O que a maior compra da história do Google diz sobre o futuro da companhia

Gigante de tecnologia comprou a Wiz por US$ 32 bilhões de dólares em busca de ampliação na atuação no setor de cibersegurança e computação em nuvem

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Foto do author Bruna Arimathea
Atualização:

A aquisição da Wiz, startup de cibersegurança que custou US$ 32 bilhões à Alphabet, empresa mãe do Google, já é considerada a maior transação da história da empresa e deve fortalecer o seu ecossistema de computação em nuvem. Mas o reforço na área de cloud também pode ser entendido como uma tentativa de aumentar a participação em um mercado em que, hoje, o Google tem dificuldades para atingir a liderança - e que deseja transformar em uma importante fonte alternativa de receita.

Apesar de ainda precisar da aprovação da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC), a compra da Wiz deixou clara a mensagem que o Google quer passar para seus rivais: o momento é de encurtar distâncias para os concorrentes e solidificar todas as pontas da operação.

Google busca novas fontes de receita com compra da Wiz  Foto: Michael Probst/AP

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“[A empresa está] com recursos, demanda por investimentos e em busca de uma renovação dos seus serviços para o mercado, além da solução usual como um buscador de internet. Foco em acelerar as habilidades em cloud e segurança, temas centrais para importantes clientes corporativos”, explica Hugo Tadeu, diretor do núcleo de inovação, inteligência artificial e tecnologias digitais da Fundação Dom Cabral.

Isso porque a compra dá força ao Google Cloud, a divisão que vende serviços de computação em nuvem para outras empresas. Seria também o esforço mais agressivo da gigante da tecnologia para acompanhar outras companhias na disputa pelo mercado de segurança e nuvem. Nesse setor, o maior fornecedor é a Amazon, com o serviço AWS, com mais de um terço do mercado, seguida pela Microsoft Azure.

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“Hoje, as empresas e os governos que operam na nuvem estão procurando soluções de segurança ainda mais fortes e mais opções de provedores de computação em nuvem”, disse Sundar Pichai, executivo-chefe do Google, em um comunicado. “Juntos, o Google Cloud e o Wiz vão turbinar a segurança aprimorada da nuvem e a capacidade de usar várias nuvens.”

“O foco está em escalar os serviços na nuvem, em tempos de IA e demanda alta por infraestrutura. Mais importante é reduzir a distância entre o Google e outros concorrentes de mercado”, aponta Tadeu. “O Google precisa andar junto com seus concorrentes como Microsoft, Oracle e AWS nesta corrida”.

A diversificação pode ser uma das estratégias da empresa para o momento. Em outras frentes, o Google tem enfrentado uma concorrência que cresce cada vez mais, seja pelo surgimento de outras companhias ou pela mudança do comportamento do consumidor.

Na área de busca, por exemplo, o Google lida com o fenômeno de migração do uso do site de pesquisas para redes sociais, como o TikTok - cerca de 21% dos jovens de 18 a 24 anos já iniciam suas pesquisas pela rede de vídeos chinesa, afirmou uma pesquisa da YPulse encomendada pelo site Axios. E há o crescimento de novos rivais, como a startup Perplexity AI, que usa algoritmos de forma esperta para oferecer respostas aos usuários.

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Ainda que seja líder no mercado de receitas publicitárias originadas tanto na ferramenta de buscas, como em serviços como o YouTube, o risco regulatório, que enxerga a companhia como dona de um monopólio no setor, causa risco ao futuro do modelo de negócios.

Outra frente que poderia representar uma diversificação de receita é a inteligência artificial (IA). No entanto, a disputa é ainda mais intensa e vitória proporcionalmente incerta. Embora tenha desenvolvido modelos há mais de uma década, o mercado dá tanta ou mais atenção para nomes como OpenAI, Microsoft, Meta — além de startups, como Anthropic e Mistral, além de modelos chineses, como o DeepSeek e o Qwen. Embora o Google tenha o Gemini, seu chatbot próprio, a comoditização de modelos de IA e a ferrenha disputa por produtos não garantem um caminho tranquilo para a gigante.

Raul Ikeda, professor do Insper, ressalta também a importância técnica da Wiz para o Google. A empresa oferece uma plataforma que funciona com outros provedores de nuvem diferentes, o que faz com que o seu produto possa ser utilizado em integrações de dados de companhias diferentes.

“[A Wiz] tem algumas tecnicidades que são bem interessantes, elogiadas pelos analistas de mercado, o Google enxerga algo que pode ser o diferencial para eles. Obviamente, se o Google incorpora isso no seu portfólio e oferece algum benefício utilizando a própria nuvem, ou ferramentas personalizadas, isso traz uma certa vantagem competitiva para o Google Cloud”, aponta Ikeda.

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A própria Wiz já tinha recebido uma oferta do Google no ano passado, no valor de US$ 23 bilhões, mas que não foi aceita pelo conselho da empresa, que na época estudava a possibilidade de um IPO. Agora, o ambiente regulatório supostamente mais favorável e o cheque oferecido pela gigante - junto com uma cláusula de quebra de contrato de mais de US$ 3 bilhões - foram suficientes para colocar a startup no time da Alphabet.

Segundo Rodrigo Togneri, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a Wiz leva, ainda, uma potencialização dos serviços de cibersegurança, mercado que, por si só, já representa um setor bastante lucrativo - e que o Google também fica atrás de suas rivais.

“O Google busca entrar mais forte no mercado de cibersegurança, que é muito grande e com um potencial crescente ainda maior, porque o uso de inteligência artificial tende a acelerar ainda mais o uso de dados e os contratos de cloud. Além disso, o Google quer sentar na mesa com clientes que ainda não consomem seus produtos”, afirma Togneri.

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