Após 19 anos, Berthier Ribeiro-Neto, primeiro funcionário do Google no Brasil, vai deixar a empresa. O comunicado do desligamento, apurou o Estadão, aconteceu internamente nesta sexta, 14, e partiu do profissional, que citou a busca por “novas aventuras”. Atualmente no cargo de diretor de engenharia do centro de Belo Horizonte da gigante, ele fica na companhia até meados de julho.
Ribeiro-Neto é um dos responsáveis pela origem “mineira” do Google no País - e por colocar a capital mineira no mapa da inovação nacional. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais, ele é um dos cofundadores da startup Akwan (que em Guarani quer dizer “ligeiro”). O principal produto da companhia era um buscador de internet chamado TodoBR, que foi conquistando clientes até chamar a atenção da matriz americana do Google.
Em 2004, a gigante americana fez uma proposta de US$ 225 milhões (a cifra não é confirmada pela companhia) pela Akwan para incorporar os profissionais e a sua tecnologia - foi a primeira aquisição do Google fora dos EUA. Em 20 de julho de 2005, o Google Brasil estreou oficialmente no País e o TodoBR foi aposentado. Ribeiro-Neto permaneceu como diretor de engenharia, tornando-se o primeiro “googler” no País.
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Especialista em buscas, Ribeiro-Neto trabalhou em diferentes produtos da companhia, além do seu carro-chefe. Entre os serviços que tiveram a participação do engenheiro estão o Orkut, o Google Plus e o app Family Link. Desde então, liderado por Ribeiro-Neto, o centro de engenharia de Belo Horizonte passou a fazer contribuições para tecnologias implementadas globalmente, o que inspirou a expansão da Big Tech no País com a abertura do centro de engenharia de São Paulo. Na última semana, a gigante disse em seu principal evento no País, o Google for Brasil, que gerou R$ 188 bilhões à economia brasileira por meio da busca, dos anúncios do YouTube e outros serviços.
A saída de Ribeiro-Neto acontece em um cenário desafiador para a ferramenta de buscas do Google. Ela viu a chegada de rivais não óbvios pela busca do conhecimento online, como o uso do TikTok pela geração z (nascidos entre 1995 e 2010) e a ascensão do ChatGPT e da inteligência artificial generativa. Até aqui, a implementação da gigante da nova tecnologia tem variado entre desastrada, com erros bizarros, e preocupante, gerando riscos para a internet como conhecemos.
No momento, não é possível saber se tudo isso pesou na decisão do engenheiro - os dois escritórios brasileiros estão com vagas abertas. Aos amigos, ele demonstra orgulho pela história construída e já avisou, sem dar muitos detalhes, que planeja continuar envolvido com o ecossistema de inovação nacional.
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