Robôs ganham eficiência e ameaçam empregos nas fábricas

Funcionários temem que tecnologia elimine empregos; robôs estão cada vez mais desenvolvidos para o trabalho mecânico

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Por Pranshu Verma
Atualização:

Os robôs para armazéns estão finalmente chegando ao seu momento mais desejado: escolher e organizar objetos com a destreza das mãos humanas. A Amazon tem braços robóticos capazes de pegar e separar itens difíceis de se manusear, como fones de ouvido ou pelúcias, antes de serem encaixotados. A FedEx testou um sistema semelhante em alguns armazéns para organizar correspondências de vários tamanhos. E outras empresas também estão fazendo progressos com eles.

Há décadas, treinar um robô para ser mais parecido com um humano vem desafiando engenheiros, que não conseguiam reproduzir a capacidade de segurar e mover itens. Mas, agora, as conquistas na tecnologia de inteligência artificial (IA), de câmeras e da engenharia estão dando frutos, permitindo que os robôs vejam objetos de formatos e tamanhos variados e ajustem a ação de acordo com a necessidade.

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Segundo os cientistas da computação, a tecnologia está finalmente se tornando confiável o bastante para que as empresas considerem seu uso.

“Este é um momento decisivo”, disse Kris Hauser, especialista em robótica e professor de ciência da computação na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. “Eles são competentes o suficiente a essa altura.”

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Mas há também um debate polêmico. Os críticos temem que os robôs tirem os empregos das pessoas, embora seus defensores digam que isso apenas levará a funções diferentes. Outros mencionam que mais robôs podem ter como consequência um maior número de lesões causadas pelo trabalho, ou maior rigidez na supervisão humana para garantir que as metas estejam sendo atingidas.

Beth Gutelius, professora de desenvolvimento econômico da Universidade de Illinois em Chicago, disse que o modo como as empresas lançam esses robôs sem muitos testes ou consideração pela segurança do trabalhador é preocupante.

“Não deveríamos todos querer que essas coisas funcionassem melhor para mais pessoas?”, questionou.

Os robôs estão em cena há anos, mas tem sido um trabalho árduo para os cientistas fazê-los reproduzir tarefas tão bem como os humanos – principalmente quando elas envolvem mãos. A Amazon tem os robôs Kiva, que lembram os Roombas e movem pacotes no chão da fábrica, porém ainda precisam de humanos para embalá-los e organizá-los.

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Elon Musk já disse anteriormente que iria automatizar as operações na Tesla, porém humanos ainda são necessários para trabalhar na linha de produção da montadora em Fremont, na Califórnia. Ele também apresentou recentemente o protótipo do robô humanoide da Tesla, o Optimus, que tem como objetivo redefinir o trabalho físico.

Há pouco tempo, o Google anunciou robôs alimentados por inteligência artificial para ajudar humanos nas tarefas diárias. Alguns deles estão aprendendo até mesmo a fazer batata frita.

Apesar dos avanços, o desafio mais difícil para os pesquisadores tem sido ensinar os robôs a ajustar suas garras para diferentes tamanhos e formatos, disse Ken Goldberg, professor de engenharia industrial da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Entretanto, na última década, as coisas começaram a mudar, disse ele. A tecnologia de câmeras 3D, impulsionadas pelas câmeras de detecção de movimento do Kinect da Microsoft, tornou-se melhor na identificação de imagens. A aprendizagem profunda, um ramo da inteligência artificial que usa algoritmos inspirados livremente no cérebro humano, permite que os computadores analisem mais imagens. Os pesquisadores começaram a entender melhor a física de agarrar as coisas e integraram isso em ventosas e colhedoras robóticas.

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O resultado: máquinas robóticas modernas que muitas vezes se parecem com braços longos. A visão delas é alimentada por um software que usa algoritmos de aprendizado de máquina para analisar a aparência dos objetos e orientar os robôs sobre como agarrar as coisas. As ventosas ou garras ajustam a pressão e o controle com a delicadeza que os seres humanos acham natural.

A Amazon, em particular, tem tentado alcançar a tecnologia, disseram especialistas do setor. Como uma das maiores varejistas do mundo, atormentada por altos índices de rotatividade e promessas de entregas velozes, faz bastante sentido financeiramente tentar automatizar ao máximo os processos no armazém.

Em 2012, a Amazon adquiriu a empresa de robótica Kiva por US$ 775 milhões de olho na oportunidade. Em 2014, a empresa anunciou um “desafio para segurar”, estimulando cientistas a criar robôs capazes de pegar itens diversos, desde marcadores permanentes a pacotes de biscoito, de uma prateleira móvel.

No mês passado, a Amazon apresentou seu robô de coleta e triagem chamado Sparrow, um braço robótico longo capaz de pegar mercadorias antes de elas serem embaladas em caixas. Ele está sendo pesquisado e desenvolvido em Massachusetts e em uso numa instalação da Amazon em Dallas, disseram funcionários. Ele pode identificar cerca de 65% dos produtos no estoque da empresa, de acordo com as fontes, mas os planos de expansão em todo o país ainda não foram definidos.

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A Amazon vem investindo cada vez mais em inteligência artificial. Foto: Ralph Orlowski/Reuters

O robô se encaixa em uma estratégia de automação mais ampla, de acordo com a Amazon. Se dominar a técnica, Sparrow poderia pegar produtos depois de eles terem sido descarregados de caminhões, e antes de serem empacotados e colocados em prateleiras móveis. Depois dos produtos serem encaixotados, o sistema robótico da Amazon, chamado Robin, poderia organizá-los de acordo com seu destino. Cardinal, outra máquina robótica, poderia colocá-los em um carrinho enquanto esperam para serem carregados em um caminhão.

A Amazon tem dito com frequência que mais máquinas vão permitir que as pessoas encontrem melhores empregos. Os robôs estão “assumindo algumas das tarefas altamente repetitivas dentro de nossas operações, liberando nossos funcionários para trabalhar em outras funções que são mais interessantes”, disse Xavier Van Chau, porta-voz da empresa.

Em março, a gigante de entregas de pacotes e encomendas Pitney Bowes fechou um acordo de US$ 23 milhões com a Ambi Robotics para usar os robôs de separação e triagem da empresa para ajudar a classificar pacotes de vários formatos, tamanhos e embalagens. Em agosto, a FedEx concordou em adquirir US$ 200 milhões em robótica para seus armazéns da Berkshire Grey para realizar tarefas semelhantes. Alguns meses antes disso, ela lançou um robô de triagem de correspondência alimentado por IA na China.

Embora a maior parte da tecnologia tenha começado a aparecer há alguns anos, levou tempo para garantir que esses sistemas diminuíssem as falhas para menos de 1%, disse Hauser, o que é crucial para os resultados da empresa.

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“Cada erro sai caro”, acrescentou. “Mas agora, [os robôs] estão em um ponto no qual podemos de verdade dizer: ‘Ei, isso vai ser tão confiável quanto sua esteira transportadora.’”

A receita gerada pelas empresas que fabricam robôs de separação e triagem está disparando, disse Ash Sharma, especialista em uso de robótica em armazéns pela indústria da Interact Analysis, empresa de pesquisa de mercado.

A Interact calcula que os fabricantes desses produtos vão arrecadar US$ 365 milhões este ano. Para o próximo ano, esse valor deve ser superior a US$ 640 milhões. É um salto em relação aos cerca de US$ 200 milhões em 2021 e os US$ 50 milhões em 2020, que essas empresas geraram em receita, mostram as previsões de dados.

Um fator de peso é a escassez de mão de obra, disse ele.

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Beth, da Universidade de Illinois em Chicago, disse que, embora a tecnologia pareça interessante, ela vem acompanhada de riscos. Com mais robôs nos armazéns, os trabalhadores ao redor deles precisarão trabalhar num ritmo mais veloz, correndo mais risco de se machucar.

O Washington Post já publicou matérias afirmando que os armazéns da Amazon podem ser mais perigosos que os dos concorrentes. Especialistas dizem que acrescentar robôs ao processo pode aumentar as lesões.

Van Chau disse que as máquinas que realizam tarefas repetitivas vão ajudar os trabalhadores. “Podemos tirar um pouco dessa pressão dos funcionários”, disse ele.

Mas Beth diz ser preciso ficar de olho nas empresas que defendem esses robôs como uma ajuda, pois elas tendem a implementar soluções rápido demais.

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“É como aquele famoso lema ‘mexa-se rápido e quebre as coisas’”, disse ela. “E, nesse caso, acho que ‘as coisas quebrando’ terminam sendo as pessoas”./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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