Novo computador quântico do Google não é capaz de destruir a segurança digital mundial; entenda

Diretora do Google afirma que novo chip quântico da empresa não quebra criptografia atual

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Por João Pedro Adania

Nesta semana, o Google anunciou se novo computador quântico. Batizado de Willow, o processador é capaz de resolver em cinco minutos um problema matemático que um supercomputador clássico demoraria 10 septilhões de anos. A descoberta levantou preocupações sobre o que isso representa para a cibersegurança global. Mas, ao menos, por enquanto, é possível respirar aliviado: o Willow não é capaz de destruir a criptografia que protege os sistemas digitais atuais.

A diferença entre um computador clássico e o quântico é a forma de processar informações. Enquanto a primeira máquina opera com bits (representados por 0 ou 1), a quântica tem qubits – ou bits quânticos – que podem assumir inúmeros estados entre 0 e 1. Em suma, ela é especialmente poderosa.

Quantidade de qubits físicos produzidos pelo Google não é capaz de quebrar códigos Foto: Handout/HANDOUT

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Dois avanços importantes tiveram especial destaque em um artigo na revista cientifica Nature com essa evolução: desenvolvimento de medicamentos e expansão de inteligência artificial (IA).

Tal capacidade de processamento já chamou a atenção da Casa Branca, que em 2022 disse que um “computador quântico relevante para criptoanálise” (ou CRQC na sigla em inglês) pode “colocar em risco as comunicações civis e militares, minar sistemas de supervisão e controle para infraestrutura crítica, e derrotar protocolos de segurança para a maioria das transações financeiras baseadas na internet”. A declaração veio junto da ordem: todas as agências dos Estados Unidos devem mudar de sistema para mitigar riscos até 2035.

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Mas o Willow não é um CRQC, segundo o Google. Por mais que a empresa confirme a eficiência de processamento, o chip só tem 105 qubits físicos de poder computacional, volume insuficiente para quebrar códigos - além disso, processadores experimentais como esse são feitos para resolver problemas específicoas. “O chip Willow não é capaz de quebrar criptografia moderna”, disse Charina Chou, diretora de Quantum AI e COO do Google, ao site The Verge.

“As estimativas são de que estamos, pelo menos a 10 anos de distância de quebrar o RSA, e que cerca de 4 milhões de qubits físicos seriam necessários para isso”, disse. RSA é um dos algoritmos de proteção de dados mais usados no mundo, o nome vem das iniciais de seus criadores: Rivest, Shamir e Adleman.

Em 2023, a Rand Corporation, uma organização famosa por orientar a discussão a respeito da segurança nacional dos EUA, sugeriu que no momento em que um computador quântico capaz de quebrar o RSA existir, uma corrida mundial para se proteger contra ele começará.

“Assim que a existência do CRQC se tornar pública – ou ao menos plausível – e a ameaça se tornar concreta, a maioria das organizações vulneráveis se moverá imediatamente para atualizar todos os seus sistemas de comunicações para criptografia pós-quântica”, diz o comunicado da Rand.

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Mesmo com as afirmações do Google de que o RSA não pode ser quebrado pelo Willow, do outro lado do mundo, pesquisadores chineses já disseram ter métodos de quebrar essa criptografia, inclusive por meio de computadores bem menores, com centenas ou milhares de qubits. A versão, no entanto, é desmentida por especialistas em segurança cibernética.

O Google está na vanguarda da defesa contra eventuais riscos de proteção de dados. Ela usa a criptografia pós-quântica (post-quantum cryptography ou PQC) desde as revelações de Edward Snowden mostrarem que agências de espionagem, como a National Security Agency (NSA), financiam pesquisas em computadores quânticos.

Da mesma forma que a agência de inteligência dos EUA bancava estudos para quebrar códigos, o também governamental National Institute of Standards and Technolgy (NIST) quer descobrir seu remédio. Alguns anos atrás, a entidade criou uma competição para desenvolvimento de padrões de criptografia segura para sistemas quânticos.

Em agosto, o NIST finalizou a avaliação e desenvolvimento de três algoritmos criptográficos para integrá-los em produtos e sistemas. Até o fim do ano, a agência quer selecionar mais um ou dois projetos do tipo.

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