Do feed nas rede sociais ao clique para o próximo vídeo, os anúncios estão por toda a parte no mundo digital - afinal, essa é a principal fonte de receita de muitas empresas de tecnologia. No entanto, já é possível pagar por serviços para navegar livre de anúncios, ou parte deles. O problema é o custo: pode variar entre R$ 1,7 mil e R$ 2,7 mil por ano, dependendo da cesta de serviços escolhidos.
O levantamento do Estadão levou em conta apenas os serviços mais populares, que oferecem planos pagos para fugir de anúncios: YouTube, Spotify, X (ex-Twitter), Telegram e Netflix (veja abaixo detalhes).
Com os preços praticados por essas plataformas, o pagamento para retirar os anúncios nos pacotes mais econômicos seria R$ 143,60 por mês - ou R$ 1.723,20 ao ano, mais do que um salário mínimo (R$ 1.320). Quem pode ostentar os planos mais caros, por sua vez, pode desembolsar R$ 226 ao mês ou até R$ 2.719,20.
YouTube Premium
O YouTube Premium possui planos por assinatura que entregam mais do que uma vida livre das propagadas. São três planos: o individual por R$ 32,90 ao mês e família por R$ 54,90. Esta última opção pode ser compartilhada com até cinco pessoas, todas maiores de 13 anos, que moram na mesma casa. O pagamento permite ao usuário utilizar o app sem anúncios, fazer downloads de vídeos na plataforma e a possibilidade de assistir aos vídeos em segundo plano, inclusive com a tela desligada, algo impossível antes de 2018.
Spotify
O Spotify possui perfis para todos os bolsos e promete vantagens. Além das músicas sem anúncio, o usuário pode usar o modo offline, no qual é possível fazer download de músicas e ouvi-las a qualquer momento mesmo sem conexão com a internet. São quatro pacotes mensais. O individual no valor de R$ 21,90; universitário a R$ 11,90; duo (compartilhar com uma pessoa) a R$ 27,90; e o família a R$ 34,90 podendo conectar até 6 contas.
X Premium
Um pouco mais distante da vida 100% sem anúncios, o X (antigo Twitter) permite ao usuário reduzir a quantidade de propagandas na plataforma. Com o X Premium funciona assim: ao adquirir um plano anual de R$ 629 ou mensal de R$ 60, o internauta poderá ver “aproximadamente, 50% menos anúncios” nas abas Para Você e Seguindo. Além disso, as publicações do assinante são priorizadas nas conversas e nas buscas, ele poderá publicar textos mais longos e com opções de negrito e itálico, fazer uploads de vídeos longos e em HD, editar post publicado e utilizar imagens NFT no perfil.
Telegram
O Telegram também conta com opção livre dos anúncios que são veiculados nos canais de comunicação no app. Por R$ 149,90 ao ano ou R$ 19,90 ao mês os assinantes do Telegram Premium podem ter prioridade nas publicações de stories, transcrições de áudio em texto e traduções para outros idiomas em tempo real, downloads mais rápidos, upload de arquivos de até 4 GB, dentre outros.
Netflix
Seguindo o caminho contrário das plataformas, a Netflix tem um plano para quem quer economizar e não se incomoda com os anúncios. Se esse é o seu caso, é possível pagar R$ 18,90 para conexão em dois aparelhos na mesma residência com propagandas na tela. Quem pode pagar um pouco mais e não quer saber de propaganda precisa desembolsar ao menos R$ 39,90 no plano Padrão ou R$ 55,90 no Premium que possui maior qualidade de imagem com resoluções de 4K e HDR, até 4 telas podem contas com o plano, mas todas precisam estar na mesma residência.
Tendência que está ganhando força
A tendência de planos livre de anúncios deve ganhar ainda mais força. De acordo com o Washington Post, a Meta, proprietária do Facebook, Whatsapp e Instagram, estuda a criação de uma assinatura mensal, o “pay or okay” (“pague ou tudo bem”, em tradução livre), que pode chegar ao mercado ao custo a US$ 14 a US$ 17.
O TikTok também estuda aderir ao modelo. Com testes ocorrendo fora dos Estados Unidos, o plano, segundo Android Authority, com base nos códigos-fonte do app, deve custar US$ 4,99.
Leia também
Em dólar, levando em conta o futuro lançamento da Meta e do TikTok, para comprar os planos de assinaturas mais baratos seriam necessários US$ 60 ao mês, ou US$ 731 ao ano. As assinaturas mais caras na moeda americana somam US$ 89,95 ao mês, ou US$ 1.079.
Mundo sem propaganda é possível?
Apesar dos planos, é provável que a internet livre de anúncios jamais exista - foram os anúncios que ajudaram a financiar a internet comercial. E, para muitos gigantes da tecnologia, essa ainda é a principal fonte de receita.
A Meta, por exemplo, no segundo trimestre deste ano faturou US$ 31,5 bilhões com publicidade paga, quase toda a receita da empresa no período, que foi de US$ 32 bilhões. O modelo também é importante para o Google, que não oferece uma versão “limpa” de suas ferramentas.
É um modelo que também ajuda pequenos negócios, explica Carlos Rafael Neves, professor de sistemas de Informação da ESPM. Ele lembra que durante muito tempo a publicidade ficou restrita aos mais ricos que poderiam pagar por mídia impressa ou televisionada. Esse quadro começou a mudar após os anos 2000 quando houve um processo de democratização dos anúncios nas redes sociais. Por lá foi possível encontrar preços mais acessíveis e métricas transparentes.
“Eu consigo fazer propagandas no Facebook e no Google com valores incomparáveis com o que tinha antigamente. Quanto eu pagava em um anúncio de TV? Quando eu pagava em um anúncio de rádio? Era inviável para o grande público. Um dentista se quisesse anunciar a clínica dele não ia conseguir”, exemplifica o professor.
Se a internet inteira não tiver mais anúncio e cada site que você entrar você tiver que pagar, a gente vai ter um pequeno colapso
Carlos Rafael Neves, professor de sistemas de Informação da ESPM
Por outro lado, Carlos enfatiza que essa corrida pelo clique transformou iniciou a caça pelos dados dos usuários. Para barrar esse tipo de prática ele cita a iniciativa da Apple na criação do App Tracking Transparency (transparência de rastreamento de apps em tradução livre) que obrigou a Meta e o Google a pedir permissão dos usuários para rastrear atividades.
Isso levou aos modelos de assinaturas rentáveis, como os da Meta, que possam substituir parte das receitas com os anúncios. Caso o modelo por assinatura chegue ao mercado, quem não adquirir o pacote permitirá automaticamente que seus dados sejam rastreados pela plataforma. Apesar das controvérsias sobre o assunto, o professor defende que o banimento das propagandas nas apps seria um retrocesso.
“A gente estaria voltando para o passado, porque se a internet inteira não tiver mais anúncio e cada site que você entrar você tiver que pagar, a gente vai ter um pequeno colapso. As grandes empresas como TikTok e Meta podem se dar ao luxo de fazer esse tipo de teste, mas para outros hubs não necessariamente é possível tirar todos os anúncios e acabou. O mundo vai precisar se adequar”, avaliou Neves.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.