A empresa de tecnologia mais proeminente da Rússia, Yandex, disse que concordou em vender todos os seus ativos no país por cerca de US$ 5 bilhões, o que seria uma das maiores saídas corporativas da Rússia desde sua invasão na Ucrânia. A guerra perturbou o Yandex - frequentemente referida como “o Google da Rússia” - e transformou suas tentativas de navegar entre as políticas autoritárias do Kremlin e um bloqueio ocidental da economia russa no exemplo mais dramático dos efeitos da guerra no outrora aclamado setor de tecnologia do país.
O acordo anunciado na segunda-feira, 5, veio após 18 meses de negociações. É uma tentativa de alguns dos executivos da empresa de protegerem a nova geração de negócios do Yandex das consequências da guerra e de protegê-los de possíveis sanções.
Segundo os termos, a empresa holandesa proprietária do Yandex, conhecida como YNV, venderia todos os seus negócios sediados na Rússia, que representaram 95% de suas receitas entre janeiro e setembro do ano passado, para um grupo de gerentes do Yandex e investidores conectados à Rússia. Os negócios à venda representam a maior parte dos ativos da empresa e empregam a maioria de seus 26 mil funcionários. Os ativos incluem um navegador de internet popular e os principais aplicativos de entrega de alimentos e de táxi da Rússia.
Após a venda, a YNV manteria o controle de quatro subsidiárias menores focadas em inteligência artificial, que já estão operando fora da Rússia. A nova entidade empregaria cerca de 1.300 pessoas, incluindo cerca de mil especialistas em tecnologia, a maioria deles russos. O presidente da YNV disse em um comunicado na segunda-feira que a venda permitiria que os negócios de IA - que desenvolvem tecnologias como carros autônomos, computação em nuvem e aprendizado de máquina - crescessem sob nova propriedade não relacionada à Rússia.
Os compradores pagariam em ações e dinheiro - em yuan chinês transferido para fora da Rússia - em um acordo no valor de cerca de US$ 5,2 bilhões nos preços atuais. Esse valor representa aproximadamente metade da capitalização de mercado atual do Yandex, um reflexo dos grandes descontos que o Kremlin impôs para punir empresas que tentaram sair do país e estão sediadas em países que o Kremlin considera hostis.
Empresas baseadas no Ocidente enfrentaram obstáculos extremos em suas tentativas de deixar a Rússia nos últimos dois anos. As autoridades russas devem aprovar os compradores, preço e termos, muitas vezes obrigando as empresas que estão saindo a vender a preços de liquidação.
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Acordo precisa ser aprovado
O acordo está sujeito a aprovações governamentais na Rússia e deve ser aceitável para os reguladores europeus. O Yandex disse que espera que a primeira etapa da venda ocorra até o meio do ano. Alexei Kudrin, auditor-chefe do governo russo e confidente de longa data do presidente Vladimir Putin, tornou-se conselheiro oficial dos negócios russos do Yandex em dezembro de 2022, um passo amplamente visto como uma tentativa de obter apoio governamental para o plano de reestruturação.
“Para nós, é importante que a empresa continue operando dentro de nosso país”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, a repórteres na segunda-feira, referindo-se ao Yandex. Se o acordo for aprovado, “a administração russa da empresa permanecerá como o maior acionista - isso também é importante”, disse ele, acrescentando que não pode comentar os detalhes das negociações corporativas.
Várias empresas baseadas no Ocidente, incluindo a cervejaria dinamarquesa Carlsberg e a empresa de energia alemã Uniper, haviam anunciado a venda de seus ativos russos para compradores locais, apenas para terem os acordos frustrados pelo Kremlin. Os compradores da empresa de tecnologia mais reconhecível da Rússia não incluem nenhum membro proeminente da elite empresarial do país, um reflexo da difícil tarefa da YNV de encontrar investidores com bolsos grandes o suficiente, mas sem conexões diretas com o governo russo ou oficiais e oligarcas sancionados.
O grupo de compradores é liderado por alguns membros da equipe de gerenciamento russo do Yandex e inclui o empresário de tecnologia Alexander Chachava e um fundo de investimento de propriedade da maior empresa privada de petróleo da Rússia, a Lukoil. A YNV disse que nenhum dos compradores está sob sanções ocidentais e eles não estão autorizados a vender ou transferir suas participações por um ano após a conclusão do acordo. Essas condições visam abordar as preocupações ocidentais de que o acordo possa beneficiar ultimamente os insiders do Kremlin.
Críticas à invasão da Ucrânia
Após a invasão da Ucrânia, pelo menos três executivos seniores do Yandex condenaram publicamente a guerra, tornando-se alguns dos empresários russos mais proeminentes a romperem com a linha do governo. Milhares de funcionários da empresa deixaram o país após a invasão, muitas vezes para continuar trabalhando remotamente.
As declarações anti-guerra, no entanto, não protegeram a empresa do backlash ocidental. A União Europeia impôs sanções ao fundador do Yandex, Arkady Volozh, e ao seu vice-presidente na época, Tigran Khudaverdyan, por facilitar o esforço de guerra da Rússia, obrigando-os a deixar a empresa para manter seu acesso aos serviços financeiros ocidentais. A União Europeia disse que o serviço de agregação de notícias do Yandex, na época, bloqueou conteúdo anti-guerra, efetivamente facilitando a propaganda da Rússia.
A empresa disse que não teve escolha a não ser cumprir as rígidas leis de censura da Rússia e desde então vendeu o serviço de agregação de notícias. Volozh chamou as sanções contra ele de “equivocadas”. “A invasão da Rússia à Ucrânia é bárbara, e eu sou categoricamente contra ela”, disse Volozh, que mora em Israel, em um comunicado em agosto. “Eu tenho que assumir minha parcela de responsabilidade pelas ações do país”, disse ele, sem oferecer detalhes adicionais. Depois de ser sancionado, Volosh cortou laços formais com a YNV, mas ainda possui cerca de 8% das ações da empresa./THE NEW YORK TIMES
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