Meta quer investir bilhões em robôs humanoides com foco em criar um ‘faz tudo’ a base de IA

A empresa de Mark Zuckerberg formou uma nova equipe para cuidar da empreitada, que ficou sob os cuidados da divisão de hardware e Reality Labs

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Por João Pedro Adania

A Meta – depois de avançar em realidade avançada com os óculos Quest e o modelo de IA Llama – identificou sua nova aposta: robôs humanoides impulsionados por inteligência artificial (IA).

Robôs humanoides, na prática, são máquinas futuristas que podem – ou ao menos tentam - agir e se parecer estruturalmente como humanos. A justificativa para alguém ter um desses é quase sempre a mesma: ajudar nas tarefas físicas.

O projeto de robôs humanoide já recebeu milhões de dólares, conta com um novo chefe com experiência em outras gigantes da tecnologia  

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Esse projeto já motivou um investimento robusto da Meta, de acordo com a Bloomberg. A empresa de Mark Zuckerberg – que demitiu quase 4 mil funcionários na última semana – formou uma nova equipe para cuidar da empreitada, que ficou sob os cuidados da divisão de hardware e Reality Labs.

O foco da Meta é desenvolver seu próprio hardware de robôs humanoides, que em primeiro estágio serão feitos para cumprir tarefas domésticas. O objetivo central, no entanto, é criar a IA que vai mover as criaturas no futuro. A ideia da empresa, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, é que os sensores e o software também serão bases para que outras companhias fabriquem e vendas esses robôs.

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Uma conversa inicial já aconteceu entre a gigante e outras empresas de robótica, como a Unitree Robotics e a Figure AI. Embora o plano seja ambicioso, a Meta não deve lançar um robô com sua logo estampada no peito logo de cara – isso a colocaria na concorrência direta com o Optimus, da Tesla –, mas pode considerar essa opção no futuro.

A Meta não está sozinha quando o assunto são robôs humanoides. Na verdade, essa é uma tendência observada em várias big techs, como a Apple e a divisão Google DeepMind, da Alphabet. Um porta-voz da Meta não quis comentar, informou a Bloomberg.

Quem está à frente desse projeto é Marc Whitten, e a criação da nova equipe foi confirmada internamente nesta sexta-feira, 14. Whitten há pouco tempo renunciou do cargo de CEO da Cruise, setor de carros autônomos da General Motors (GM), também já foi executivo na Unity Software e na Amazon.

Marc Whitten que está à frente desse projeto e tem uma centena de engenheiros à disposição Foto: @MarcWhitten/ReproduçãoLinkedin

IA da Meta como base para a robótica

“As tecnologias centrais em que já investimos e que desenvolvemos na Reality Labs e em IA são complementares aos avanços necessários para a robótica”, escreveu Andrew Bosworth, diretor de tecnologia da Meta, em um documento revelado pela Bloomberg. Ele destacou avanços da empresa em rastreamento de mãos, computação de baixa largura de banda e sensores ativos constantemente.

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Leia-se rastreamento de mãos como a capacidade do dispositivo – seja ele celular, óculos inteligentes ou relógio – de saber onde as mãos do usuário estão e assim captar seus movimentos. Computação de baixa largura de banda é o processamento e transmissão de dados de forma eficiente. E sensores sempre ativos funcionam ininterruptamente e coletam informações do ambiente e do próprio dispositivo que os carrega sem precisar ativá-los manualmente.

Os executivos da Meta acreditam que, enquanto as empresas de robótica humanoide avançam no desenvolvimento do hardware, os progressos da empresa dona do Facebook em inteligência artificial junto com dados coletados dos aparelhos de realidade aumentada e virtual devem acelerar o setor.

A Meta destina milhões de dólares para produtos como os óculos Quest e os óculos da parceria com a Ray-Ban Foto: Reprodução

Atualmente, robôs humanoides - daqueles que Hollywood mostra – ainda não são bons o suficiente para dobrar roupas, carregar um copo de água, lavar e guardar louças ou realizar outras tarefas domésticas. Essas são as atividades que a indústria mais vê como atrativo para os clientes.

“Expandir nosso portfólio para investir nesse campo só agregará valor à Meta AI e aos nossos programas de realidade mista e aumentada”, escreveu Bosworth. Whitten, que responderá a Bosworth, terá 100 engenheiros no setor à disposição.

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Se tudo der certo, o sonho da Meta é ser equivalente na área de robótica ao Android, do Google, e aos chips da Qualcomm na área de smartphones.

Os softwares, sensores e pacotes de computação que a Meta já desenvolve para seus dispositivos são as mesmas tecnologias necessárias para alimentar esses robôs, de acordo com uma pessoa envolvida no projeto.

Sob o guarda-chuva de investimento da sua divisão de hardware Reality Labs, a Meta destina milhões de dólares para produtos como os óculos Quest e os óculos da parceria com a Ray-Ban. Além disso, a empresa planeja gastar US$ 65 bilhões este ano em dispositivos relacionados.

Concorrência e desafios da robótica humanoide

Enquanto a Meta não apresenta seus modelos, Elon Musk, CEO da Tesla e dono do X, afirmou que o robô Optimus será vendido para consumidores por cerca de US$ 30 mil. A montadora de carros elétricos vai começar a produzir uma quantidade limitada ainda em 2025.

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A Boston Dynamics, empresa americana de engenharia robótica, já vende robôs para automatização de armazéns. Esse modelo de negócio também é adotado por outras companhias que focam em soluções para indústria.

Os robôs humanoides são uma evolução da tecnologia que dirige os veículos autônomos, até porque usam sistemas similares e exigem grandes volumes de dados e processamento de IA. E mesmo que os riscos de segurança sejam menores – já que estarão entre a lava louças e o banheiro e não atrás do volante a 100 km/h em rodovias movimentadas –, os executivos da Meta acreditam que a complexidade da empreitada é maior.

Essa tese é simples de explicar: os executivos deduzem que cada residência tem um layout diferente, enquanto as ruas das cidades e rodovias são relativamente padronizadas.

A Meta pretende desenvolver parte do hardware internamente, usar componentes disponíveis no mercado e trabalhar com fabricantes já estabelecidos o mais rápido possível, segundo fontes. Outro detalhe é que a criação de protótipos e um hardware são essenciais para testes antes da implementação de uma plataforma, mesmo que a empresa não lance um produto próprio.

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Zuckerberg e seus blue caps também buscam desenvolver ferramentas para garantir a segurança dos robôs e vai mapear prováveis riscos do uso doméstico, como uma mão humana ficar presa em algum componente do robô na hora que ele for interagir com seu dono, por exemplo. Uma interrupção abrupta de energia também será testada no protótipo.

O robô icub, segurando uma garrafa de água, é retratado no telhado do estacionamento do Instituto Italiano de Tecnologia (IIT) em Gênova, Itália Foto: MARCO BERTORELLO/AFP

Embora esse seja o mais recente movimento oficial da Meta na robótica humanoide, sua equipe de Pesquisa Fundamenta em IA (FAIR, na sigla em inglês) já explorava e publicava artigos sobre o tema há meses. A Apple também começou recentemente a divulgar estudos sobre IA aplicada à robótica.

Uma pessoa envolvida no projeto afirmou que a Meta acredita que ainda levará alguns anos para que os robôs humanoides estejam disponíveis de fato para quem quiser comprar. Mais tempo ainda deve levar até que a plataforma da empresa esteja pronta para sustentar produtos de terceiros. No entanto, essa se tornará uma das principais áreas da Meta e da indústria de tecnologia, disse a fonte.

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