Nvidia investe US$ 1 bilhão em startups de IA e vira problema regulatório nos EUA, Europa e China

Empresa financia startups que desenvolvem soluções para chips com inteligência artificial

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Por João Pedro Adania

A Nvidia destinou US$ 1 bilhão para empresas de inteligência artificial (IA) em 2024. O valor consolida a marca como uma das principais financiadoras de startups voltadas para IA, em especial as impulsionadas pelos chips da gigante.

Em maio, a forte demanda por unidades de processamento gráfico (GPUs) de alto desempenho fez a Nvidia ultrapassar a Apple em valor de mercado e se tornar a empresa mais valiosa do mundo. No fechamento do mercado do dia 5 de dezembro, as companhias valiam, respectivamente, US$ 3,432 trilhões e US$ 3,378 trilhões.

Em maio, a forte demanda por unidades de processamento gráfico (GPUs) de alto desempenho fez a Nvidia ultrapassar a Apple em valor de mercado e se tornar a empresa mais valiosa do mundo Foto: Ralf/Adobe Stock

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É natural, portanto, que algum retorno desse capital fosse para seus próprios clientes, ainda mais em um setor em expansão. A maior parte dos negócios foi com instituições de “core AI” (ou núcleo de IA em tradução livre) que demandam alta infraestrutura computacional.

De acordo com registros corporativos e pesquisas da Dealroom, a empresa comandada pelo CEO Jensen Huang gastou US$ 1 bilhão em 50 rodadas de financiamento em startups e outros negócios corporativos em 2024. Esse valor foi destinado a “entidades não filiadas” entre janeiro e setembro, e incluem tanto seus braços de investimento de risco quanto os mais seguros. O montante representa aumento em relação a 2023, que teve 39 rodadas e US$ 872 milhões aplicados.

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O boom de negócios da gigante tem motivo: ela acumulou US$ 9 bilhões com suas GPUs, que se tornaram uma das commodities mais procuradas do mundo. Além disso, o lançamento do ChatGPT, há dois anos, fez o mercado registrar um aumento sem precedentes nos investimentos em IA.

Isso porque toda inteligência artificial precisa de uma enorme quantia de dados para funcionar. Estes, por sua vez, exigem infraestrutura de computadores de ponta na hora de processar informações.

Recentemente, Mark Zuckerberg, fundador da Meta, afirmou que a grande IA da empresa, o modelo Llama, é treinado com um conjunto de GPUs “maior do que qualquer outra coisa que já foi vista antes”. A dona do Facebook e Instagram é um dos principais clientes da fabricante – mas está longe de ser o único.

As ações da Nvidia subiram mais de 170% ao longo de 2024 ao mesmo tempo que se tornou símbolo da ascensão da IA. Porém, alguns de seus maiores clientes, como Microsoft, Amazon e Google, já tentam desenvolver chips proprietários, a fim de reduzir a dependência de GPUs. Por isso existe a tendência de que desenvolvedoras menores de IA se transformem em fonte de receita importante para a Nvidia no futuro.

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“Neste momento, a Nvidia quer mais competição, e faz sentido para eles ter novos players no mercado”, disse um gestor de fundos que investiu em várias empresas apoiadas pela gigante ao jornal Financial Times.

Até agora, a Nvidia fechou mais negócios do que a Microsoft e Amazon, embora o Google continue sendo mais ativo no mercado, segundo a Dealroom.

O acordo mais recente foi na xAI, de Elon Musk, ao lado da rival fabricante de chips AMD. Outros investimentos significativos em 2024 incluíram a participação em rodadas de financiamento para a OpenAI, Cohere, Mistral e Perplexity.

A Nvidia também possui uma própria incubadora de startups, a Inception, que ajuda a evolução inicial de empresas emergentes ao oferecer “preços preferenciais” em hardware e créditos em nuvem de parceiros.

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No entanto, a prolífica atividade gerou preocupações sobre o controle da empresa na indústria de IA, principalmente no momento de maior escrutínio antitruste dos Estados Unidos, Europa e China.

A prolífica atividade gerou preocupações sobre o controle da empresa na indústria de IA, principalmente no momento de maior escrutínio antitruste dos Estados Unidos, Europa e China.. (Jim Wilson/The New York Times) Foto: Jim Wilson/NYT

O Departamento de Justiça dos EUA investiga desde agosto do ano passado queixas de concorrentes de que a empresa tem práticas abusivas de mercado. De acordo com o site The Information, a Nvidia explora sua dominância comercial que abrange cerca de 80% do mercado de chips de IA.

Bill Kovacic, ex-presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA, afirmou que órgão reguladores estão atentos a uma “empresa dominante fazendo grandes investimentos” para verificar se a compra de participações tende a “alcançar exclusividade”.

Na União Europeia (UE), a aquisição da Run:ai, uma plataforma israelense de gerenciamento de cargas de trabalho de IA entrou na mira do órgão regulador. O acordo foi fechado após conferência do regulador antitruste UE, que aprovou a transação. O Departamento de Justiça dos EUA também avaliava o acordo, de acordo com Kovacic.

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Um fato semelhante aconteceu na China: o regulador antitruste do país asiático abriu investigação sobre a Nvidia. A Administração Estatal de Regulamentação do Mercado da China vai se aprofundar na possível violação dos compromissos assumidos durante a aquisição da rede Mellanox, aprovada pelo regulador em 2020 sob condições de evitar práticas anticompetitivas e garantir o fornecimento para a China. A medida ocorre depois que o governo Biden bloqueou a venda de chips e componentes de última geração para a China em dezembro de 2024.

A Nvidia rejeita de maneira enfática a ideia de que vincule investimentos a qualquer exigência de uso de sua tecnologia. “Trabalhamos para expandir nosso ecossistema, apoiar grandes empresas e melhorar nossa plataforma para todos. Competimos e vencemos por mérito, independente de qualquer investimento que fazemos”.

“Cada empresa deve ser livre para fazer escolhas tecnológicas independentes que atendam melhor às suas necessidades e estratégias”, diz a empresa.

Sobre a diversificação de mercado, a Nvidia despeja milhares de dólares em grupos de IA desenvolvedores de tecnologia médica, motores de busca, jogos, drones, chips, gestão de tráfego, logística, armazenamento e geração de dados, processamento de linguagem natural e até robôs humanoides.

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O portfólio inclui várias startups cujas avaliações dispararam para os bilhões de dólares. A CoreWeave, um provedor de serviços de computação em nuvem de IA teve aporte de US$ 100 milhões (R$ 618 milhões) da gigante em 2023. Hoje, ela se prepara para abrir capital com avaliação de até US$ 35 bilhões (R$ 216 bilhões).

A Applied Digital, que enfrentava queda no preço das ações em 2024 por ter falhas de receita e dívidas, recebeu US$ 160 milhões (R$ 988 milhões) de capital de ações em setembro, e recuperou 65% de seu valor.

“A Nvidia está usando sua enorme capitalização de mercado e grande fluxo de caixa para manter compradores vivos”, diz Nate Koppikar, vendedor da Orso Partners. “Se a Applied Digital tivesse falido, esse [grande volume] de vendas teria morrido com ela”.

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