Sam Altman, ‘pai do ChatGPT’ e chefão da OpenAI, é expulso do comando da empresa

Candidato a novo personagem do Vale do Silício, Altman foi retirado pelo conselho, que falou em ‘perda de confiança’

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Atualização:

Sam Altman, fundador da OpenAI e “pai do ChatGPT”, foi expulso do comando da startup americana. O anúncio foi publicado no site da companhia na tarde desta sexta-feira, 17. Altman, que figurava como candidato a um dos novos líderes do Vale do Silício, deixará o cargo de presidente executivo e também o conselho de diretores da companhia.

Segundo a OpenAI, a saída de Altman ocorre após o conselho diretor da empresa decidir que ele não era “consistentemente claro em suas comunicações com o conselho, minando suas responsabilidades”. “O conselho (da OpenAI) não tem confiança na habilidade de Sam Altman de continuar liderando”, diz o comunicado. “Agradecemos as muitas contribuições de Altman para a fundação e crescimento da OpenAI”.

Sam Altman foi expulso pelo conselho da OpenAI  Foto: Eric Risberg/AP

Pouco depois do anúncio, Altman foi ao X (antigo Twitter) para comentar a saída: “Adorei meu tempo na OpenAI. Foi transformador para mim pessoalmente e, espero, para o mundo. Acima de tudo, adorei trabalhar com pessoas tão talentosas. Terei mais a dizer sobre o que está por vir mais tarde”, escreveu.

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De forma interina, quem vai assumir o cargo de CEO da OpenAI é Mira Murati, então a chefe de tecnologia (CTO) da companhia — no mundo das startups, esse posto costuma ser o segundo mais importante na hierarquia da empresa. Saiba mais quem é Mira Murati.

Ainda, a companhia afirma que acredita que Mira Murati deve levar adiante a missão da companhia: ela “é extremamente qualificada para pisar no cargo de CEO interina. Temos a maior confiança em sua capacidade de liderar a OpenAI durante esse período de transição”, diz o conselho de diretores.

Mirando grandes objetivos em inteligência artificial (IA), a OpenAI foi fundada em 2015, como organização de pesquisa sem fins lucrativos — um dos investidores iniciais do projeto foi Elon Musk, bilionário que abandonou a companhia por supostas divergências éticas nos anos seguintes.

Mira Murati será a nova comandante da OpenAI  Foto: Patrick T. Fallon / AFP

Em 2019, a empresa criou um braço com fins lucrativos, o que possibilitava que a OpenAI e Altman levantassem dinheiro de investidores externos para acelerar os produtos de IA da companhia. Nesse período, a startup levantou US$ 13 bilhões da Microsoft.

Atualmente, a OpenAI é uma das startups mais valiosas do mundo, com valor estimado em US$ 80 bilhões e expectativa de levantar ainda mais dinheiro nos próximos meses. Esse valor coloca a startup como a terceira companhia mais valiosa do mundo não-listada em Bolsa, atrás da ByteDance (dona do TikTok) e Space X.

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Quem é Sam Altman

A trajetória de ascensão e queda de Altman, 38, reflete a velocidade do campo da inteligência artificial em 2023. O executivo foi responsável por colocar o ChatGPT no mundo, em novembro de 2022. Desde então, tornou-se um dos nomes mais importantes da tecnologia em 2023 - sua queda ocorre perto de completar um ano do lançamento do chatbot inteligente.

A surpresa pela queda de Altman ocorre também porque, há apenas 10 dias, ele liderou e apresentou o principal evento da OpenAI no ano, no qual revelou novas capacidades para o ChatGPT, como o recurso de criar chatbots personalizados. Neste ano, ele esteve no Brasil e falou ao Estadão que muitos empregos vão desaparecer por causa da IA.

Antes de assumir o comando da OpenAI, o executivo tem passagem pela aceleradora de startups Y Combinator, responsável por impulsionar centenas de projetos nos últimos anos, incluindo Airbnb, Reddit e Stripe.

Graças à passagem pelo mundo das startups, é atribuído à Altman a guinada comercial da OpenAI. Em 2019, ele expressou a necessidade de dinheiro para a revista Wired. “A quantidade de dinheiro que precisamos para ter sucesso em nossa missão é muito mais gigante do que eu pensava”, disse.

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No mesmo ano, a OpenAI criou um braço for profit (ou seja, que visa ao lucro) e nomeou Altman, na época com 34 anos, como CEO. Na sequência, a OpenAI fechou um primeiro investimento com a Microsoft - publicamente, falava-se em US$ 1 bilhão, mas a Fortune afirma que foram US$ 3 bilhões. No começo deste ano, após o sucesso do ChatGPT, as partes acertaram um acordo ainda maior: outros US$ 10 bilhões.

Na guinada comercial, criou-se também uma estrutura complexa, na qual todos os lucros são direcionados aos investidores até que o valor inicial - e posteriormente o pagamento do investimento - sejam quitados. A Microsoft tem direito a US$ 92 bilhões, enquanto os outros têm direito a US$ 150 bilhões.

Em 2021, a OpenAI recebeu investimentos de alguns dos gigantes do capital de risco focados em tecnologia: Tiger Global, Sequoia Capital e Andreessen Horowitz.

Obsessão por máquinas conscientes

O ChatGPT não era a única obsessão de Altman. Nos últimos meses, o executivo afirmava que a OpenAI busca criar a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) — capaz de realizar tarefas humanas, com superinteligência de máquina, o que gerou debates sobre a capacidade de máquinas exterminarem a Humanidade.

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Em 2016, ele disse à revista New Yorker que tinha dois medos: pandemias causadas por vírus sintetizados em laboratórios e ataques por IA que resultassem em catástrofe nuclear. “Tento não pensar muito a respeito, mas tenho armas, ouro, iodeto de potássio, antibióticos, baterias, máscaras de gás da Força de Defesa Israelense e um grande pedaço de terra para onde posso fugir”, disse ele à reportagem.

As falas fortes, com certo apelo para o mundo da ficção, movimentaram especialistas, reguladores e autoridades em todo mundo ao longo do ano. Ele também pediu regulação do setor em diversos países pelo mundo, mas, nas discussões, ele tentava não reprimir o desenvolvimento da tecnologia por sua companhia. Por outro lado, ele sugeriu ao governo Biden que novos entrantes nesse mercado deveriam buscar licenças de operação, o que foi rejeitado na ordem executiva emitida pelo presidente americano em 30 de outubro.

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