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“Nunca quisemos o ‘hype’”, diz fundador do Clubhouse

Ao ‘Estadão’, Paul Davison nega que rede social de áudio foi abandonada e destaca Brasil como um dos principais mercados da empresa no mundo

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Foto do author Guilherme Guerra
Davison diz que o Clubhouse não buscava crescimento acelerado Foto: Clubhouse/Divulgação

O fundador do Clubhouse, rede social de áudios que tomou conta do início de 2021, admite: o objetivo da plataforma nunca foi gerar “hype” com seus convites exclusivos e limitação para usuários com iPhone. Paul Davison, que também atua como presidente executivo da startup, diz que a tática era uma tentativa de frear o crescimento desordenado, puxado pela curiosidade de usuários que estavam isolados em casa pela pandemia.

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“Nunca tentamos fazer o Clubhouse crescer, somente diminuir”, diz ao Estadão o CEO, que já passou pelo Google e Pinterest. Naquele momento, a estratégia da companhia, fundada por Davison junto com Rohan Seth em março de 2020, foi correr contra o tempo para sair da fase de testes e operar como gente grande – em janeiro de 2021, eram nove pessoas trabalhando na startup - hoje são 90.

Apesar de o “hype” do início do ano ter passado, ele nega que o Clubhouse esteja em queda, a despeito da concorrência de pesos pesados do mercado – poucos meses depois da chegada do Clubhouse ao mercado, Twitter, Facebook, Spotify, Discord, TikTok e outras tantas plataformas anunciaram funcionalidades inspiradas no novato.

Para Davison, a concorrência não surpreende, mas ele destaca que, ao contrário dos rivais, o Clubhouse tem como vantagem trabalhar o áudio como o cerne da plataforma, e não um “puxadinho” de mais um recurso. “Para nós, é muito importante ser uma companhia de uma única mídia”, diz.

Abaixo, leia trechos da entrevista.

Como o sr. avalia o ano do Clubhouse?

Sempre tentamos crescer a nossa comunidade de forma controlada Quando você cresce rapidamente, você afeta os sistemas. Em grande parte de 2020, éramos duas pessoas e chegamos a sete no fim do ano, quando o Clubhouse começou a crescer mais do que esperávamos. No início de 2021, estávamos no hipercrescimento, mas nossa companhia tinha oito ou nove pessoas e tínhamos que desenvolver equipes, infraestrutura e sistemas para escalar a esse nível. Em 2021, trabalhamos o mais rápido que pudemos. Foi um baita ano. 

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Qual foi o ponto de virada nesse crescimento? De repente, todos estavam falando sobre o Clubhouse.

Nunca tentamos fazer crescer, somente diminuir (risos). É por isso que tínhamos o modelo de convites. Não estávamos tentando tornar as coisas exclusivas, e sim porque eram apenas nós dois (trabalhando na empresa). Mesmo assim, crescemos porque as pessoas tiveram uma ótima experiência. Crescemos também quando ocorrem eventos incríveis, como quando Oprah Winfrey entrou e derrubou o aplicativo. Outra maneira é quando os criadores chegam, trazendo uma audiência imensa com eles. É pelo boca a boca, que é a maneira saudável.

Mas a exclusividade não ajudou o aplicativo a crescer?

Exclusividade não foi um desejo intencional. Não era para isso que estávamos desenvolvendo o aplicativo. 

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Ainda há crescimento, comparado com o início deste ano?

Somos dramaticamente maiores do que no início de 2021. Em termos de métricas, olhamos para quantas novas salas estão sendo criadas, por quanto tempo as pessoas passam no aplicativo ou engajando com a plataforma. Conforme o mundo vai reabrindo, vemos que o app é de grande ajuda no dia a dia, porque mais pessoas vão para o trabalho, ao mercado, à academia. Quando elas fecham o aplicativo no fim do dia, elas se sentem melhores porque estavam aprofundando amizades, encontrando novas pessoas e aprendendo.

Mas o aplicativo não é tão falado quanto antes. Isso não é um problema?

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Nunca focamos em criar “hype”, e sim no produto e na comunidade. Eu posso soar bobo, porque nós recebemos muita atenção, mas tudo foi muito orgânico. Nunca houve uma mudança de estratégia.

A percepção de parte das pessoas é a de que o serviço fracassou e que não chegará vivo a 2022…

A empresa tem 18 meses de vida, mas nós olhamos para o longo prazo. Quando você olha para outras redes sociais, elas têm 15 anos de idade, mas, quando você procura pelas notícias feitas nos primeiros anos delas, você nota uma série de coisas similares.

O sr. fica assustado quando vê que Facebook, Twitter e outras plataformas estão criando recursos inspirados no Clubhouse?

Não é surpreendente. Áudio é uma mídia durável e é possível fazer muita coisa com a voz, porque é muito universal. Acredito que competição é algo bom e saudável para o ecossistema. Mas, para nós, é muito importante ser uma companhia de uma única mídia. Plataformas que focam em uma única categoria tendem a ser líderes: no texto, temos o Twitter; em fotos, o Instagram; em vídeo, YouTube e TikTok. Vai ser algo muito similar com o áudio. Somos uma companhia jovem competindo com gigantes de mais de uma década.

O Clubhouse planeja ser adquirido por uma dessas companhias? Há rumores de que o Twitter tentou comprar o aplicativo.

Não comento quaisquer rumores. Estamos focados em criar uma empresa independente.

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Quais são os próximos passos?

Monetização é muito importante para nós. Não para que possamos gerar receita para nós, mas para que os nossos criadores possam ganhar dinheiro. Estamos ansiosos para criar assinaturas, pagamentos direto na plataforma, gorjetas e serviços para unir criadores e marcas. E vamos criar mais ferramentas para a comunidade encontrar mais salas e crescer.

Quão importante é o Brasil para a estratégia do Clubhouse?

Como poderia não ser, dado o tamanho do País? O Brasil é a nossa prioridade máxima quando pensamos no Clubhouse internacionalmente. Mas o que mais me deixa ansioso é que, ao contrário do início do ano, agora estamos no Android e com tradução para o português brasileiro. Estamos muito mais equipados para atender à comunidade local. 

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