PUBLICIDADE

Quem são os americanos que enriqueceram trabalhando no Uber e na Lyft

Casas, férias, carro autônomo e um salão de dança artísticas são exemplos de aquisições de funcionários que ganharam dinheiro sendo os primeiros a apostar nas plataformas

PUBLICIDADE

Por Kate Conger
O Uber começou a negociar suas ações na Bolsa de Valores no último dia 10 Foto: Jeenah Moon/NYT

O único plano de Brian McMullen naquela noite de quinta-feira era assistir ao máximo possível de jogos de basquete universitários. Em um bar e churrascaria no seu bairro, comendo taco, ele acompanhava um dos jogos na tela de TV do restaurante, ao passo que via outro no seu iPhone.

PUBLICIDADE

Enquanto acompanhava o jogo, McMullen falou sobre sua nova vida em Austin, para onde se mudou em outubro, vindo de San Francisco. Desde então, suas principais atividades eram ler pela primeira vez a série Harry Pottere passar mais de 100 horas jogando o Dragon Quest no videogame. Estava também trabalhando muito, disse, aprendendo a linguagem de codificação para criar seus próprios jogos.

Seu objetivo de médio prazo era viajar durante um mês em lua-de-mel com sua mulher para o Japão. Mas eles decidiram encurtar a viagem e ir a San Francisco encontrar amigos para assistirem a Avengers: Endgame, em abril. “Atualmente venho aproveitando meu tempo”, disse ele.

McMullen, 33 anos, faz parte deum clube exclusivo: o jovem do chamado grupo dos millenials da área de tecnologia, agora meio aposentado, deixou a Califórnia depois de enriquecer. Como muitos do seu grupo, ele é um novo multimilionário que enriqueceu trabalhando para empresas importantes. Com a riqueza assegurada, esses trabalhadores da área de tecnologia deixam as empresas e saem da Califórnia, cujo imposto de renda é 13% mais alto do que o cobrado no país, e partem para Estados como Texas e Florida, onde não têm de pagar algum  imposto de renda estadual.

“Existem vários lugares para onde as pessoas podem ir e há benefícios fiscais”, disse McMullen, que ingressou no Uber em 2011 e está registrado no sistema da companhia como funcionário número 16; “O momento é bom para mudar antes da IPO”.

J.T. Forbus, gestor de impostos na Bogdan & Frasco, em San Francisco, disse que vem recebendo mais perguntas de trabalhadores de tecnologia quanto a se uma mudança de Estado ajuda a evitar os altos impostos, especialmente quando suas empresas começam a ingressar na bolsa. Muitos são recompensados com ações, que em geral se distribuem por quatro anos, mas implicam um imposto pesado quando o funcionárioas recebe e quando são vendidas.

“É uma boa pergunta no caso de uma IPO no caso de a pessoa possuir um número substancial de ações e podeacabar recebendo milhões de dólares”, disse Forbus.

Publicidade

A medida de proteção é conhecida da California Franchise Tax Board, agência estatal responsável pela arrecadação de impostos. No seu guia para os californianos recompensados com ações e que planejam mudar do Estado, guia oferece vários cenários fiscais potenciais usando Estados que cobram impostos baixos como Texas, Florida e Nevada como exemplos.

Para não pagar os impostos cobrados na Califórnia quando vendem suas ações, o indivíduo na verdade tem de sair do Estado. A Califórnia estabelece um imposto de renda sobre as ações que uma pessoa detém quando ela vive no Estado, mas não taxa ações vendidas depois que ela se se mudou para outro Estado.

Recentemente o The New York Times entrevistou sete antigos funcionários do Uber e do Lyft que mudaram para locais onde o imposto é menor. Muitos afirmaram que a principal razão para deixarem seu Estado foi a desilusão com San Francisco, cidade obcecada por tecnologia,e que sua principal preocupação não foi a questão do imposto. Mas nenhum deles tomou a decisão de se mudar para locais onde o imposto é alto, como Nova York e Massachusetts. Num recente estudo sobre impostos na Califórnia, pesquisadores da universidade de Stanford concluíram que as altas alíquotas de imposto sozinhas não levam os milionários a sair do seu Estado e que a migração aumenta quando eles decidem mudar seu estilo de vida estressante.

Muitos dos indivíduos entrevistados pelo Timesestavam usando sua nova riqueza, comprando casas e planejando férias. Vários fizeram compras mais fúteis, como de um Tesla. Um comprou um salão de dança artística no Texas para transformar em residência que incluía uma banheira no centro do quarto. Muitos estavam tirando um ano sabático e experimentando uma nova dieta, fazendo exercícios e meditação. E alguns abriram sua própria startup.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“É quase uma nova geração de aposentados”, disse Tyler Mann, 31 anos, que trabalhou no Dropbox e ganhou algumas centenas de milhares de dólares na companhia cujas ações começaram a ser negociadas em Bolsa no ano passado. Ele mudou para Austin há 18 meses e ali fundou sua própria empresa.

Muitos desses milionários de tecnologia disseram sentir alívio em deixar San Francisco, cidade cada vez mais superlotada e repleta desse pessoal envolvido com tecnologia que são copia carbono um do outro e se referem o tempo todo às suas startups. Eles falaram sobre como estão reiniciando suas vidas, como estavam estressados no trabalho e como estão se recuperando de um esgotamento nervoso. Falaram das festas que participavam e se queixaram de que as comemorações só giravam em torno de trabalho.

“Ficou monótono”, disse Nathan Rodriguez, 30 anos, um dos primeiros 50 funcionários do Lyft, que no ano passado trocou San Francisco por Austin.

Publicidade

Rodríguez deixou o Lyft em 2017 depois de trabalhar na companhia por quatro anos, tempo em que a valorização da empresa disparou mais de 38.200%. Ele então tirou uma licença de dez meses e viajou pelo país. Disse que ganhou menos de US$ 1 milhão na empresa e que rapidamente se tornou um milionário negociando com criptomoeda, antes de este mercado sofrer uma forte queda em 2018. Recentemente em ingressou em uma startup em Austin porque, disse, gosta da sensação de ter um grande impacto em uma companhia pequena e porque gasta muito com médicos depois de um acidente de bicicleta.

McMullen, que nasceu no Norte da Califórnia, foi para San Francisco há oito anos, vindo da cidade de San Luis Obispo, quando uma minúscula startup chamada Uber lhe ofereceu um emprego na área de marketing. Ele trabalhava em uma Apple Store. Seus colegas o alertaram que startups com frequência naufragavam e insistiram para que continuasse no seu emprego estável que oferecia benefícios.

McMullen não os escutou porque queria se mudar para San Francisco. “Tinha uma ideia romântica da cidade”, disse ele.

Uber rapidamente se transformou num mastodonte. Sua iminente oferta pública pode resultar numa valorização de cerca de US$ 86 bilhões, o que significa que a companhia e as opções de ação emitidas para funcionários antigos como McMullen devem ter um aumento de mais de 140.000% do seu valor.

Mas ao longo do caminho ele também vendeu algumas das suas ações no Uber. Depois de trabalhar por tanto tempo na empresa, ele estava motivado a deixar o emprego e ir para algum lugar onde tivesse um maior impacto.

“A ideia de aposentar e ficar sentado numa praia não passa pela cabeça dos millenials”, disse ele. Pelo contrário, sua geração está focada na busca da realização, seguir um tipo de carreira que não se assemelhe a trabalho. Seu objetivo é “reordenar sua vida”, disse ele. / Tradução de Terezinha Martino

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.