O programa de corporate venture capital (CVC, participação em empresas fechadas) do Banco do Brasil já fez investimentos da ordem de R$ 200 milhões, de um total de R$ 270 milhões disponíveis, após analisar 344 empresas inovadoras. Neste mês, o banco anunciou dois aportes, na fintech Pagaleve e na govtech (de serviços de governo) Aprova Digital. E continua em busca de oportunidades.
“Nós já examinamos 344 empresas, e o tempo inteiro nós estamos examinando”, diz o presidente do banco, Fausto Ribeiro, ao Estadão/Broadcast. Segundo ele, o programa de CVC do banco tem um tamanho ainda moderado na comparação com pares, mas está fazendo apostas tão importantes quanto do ponto de vista estratégico.
Como toda grande empresa que parte para aportes em startups, o BB tem buscado no mercado peças para montar o quebra-cabeça do próprio futuro. No caso do banco, empresas que ajudem a acelerar a transformação digital de produtos e processos, a atrair o público jovem e a explorar soluções relacionadas a novas tecnologias, como o blockchain.
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Neste ano, o BB anunciou quatro investimentos através de dois fundos exclusivos. Na fintech Yours Bank, aportou R$ 5 milhões em busca de respostas para a pergunta com a qual todos os bancos tradicionais se debatem: como atrair para a clientela a população mais jovem.
“Uma das necessidades do Banco do Brasil é de rejuvenescer a base, que está com uma idade média de 35 a 40 anos. Precisamos, para a perenidade da empresa, reduzir essa idade média”, diz o executivo. “A Yours teve uma boa experiência com crianças e jovens, tem uma pegada de educação financeira, jornadas gamificadas (similares aos jogos eletrônicos), e a utilização de serviços financeiros.”
Na Bitfy, uma espécie de carteira digital para criptoativos, o BB investiu R$ 11 milhões de olho na aplicação do blockchain, a tecnologia que torna possível essa classe de ativos, e na criação de representações digitais de ativos reais, a chamada tokenização. Nisto, o banco vê uma relação com outro pilar estratégico, o da sustentabilidade. Ribeiro comenta que através dos tokens, será possível por exemplo dividir créditos de carbono em unidades menores, facilitando serviços de compensação de emissões direcionados a pessoas físicas em aplicativos de mobilidade, por exemplo.
Mais dois aportes
Os dois aportes mais recentes foram na Pagaleve, de pagamentos digitais, e que recebeu US$ 2 milhões de um dos fundos do banco, e na Aprova Digital, que digitaliza serviços de governo e recebeu a maior rodada de investimentos de uma govtech na América Latina, com R$ 22,5 milhões ao todo.
Na Pagaleve, o BB quer aprender mais sobre o processo de pagamento em lojas virtuais, o chamado checkout, além de mergulhar no parcelamento de compras via Pix, uma das apostas do mercado para os próximos anos. O banco vê, na combinação dos dois fatores, uma avenida de negócios para o shopping virtual atrelado a seu aplicativo, o Shopping BB - que se chamava Loja BB, mas vai mudar de nome após chegar a 100 lojas cadastradas.
O volume bruto de vendas (GMV, na sigla em inglês) do shopping virtual do banco bateu em R$ 1 bilhão, com uma comissão sobre cada compra de cerca de 7%, diversificando a receita do conglomerado com serviços. Ribeiro considera que o Pix parcelado é uma tendência certa, mas que traz desafios à instituição que a Pagaleve pode ajudar a equacionar.
“Tenho que estar preparado para lidar com o mar aberto (clientes não-correntistas), que precisa ter limite de crédito comigo. Vamos dar um passo de cada vez”, comenta. “O banco é mais tradicional, mais conservador nessas abordagens. Mas isso vai impulsionar o nosso Shopping, que é só para clientes.”
Para além dos fundos exclusivos, o programa de CVC do BB tem investimentos em outras 38 startups através de cinco fundos multimercado. Em algumas, há opções de compra no futuro, caso os negócios se provem viáveis e tenham sucesso.
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