Meta prevê tempos difíceis pela frente Foto: Carlos Barria/Reuters

Embora o escopo exato das reivindicações legais possa variar, espera-se que elas apresentem um quadro semelhante: a empresa fisgou crianças em suas plataformas usando táticas prejudiciais e manipuladoras.

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A queixa federal de 233 páginas alega que a empresa se envolveu em um “esquema de exploração de usuários jovens para obter lucro”, enganando os usuários sobre seus recursos de segurança e a prevalência de conteúdo nocivo em seus produtos, coletando dados de usuários mais jovens e violando leis federais sobre privacidade infantil. As autoridades estaduais alegam que a empresa implementou conscientemente mudanças para manter as crianças no site em detrimento de seu bem-estar.

As reclamações ressaltam a preocupação dos líderes governamentais de que as principais redes sociais arriscam o bem-estar de seus usuários mais jovens ao projetar seus produtos de forma a otimizar o envolvimento em detrimento da segurança.

A porta-voz da Meta, Liza Crenshaw, disse em um comunicado que a empresa está “decepcionada com o fato de que, em vez de trabalhar de forma produtiva com empresas de todo o setor para criar padrões claros e adequados à idade dos muitos aplicativos que os adolescentes usam, os procuradores gerais escolheram esse caminho”.

O efeito dos produtos da Meta sobre os jovens foi colocado sob os holofotes depois que uma reportagem do Wall Street Journal em 2021 detalhou uma pesquisa interna, vazada pela ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, mostrando que o Instagram piorou os problemas de autoimagem de algumas adolescentes. O caso ficou conhecido como Facebook Papers.

As revelações deram início a um acerto de contas político em Washington e nas capitais dos estados de todo o país, com legisladores lançando novos esforços para restringir o uso de mídias sociais por crianças e reguladores renovando o escrutínio das práticas de segurança da Meta.

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No entanto, os esforços para aprovar novas proteções de privacidade e segurança para as crianças online foram enfraquecidos em nível federal, deixando que os estados avançassem com novas medidas agressivas.

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Estados como Arkansas e Utah aprovaram leis que proíbem o acesso de crianças com menos de 13 anos às redes sociais e exigem que adolescentes com menos de 18 anos obtenham o consentimento dos pais para acessar os sites. A Califórnia, por sua vez, aprovou regras que exigem que as empresas de tecnologia verifiquem os riscos de seus produtos e incluam proteções de segurança e privacidade em suas ferramentas. Em vez da legislação federal, os pais e os distritos escolares também abordaram o assunto, entrando com ações judiciais acusando a Meta, TikTok e outras plataformas de agravar a crise de saúde mental dos jovens do país e de aumentar a ansiedade, depressão e os problemas de autoimagem entre os alunos.

Os crescentes processos judiciais chegam em um momento em que a pesquisa sobre a conexão entre o uso da rede social e os problemas de saúde mental continua obscura. No início deste ano, o cirurgião geral dos EUA, Vivek H. Murthy, divulgou um parecer argumentando que o uso excessivo de redes ídias sociais quando criança pode levar a um risco maior de saúde mental precária, incluindo problemas de sono ou insatisfação com o corpo. Mas um relatório da American Psychological Association concluiu que o uso de rede sociais “não é inerentemente benéfico ou prejudicial para os jovens” e que deveria haver mais pesquisas sobre o assunto.

Ao lançar sua investigação em 2021, as autoridades estaduais disseram que a empresa “não conseguiu proteger os jovens em suas plataformas” e a acusaram de “explorar crianças no interesse do lucro”.

A gigante da tecnologia rejeitou a investigação na época, com o porta-voz da Meta, Andy Stone, dizendo que as alegações eram “falsas e demonstram um profundo mal-entendido dos fatos”.

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Desde então, a Meta revelou várias mudanças nas políticas e nos produtos com o objetivo de tornar seus aplicativos mais seguros para as crianças, inclusive fornecendo aos pais ferramentas para rastrear a atividade de seus filhos, criando avisos que incentivam os adolescentes a dar um tempo das redes sociais e implementando configurações de privacidade mais rígidas por padrão para usuários jovens.

Mas as mudanças fizeram pouco para acalmar seus críticos em nível estadual e federal, que alegam que a empresa se esquivou de sua responsabilidade de proteger seus jovens usuários mais vulneráveis.

Durante anos, a Meta tem se preocupado com o fato de os jovens passarem menos tempo no Facebook, enquanto os adolescentes migram para os concorrentes, incluindo o TikTok e o Snapchat. Para atrair usuários mais jovens, a empresa tentou replicar o TikTok com seu serviço de vídeos curtos, o Reels.

Com novo foco no metaverso, Facebook foi rebatizado de Meta, grupo que também controla o Instagram e WhatsApp Foto: Dado Ruvic/Reuters

Mas o esforço para atrair os jovens chamou a atenção dos órgãos reguladores, que estão preocupados com o fato de aplicativos como o Facebook e o Instagram prejudicarem a saúde mental dos jovens, atraí-los para produtos viciantes em uma idade jovem e comprometer sua privacidade. A Meta argumenta que as pesquisas sobre os efeitos da rede social sobre os jovens são variadas e que a empresa toma precauções para proteger os usuários.

Depois que as revelações de Haugen se tornaram públicas, a Meta anunciou que estava pausando seus planos de criar um aplicativo do Instagram projetado especialmente para crianças menores de 13 anos. Grupos de defesa, procuradores gerais do estado e legisladores pediram que a empresa abandonasse o projeto por preocupação com a saúde mental dos jovens.

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A empresa disse na época que ainda acreditava no conceito de um aplicativo do Instagram voltado para crianças porque elas estavam simplesmente mentindo sobre sua idade para entrar na rede social.

O governo Biden está examinando separadamente o histórico da Meta em relação à segurança das crianças, com a Comissão Federal de Comércio propondo um plano para impedir que a empresa monetize os dados que coleta de jovens usuários. Stone, da Meta, chamou isso de “manobra política” e disse que a empresa “lutaria vigorosamente” contra a medida.

Embora os esforços para controlar o impacto da rede social sobre as crianças estejam ganhando força entre os legisladores e os responsáveis pela aplicação da lei, eles estão cada vez mais enfrentando grandes obstáculos nos tribunais.

Juízes federais bloquearam recentemente as leis de segurança infantil recém-aprovadas na Califórnia e no Arkansas, dizendo que elas podem violar as proteções da Primeira Emenda e, às vezes, levantando dúvidas sobre sua eficácia e se elas realmente manteriam as crianças mais seguras.

Durante anos, as autoridades estaduais e federais têm examinado minuciosamente o manuseio das informações pessoais privadas das crianças pelas empresas de tecnologia, às vezes aplicando multas enormes contra as empresas de rede social. Em 2019, a FTC e o estado de Nova York chegaram a um acordo de US$ 170 milhões com o YouTube, de propriedade do Google, sobre acusações de que a empresa coletou ilegalmente dados de usuários com menos de 13 anos.

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Mas, nos últimos anos, as autoridades têm se concentrado cada vez mais em como as empresas de tecnologia podem estar exacerbando a ansiedade, a depressão e outros problemas de saúde mental entre crianças e adolescentes.

Indiana, Arkansas e Utah entraram com ações judiciais separadas acusando o TikTok de prejudicar crianças por meio de recursos viciantes, expondo-as a conteúdo inadequado ou enganando os consumidores sobre suas proteções de segurança. O Arkansas entrou com uma ação judicial semelhante acusando a Meta de violar as regras do estado contra práticas comerciais enganosas. /TRADUÇÃO DE ALICE LABATE

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