O acordo de US$ 44 bilhões de Elon Musk para tornar o Twitter uma empresa privada poderia marcar o fim do negócio de publicidade da plataforma de mídia social. Mas, desde 25 de abril, quando o presidente da Tesla anunciou o acordo, a atitude do mercado publicitário em relação à próxima versão do Twitter de Musk está evoluindo.
O otimismo está tomando conta e está se desenrolando de duas maneiras.
Alguns compradores de anúncios esperam obter melhores negócios de uma empresa que está passando por uma grande transição. Outros estão apostando que Musk, que dribla ideias de novidades diariamente no Twitter, pode entregar o que a empresa deixou a desejar: o lançamento de novos produtos de forma mais rápida, de acordo com executivos de publicidade que conversaram com a Reuters.
A crença é que a pressão de Musk por esse desenvolvimento acelerado vai atrair novos usuários que se tornarão a base para um melhor ambiente de marketing.
A visão é uma mudança da perspectiva sombria da indústria de publicidade depois que Musk pareceu jogar água fria no negócio de anúncios de US$ 5 bilhões do Twitter. Na ocasião, o bilionário afirmou, via rede social, que a plataforma deveria ser um fórum para liberdade de expressão e questionou a dependência da plataforma em anúncios para receita.
De acordo com os slides que Musk apresentou aos investidores, ele espera que o Twitter alcance 931 milhões de usuários até 2028 — foram 229 milhões registrados no último trimestre. Para a receita de anúncios, Musk quer dobrar para US$ 12 bilhões, representando cerca de 45% de sua receita total no mesmo período, informou o jornal americano The New York Times.
Apesar das repetidas declarações de Musk sobre minimizar a censura de conteúdo na plataforma, ele apareceu em um vídeo na segunda-feira, 10, com o chefe da indústria da União Europeia, Thierry Breton, para discutir a próxima Lei de Serviços Digitais, que exigirá que as plataformas reduzam o conteúdo ilegal. Musk disse que "tinha a mesma opinião" e concordou com "tudo o que [Breton] disse".
No curto prazo, algumas agências de publicidade já estão aconselhando os clientes a dar uma nova olhada nos negócios com o Twitter. Um executivo da área, que não quis ser identificado, disse que espera que as negociações comecem nos próximos meses. Assim, seria possível reduzir os preços dos anúncios em nome de alguns clientes, já que o Twitter pode ser mais flexível durante o período de incerteza antes de Musk fechar seu acordo de aquisição.
A Code3, uma agência que trabalhou com marcas como Chipotle, Dior e Gap, vai aconselhar alguns clientes a considerar o aumento de seu investimento no Twitter no curto prazo, para aproveitar o burburinho que Musk ajudou a gerar na plataforma, disse Lizzy Glazer, vice-presidente de planejamento de conexões da Code3.
Executivos de publicidade e marketing que conversaram com a Reuters disseram que estão observando atentamente as mudanças que o Twitter pode fazer na plataforma, e a maioria dos anunciantes ainda não fez mudanças significativas nos gastos, reprimindo o medo de abandonar o Twitter. Alguns especialistas prevêem que a plataforma pode realmente se tornar um ambiente mais atraente para marcas sob Musk.
Musk pode ajudar o Twitter a ser mais competitivo com novos recursos e levar a um maior crescimento de usuários, disse Erica Patrick, diretora de mídia social paga da agência de publicidade Mediahub Worldwide, que conta com a Netflix e a Fox Sports entre seus clientes.
"O Twitter sempre foi o quarto na fila como plataforma social", disse ela. "(Musk) inova e pode pensar fora da caixa. Se for uma empresa privada, há muito que eles podem fazer mais rapidamente."
Mesmo a expectativa de que a propriedade de Musk possa levar a regras mais flexíveis sobre o conteúdo será uma vantagem para alguns profissionais de marketing, que pretendem realizar eventos virais, disse Ishan Goel, fundador da Goel Strategies, uma agência de marketing que trabalhou com marcas como Hulu e Colgate.
"Como profissional de marketing, você obtém o momento mais viral quando há disrupção", afirmou Goel.
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