Mulheres que trabalham no mercado de tecnologia não estão livres dos problemas vistos em outras áreas do mercado de trabalho. Uma pesquisa feita pela Web Summit, um dos principais eventos de tecnologia do mundo, divulgou que as mulheres do setor se sentem mal pagas, mal representadas e mal financiadas.
Entre as mais de mil entrevistadas, 51% delas dizem se sentir mal remuneradas no setor. Além disso, 75% acreditam ter que trabalhar mais para serem reconhecidas da mesma forma que seus colegas homens.
“Ainda vejo discrepâncias de salários entre gêneros com a mesma posição”, disse uma das entrevistadas.
Segundo dados da Nash Squared divulgados no relatório, apenas 14% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres na indústria da tecnologia. Esse número é menor, mas não tão diferente de outras grandes empresas, em que a porcentagem de cargos de liderança é de apenas 26% a 29%. Em contrapartida ao cenário pouco animador, 76% das entrevistadas se sentem preparadas para ser líderes.
“A cultura que o setor de tecnologia promove é inclinada para a cultura masculina tóxica, celebrando líderes egoístas como Musk e admirando líderes femininas que copiam um comportamento semelhante”, disse uma das entrevistadas.
Ainda, 69% se dizem insatisfeitas com as medidas que as empresas tomam para reverter esse cenário.
“Ser mulher em um ambiente predominantemente masculino significa ter de provar suas habilidades duas vezes mais, enfrentando desafios adicionais para ser reconhecida e valorizada”, disse outra entrevistada.
Nesse contexto, os avanços da inteligência artificial (IA) aparecem como aliados para o futuro feminino na indústria. E 68% das entrevistadas acreditam que o impacto das IAs pode ser positivo para a igualdade de gênero no mercado.
Leia também
Quais são os principais fatores por trás desses números?
Mesmo em 2024, a questão sobre a escolha entre a carreira e a família segue sendo um obstáculo para as mulheres do mercado de trabalho, já que 49% delas se sentem pressionadas a optar por um dos lados. Esse número teve uma piora de 7% em relação à pesquisa do ano passado.
“Sem um suporte eficaz para o cuidado de crianças, fica mais difícil para as mulheres que também desejam ter uma família, participarem plenamente da força de trabalho”, disse uma das entrevistadas.
O machismo persiste nesses ambientes, e a pesquisa mostra que 50,8% das mulheres sentem as consequências do sexismo no ambiente de trabalho.
“Geralmente interrompem a mim e as minhas opiniões durante as reuniões”, disse uma das entrevistadas.
Preconceito de gênero, escolha entre carreira e família, carência de inspirações femininas no setor, síndrome de impostora, falta de suporte e dificuldades em financiamento estão entre os principais desafios para o avanço em lideranças femininas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.