Meta substitui presidente de assuntos globais por executivo republicano para se aproximar de Trump

Republicano Joel Kaplan será o novo presidente de assuntos globais da empresa no lugar de Nick Clegg

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Foto do author João Pedro Adania
Por João Pedro Adania
Atualização:

Nick Clegg deixa o cargo de presidente de assuntos globais da Meta após quase sete anos na empresa. O executivo será substituído por Joel Kaplan, um republicano conhecido por intermediar a relação da companhia com os conservadores.

Sua renúncia acontece poucas semanas antes de Donald Trump voltar à Casa Branca, um presidente que ele nunca teve relação amigável. No Facebook desde 2018, após sair do parlamento em 2017, foi promovido a presidente de assuntos globais, uma posição de destaque na Meta.

Reprodução Facebook Nick Clegg Foto: Reprodução Facebook Nick Clegg

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Glegg disse que seu sucessor, Joel Kaplan, é “claramente a pessoa certa para o trabalho certo no momento certo”. Kaplan já serviu como vice-chefe de gabinete na Casa Branca durante a administração de George W. Bush.

Ex-líder do Partido Liberal Democrata no Reino Unido, Clegg também foi vice-primeiro-ministro de David Cameron, entre 2010 e 2015. Em uma publicação no Facebook, ele escreveu que vai passar os próximos meses “entregando as rédeas”, e ainda vai representar a empresa em encontros internacionais até o fim do primeiro trimestre do ano antes de partir para “próximas aventuras”.

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A saída de Clegg tem muita a ver com a aproximação que Mark Zuckerberg e outros donos de gigantes da tecnologia fazem com Trump, que já acusou repetidas vezes a Meta e outras plataformas de censurar e silenciar o discurso conservador.

No entanto, a relação entre os dois ficou especialmente tensa após o Facebook e o Instagram suspenderem as contas do ex-presidente por dois anos em 2021, quando Trump elogiou os envolvidos na invasão do Capitólio em seis de janeiro. No ápice da briga, Trump ameaçou prender Zuckerberg se ele interferisse nas eleições de 2024 e até chamou sua rede social de “inimiga do povo” em março do ano passado.

Trump só moderou sua posição em outubro, quando disse em um podcast que era “bom” o dono da Meta “ficar fora da eleição” e depois lhe agradeceu por uma ligação feita por Zuckerberg após a tentativa de assassinato em Butler, Pensilvânia. Em uma entrevista o executivo da Meta disse que Trump parecia “durão” depois de ter sido baleado no comício e ter erguido o punho para a multidão.

Zuckerberg faz doação e jantou com Trump para tentar aproximação

Em 11 de dezembro, a Meta afirmou que doou US$ 1 milhão para o fundo de posse de Donald Trump. Poucas semanas antes, Zuckerberg se reuniu com o presidente eleito em Mar-a-Lago. Durante esse encontro, os dois trocaram gracejos, e o dono da big tech parabenizou Trump por ter conquistado novamente a presidência e jantou com Marco Rubio, escolhido para ser Secretário de Estado, de acordo com a BBC.

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Na ocasião, um porta-voz da Meta disse que Zuckerberg está “grato pelo convite de jantar com o presidente”.

Nos EUA, é tradicional que empresas façam doações para comitês de posse, que não têm limite de contribuição. O comitê inaugural de Trump oferece benefícios de alto nível a quem fizer doações acima de US$ 1 milhão.

O aceno ao presidente que toma posse no dia 20 de janeiro também aconteceu em forma de ataque a Joe Biden. Em agosto, Zuckerberg disse ter se arrependido de abafar conteúdo relacionado às acusações de Hunter Biden, filho do atual presidente.

Ele também disse que não faria mais doações para apoiar a infraestrutura eleitoral depois que uma contribuição de US$ 400 milhões em 2020 para bancar acomodações de votação para a pandemia de coronavírus foi vista pelos republicanos como desproporcional.

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Na época, Zuckerberg disse que suas contribuições foram não-partidárias e seu objetivo era ser neutro nas eleições.

Por que a Meta – e as outras big techs – precisam ter bom relacionamento com Trump?

Problemas regulatórios são crescentes em quase todas as big techs, isso inclui um caso antitruste contra a Meta em andamento na Comissão Federal de Comércio desde 2020. A alegação – em um caso apresentado pela primeira vez pela FTC do presidente Donald Trump e posteriormente indeferido por um juiz federal representado pela FTC de Biden em 2021 – é de que as aquisições do Instagram e do WhatsApp pela Meta ajudaram a dar a ela um monopólio ilegal sobre as redes sociais.

O argumento é que a empresa usou esse monopólio para esmagar a concorrência.

Google, Amazon e Apple também têm processos ativos, embora as gigantes tenham resistido a pressões por leis antitruste no Congresso e superado bloqueios de fusões.

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No caso do Google, o Departamento de justiça processou a empresa por operar seu negócio de pesquisa como um monopólio ilegal, ao fazer contratos que induzem fabricantes de eletrônicos, como a Apple, a definir seu buscador como padrão. A companhia argumenta que consumidores e fabricantes optam por usar a pesquisa do Google porque ela é a melhor.

Outra ação contra a empresa comandada por Sundar Pichai diz que a gigante controla ilegalmente o mercado de anúncios online e é responsável por elevar os preços para anunciantes e produtores de conteúdo. O Google afirma que enfrenta concorrentes na intermediação de publicidade online e que precisa competir por serviço e preço.

A Apple é acusada de exercer controle abusivo sobre as experiências dos consumidores com o iPhone ao restringir a concorrência entre desenvolvedores de software e prejudicar concorrentes. A empresa responde que esse controle é responsável por fazer a experiência dos usuários de iPhone ter apelo.

A Apple é acusada de exercer controle abusivo sobre as experiências dos consumidores com o iPhone. Foto: Sergii Figurnyi/Adobe Stock

No caso da Amazon, a alegação do governo é que a gigante de Jeff Bezos tenha pressionado comerciantes a depender dela e assim esmagar rivais, o que resulta em preços mais altos e experiência pior para os usuários. A Amazon diz que enfrenta concorrentes no mercado de comércio eletrônico, como Walmart e Target.

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Mesmo que Zuckerberg tenham agradado Trump, Elon Musk já chegou na frente

A relação próxima de Trump com o dono do X (ex-Twitter) resultou em mais de US$ 100 milhões em doações de campanha e um endosso irrestrito e público do bilionário.

Esse apoio rendeu frutos ao empresário, que foi colocado no comando de um novo Departamento de Eficiência Governamental, que o concede influência sobre a política e a própria regulamentação que ameaça negócios de suas empresas.

A relação próxima de Trump com o dono do X (ex-Twitter) resultou em mais de US$ 100 milhões em doações de campanha e um endosso irrestrito e público do bilionário. (AP Photo/Alex Brandon, File) Foto: Alex Brandon/AP

Zuckerberg e Musk têm rivalidade de longa data. Algumas discordâncias são causadas por questões comerciais, como uma frustrada parceria em 2016, quando um foguete da SpaceX explodiu enquanto transportava um satélite do Facebook.

O desentendimento continuou e os dois se desafiaram, em junho de 2023, para uma luta no cage (“jaula” em inglês). Mas, embora nenhum dos dois tenha publicamente recuado, é improvável que a luta aconteça de fato.

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