O que é a Neuralink? Veja perguntas e respostas sobre a startup de implantes cerebrais de Musk

Empresa conduz testes de seu chip cerebral em humanos, tendo obtido autorização neste mês para implantar o dispositivo em um segundo paciente; primeiro paciente enfrentou problemas

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Por Redação

A Neuralink, startup do bilionário Elon Musk que desenvolve implantes cerebrais, admitiu no início deste mês ter tido problemas no chip inserido em seu primeiro paciente humano: 85% dos fios se soltaram do cérebro do jovem Nolan Arbaugh, que é tetraplégico. Apesar do problema, ele tem conseguido utilizar o sistema, interagindo com interfaces digitais usando apenas o cérebro.

Também neste mês, a empresa recebeu permissão da agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drugs Administration (FDA), para realizar cirurgia de implante de um chip no cérebro de um segundo paciente humano. Mas como funciona esse chip cerebral da Neuralink? Veja a seguir perguntas e respostas sobre a empresa.

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Em 2017, Musk anunciou seu investimento na startup, que surgiu com o objetivo de implantar chips nos cérebros de humanos, desenvolvendo uma tecnologia de interação cérebro-computador. Esse tipo de interface neural, com a fusão entre máquinas e cérebros humanos, possibilitaria que pessoas pudessem operar computadores usando somente seus pensamentos, de forma mais rápida do que com as mãos.

A ideia permitiria usos como armazenamento e reprodução de memórias, por exemplo, entre outros. A “simbiose” entre máquina e mente humana também teria grande potencial de uso na área da saúde, como em possíveis tratamentos para paralisia, cegueira, perda de memória e outras doenças nervosas.

Segundo a empresa, além de possibilitar a interação do cérebro com computadores, o uso dos chips cerebrais poderia beneficiar pessoas com doenças ou síndromes. Estudos já demonstraram que a modulação correta de sinais cerebrais pode provocar avanços consideráveis para determinadas doenças, como mal de Parkinson, por exemplo.

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Em 2022, Musk disse que os dispositivos da empresa acabariam permitindo que pessoas cegas enxergassem ou dariam a alguém com uma medula espinhal cortada “funcionalidade de corpo inteiro”. Na época, suas afirmações atraíram o ceticismo de especialistas, que argumentaram que a ciência ainda não havia avançado tanto.

A interação da mente humana com computadores possibilitaria também usos como o armazenamento das próprias memórias. Musk já citou em postagem no X, antigo Twitter, o potencial para usos como fazer streaming de música diretamente para o cérebro das pessoas, o que tornaria obsoletos não só os fones de ouvido, mas também os próprios ouvidos.

Alguns cientistas estão entusiasmados com os estudos e testes, mas outros levantam preocupações éticas, temendo as consequências do uso dessa tecnologia, potencialmente perigosas, variando de danos à privacidade mental à exacerbação da desigualdade.

A startup Neuralink, do bilionário Elon Musk, desenvolve implantes cerebrais; empresa atualmente realiza testes em pacientes humanos.  Foto: Dado Ruvic/Reuters

O primeiro produto da Neuralink, que está sendo testado em humanos, se chama Telepathy e é um chip que pode permitir que uma pessoa controle com o pensamento um telefone ou computador.

Até agora, os implantes cerebrais só foram desenvolvidos em uma direção: do cérebro para o exterior (geralmente um computador que processa os sinais), mas o projeto da Neuralink visa poder transferir informações também na direção oposta, da máquina para o cérebro.

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A função do implante seria “ler” a atividade cerebral para poder transmitir ordens que ajudem a restaurar algumas funções cerebrais severamente danificadas após um ataque cardíaco ou esclerose lateral amiotrófica, por exemplo, que resultam em sérios danos à capacidade comunicativa.

A Neuralink afirmou que o implante é realizado por meio de um robô, semelhante a uma máquina de costura, capaz de implantar fios ultrafinos profundamente no cérebro das pessoas.

A empresa afirma que o sistema eventualmente conseguirá ler e escrever grandes quantidades de informação. Mas, como muitos dos outros empreendimentos de Musk, como naves espaciais ou túneis futuristas, um dos maiores desafios pode ser que seus cientistas correspondam à sua grande visão.

Como está sendo testado esse implante cerebral?

A Neuralink iniciou testes em animais por volta de 2020, e, em abril de 2021, a empresa divulgou um vídeo de um macaco jogando Pong apenas com a mente, usando um neurotransmissor implantado no cérebro. Em fevereiro de 2022, porém, o Physicians Committee for Responsible Medicine acusou a empresa de maus-tratos aos animais usados nos teste. A empresa negou as alegações. Em setembro de 2023, a empresa foi acusada novamente de maus-tratos pelo mesmo comitê, que alegou que os testes da empresa causaram danos cerebrais e até a morte de alguns animais. A empresa não comentou.

Em maio de 2023, a Neuralink recebeu aprovação da FDA para iniciar testes em humanos, começando a procurar pessoas para os testes iniciais em setembro. Eles procuravam especificamente pessoas com quadriplegia ou esclerose lateral amiotrófica, com mais de 22 anos e um cuidador confiável, para um estudo de seis anos, com visitas médicas domiciliares e laboratoriais.

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A empresa colocou o primeiro chip em um cérebro humano em janeiro de 2024, em Nolan Arbaugh, um homem tetraplégico. Nos meses seguintes, o primeiro paciente humano da Neuralink foi gravado jogando xadrez usando a força do pensamento, movendo o cursor na tela apenas com o cérebro. Musk também divulgou um vídeo que mostra Arbaugh jogando Mario Kart com o poder da mente.

No início de maio, a Neuralink admitiu que vários fios “se retraíram” do cérebro do jovem ”resultando em uma diminuição do número de eletrodos efetivos”: 85% dos filamentos se soltaram do cérebro de Arbaugh. A equipe da Neuralink esperava que seu cérebro formasse um tecido cicatricial ao redor dos fios na base do cérebro para segurá-lo, algo que não aconteceu.

Apesar disso, a Neuralink fez ajustes no sistema do chip para utilizar a quantidade reduzida de sinais captados de seu cérebro de Arbaugh e traduzi-los em comandos digitais. Apesar do revés, Arbaugh tem conseguido utilizar o sistema em torno de oito horas por dia durante a semana e até dez horas nos finais de semana, interagindo com interfaces digitais usando apenas o cérebro.

Também neste mês de maio, a empresa recebeu permissão da FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, para realizar cirurgia de implante de um chip no cérebro de um segundo paciente humano./Com NYT

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