Pela terceira vez neste ano, uma empresa privada leva pessoas para "turistar" no espaço – e desta vez, o salto foi ainda mais alto. Nesta quarta-feira, 15, a SpaceX, empresa de exploração espacial do bilionário Elon Musk, lançou uma tripulação com quatro civis em uma viagem na órbita da Terra. Com o feito, o fundador da Tesla leva o turismo espacial a outro patamar: os voos da Blue Origin, de Jeff Bezos, e da Virgin Galactic, de Richard Branson, realizados em julho, ficaram em altitudes mais baixas e não chegaram a entrar em órbita.
A missão, chamada de Inspiration4, é a primeira da história a lançar pessoas comuns em órbita terrestre. Até então, a SpaceX só havia enviado uma tripulação de astronautas para esse tipo de viagem espacial no ano passado, o que também foi um feito inédito para uma companhia privada. A decolagem do foguete Falcon 9 ocorreu com sucesso às 21h03 (horário de Brasília).
A sequência a seguir foi muito rápida: às 21h04, a nave atingiu velocidade supersônica, às 21h06, o primeiro estágio se separou, às 21h08, a nave atingiu 10 mil km/h, às 21h11, a nave atingiu 20 mil km/h. Na sequência, vieram eventos fundamentais: às 21h12, a nave atingiu velocidade máxima (27,3 mil km/h) enquanto ao mesmo tempo o primeiro estágio pousava na Terra. Às 21h13, a nave entrou em órbita e, às 21h15, o segundo estágio se separou. Nesse momento, a nave estava a 200 km de altitude e seguiu viagem em direção a altitude máxima (575 km).
Em três minutos, às 21h06, a nave já havia superado a altitude dos voos de Bezos e Branson, cruzando a marca de 100 km de altitude.
Reveja a transmissão abaixo:
Ao contrário de Bezos e Branson, Elon Musk não embarcou na aventura. A nave foi lançada com quatro passageiros: Jared Isaacman (bilionário de 38 anos, fundador da empresa de pagamentos Shift4 Payments), Hayley Arceneaux (médica de 29 anos que sobreviveu a um câncer ósseo), Chris Sembroski (veterano da força aérea dos Estados Unidos de 42 anos) e Sian Proctor (geologista de 51 anos).
Isaacman pagou por todos os assentos no voo – o valor desembolsado não foi revelado. O plano é usar a viagem para arrecadar fundos para um hospital americano de tratamento de câncer infantil. Entre as cargas da Inspiration4, estarão um conjunto de experimentos relacionados à saúde, e os objetos usados serão leiloados. A missão pretende arrecadar US$ 200 milhões para o hospital de pesquisa – Isaacman doará outros US$ 100 milhões.
A nave atingiu velocidade máxima de 27,3 mil km/h e chegará a uma altitude de 575 quilômetros – bem acima da posição da Estação Espacial Internacional, que está em órbita a 408 km de distância da Terra. A tripulação viajará em órbita por cerca de três dias e depois reentrará na atmosfera. O pouso final será um mergulho na Costa do Golfo ou na Costa Atlântica da Flórida.
Fora de órbita
O voo da SpaceX é diferente das viagens realizadas pela Blue Origin e pela Virgin Galactic em julho. A nave com Jeff Bezos, fundador da Amazon, atingiu a altitude de 107 km e viajou por 10 minutos, enquanto o planador com Richard Branson chegou a 80,5 km em um voo de 90 minutos. Nenhum dos dois veículos chegaram a entrar em órbita, e eles passaram longe da localização da Estação Espacial Internacional. “A viagem da Inspiration4 é de outra ordem de grandeza. Nos voos suborbitais, basicamente você lança um míssil que sobe até acabar o combustível e depois cai de volta para a Terra. As iniciativas da Virgin Galactic e da Blue Origin foram apenas passeios, enquanto a SpaceX concluiu uma missão espacial de verdade”, afirma Cassio Leandro Dal Ri Barbosa, astrônomo e professor do Centro Universitário FEI.
Dentro disso, há um aumento de custo. Como a viagem é prevista para durar três dias, é necessário que técnicos em Terra monitorem com cautela o voo. A tripulação também precisa passar por simulações e treinamentos mais detalhados – Isaacman e os outros três viajantes treinaram com a SpaceX desde fevereiro.
Para Alexandre Zabot, professor de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o voo da SpaceX consolida uma nova era no setor.
“Esse tipo de viagem exige foguetes com uma capacidade de lançamento de carga para o espaço muito diferenciada. Até então, víamos algumas aventuras pontuais relacionadas ao turismo espacial. Agora, já vemos três empresas mostrando tecnologias maduras e fazendo voos inaugurais com civis”, diz Zabot. “Estão abertas as portas para um turismo espacial permanente, gerenciado por companhias privadas”.
É também um novo capítulo da rinha entre Elon Musk e Jeff Bezos na corrida espacial. Há algum tempo, o fundador da Tesla celebra o pioneirismo da SpaceX e zomba do rival. Em 2019, ao apresentar o novo protótipo do Starship, foguete da empresa, Musk chegou a dizer que tem “muito respeito por qualquer pessoa que tenha lançado um foguete em órbita”.
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