O Waze é parte da rotina dos brasileiros, seja na hora de encontrar o caminho ou mesmo ouvir as direções com vozes engraçadas - o que já virou até meme. De acordo com Gai Berkovich, diretor geral da empresa, é a união desses aspectos que fez o Brasil ser um dos três principais mercados da companhia no mundo, com prioridade em testes de ferramentas e recursos idealizados com base na rotina dos motoristas brasileiros. Assim, mesmo com mudanças promovidas por IA generativa em todo o mundo, o app quer manter os requintes de “brasilidade” para seus mais de 20 milhões de usuários por aqui.
A empresa, que foi comprada pelo Google em 2013, confirmou, durante a viagem ao Brasil, que tem falado com diversas autoridades responsáveis pelo trânsito em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e que, a partir das informações que órgãos como CET e Defesa Civil podem fornecer, a navegação no app pode ser melhorada gradualmente.
“Quando você combina com os parceiros, os dados são muito mais precisos e muito mais atualizados. E isso libera o tráfego nas estradas porque evitamos todos os tipos de perigos desnecessários que conhecemos com antecedência”, explica Berkovich.
Outro ponto abordado por Berkovich e Adi Rome, diretora de engenharia do Waze, que acompanha o executivo na viagem, é a ferramenta “Conversational Report”. O recurso, que permite que os usuários reportem incidentes nas ruas apenas conversando com o app, já está disponível nos EUA e está sendo desenvolvido em português, juntamente como Gemini, IA do Google, para chegar em breve aos motoristas brasileiros.
“Essa ferramenta de conversação é algo que lançamos agora, mas em versão beta, porque queremos ter certeza de que conseguiremos oferecer a melhor experiência possível. E o próximo passo será lançá-la de fato no Brasil. Para nós, o País é um dos mercados em que você pode lançar (recursos) primeiro para testar, entender corretamente como os usuários o utilizam para, depois, para expandir”, apontou Adi.
Em uma entrevista exclusiva ao Estadão, Berkovich conta sobre como a IA generativa pode mudar a forma de navegação nas ruas, as parcerias com governos locais e qual o futuro do app no Brasil. Leia os melhores momentos da entrevista:
Muitas ferramentas são testadas primeiro por aqui. Você acha que as pessoas são mais engajadas com o aplicativo no Brasil?
Antes de mais nada, o mercado brasileiro é um dos três maiores e um dos mais importantes para nós. E, na verdade, estamos experimentando muitas coisas no Brasil. Temos um programa chamado Waze for Cities (Waze para cidades) que conecta parceiros, como cidades ou departamentos de transporte, e conhecemos alguns deles durante essa viagem ao Brasil. Um dos primeiros parceiros foi a cidade do Rio de Janeiro. Temos um engajamento muito forte e quando usarmos a ferramenta de IA, acreditamos que muitos mais reportarão (incidentes).
Existe um comportamento específico do brasileiro na plataforma?
Vemos que muitos brasileiros gostam da gamificação de alguma forma. Muitos, por exemplo, já baixaram um copilot (opção de voz) da Pabllo Vittar. Isso significa que precisamos encontrar coisas que os brasileiros gostam de fazer. É uma grande responsabilidade quando você diz que as pessoas se emocionam com o aplicativo. A maioria das pessoas, quando usa outros aplicativos, os vê como uma espécie de utilidade. Ele me ajuda aqui, me ajuda ali. De certa forma, você realmente tem sentimentos, e continuamos a ouvir isso, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. As pessoas estão com raiva do Waze, as pessoas adoram o Waze. Depende do que está acontecendo. Existe um tipo de relacionamento com o aplicativo e é aí que vemos o brasileiro ainda mais forte nesse relacionamento.
Como trabalhar com departamentos de trânsito nas cidades pode ajudar na operação do Waze?
Digamos que eles saibam que terão trabalho de manutenção em estradas específicas na próxima semana. Antes disso, eles podem saber quantas pessoas serão afetadas pelo Waze. Em seguida, eles podem colocar isso no mapa, compartilhá-lo com os editores e, quando a manutenção começar, as pessoas não serão encaminhadas para essa área e serão notificadas com antecedência pelo Waze. O usuário vai saber sobre trabalhos de manutenção em sua rota regular. Saber que, naquele dia, deve sair de casa um pouco mais cedo ou evitar essa estrada.
Leia também
O trânsito de grandes cidades brasileiras tem várias peculiaridades, como a quantidade de carros e engarrafamentos que se formam muito rápido, além da questão da segurança. Vocês levam essas informações em consideração para fazer ferramentas específicas?
Temos uma excelente equipe de engenharia, mas o fato de a engenharia e o produto ficarem em um só lugar não é suficiente. É por isso que precisamos dessa comunidade, para entender melhor o que é necessário em cada um dos mercados. E o Brasil é um mercado de foco muito alto para nós. Temos recursos relacionados somente ao Brasil, por exemplo, em que você pode dirigir de acordo com o número da placa ou a tela de bloqueio do app, que foi desenvolvida por conta de uma solicitação do Brasil para que o telefone ficasse bloqueado e ainda fosse possível navegar. Não pensamos nisso no resto do mundo, mas no Brasil havia essa necessidade, então desenvolvemos e lançamos o recurso.
Como a IA pode trazer mais personalização para o usuário?
Com IA é possível obter a rota exata que se adapta à sua necessidade personalizada e hiperlocal, por exemplo. Ou seja, se você dirige em São Paulo, receberá tudo o que estiver relacionado a São Paulo. Se você gosta de dirigir a partir de uma rota específica, nós lhe daremos sua rota específica, a menos que haja um motivo muito bom para não fornecê-la. E então explicaremos. Portanto, estamos trabalhando no que mais podemos usar e como podemos usar melhor o tempo durante o período em que você estiver no carro. E durante esse tempo, como podemos tornar isso muito mais seguro e fácil, para que (o usuário) se sinta parte de uma comunidade.
Como o Waze pode fazer isso?
As pessoas estão passando cada vez mais tempo em seus carros dirigindo de um lugar para o outro e é nesse ponto que estamos tentando descobrir o que você pode fazer de melhor com seu tempo. E é aqui que estamos pensando no futuro. Como podemos criar uma espécie de amigo, de companheiro, que virtualmente se sentará com você no carro e tornará seu tempo mais eficiente, de modo que o tempo passe um pouco mais rápido.
O que mais a IA generativa pode fazer para melhorar a navegabilidade dos motoristas?
Não vemos a IA como um recurso. A IA é um tipo de plataforma que precisamos usar e explorar para adicionar cada vez mais ferramentas ao Waze. Assim, por exemplo, para aprender seus hábitos. Onde você prefere dirigir? Isso é algo que a IA pode realmente ajudar. Entender suas referências específicas sobre não fazer muitas curvas à esquerda ou preferir uma rodovia, mesmo que isso leve 10 minutos a mais. Toda essa IA pode realmente nos ajudar a conhecer o usuário sem compartilhar nada, porque os modelos são especificamente seus. Além disso, queremos usar a IA também, como eu disse, para tentar usar melhor o tempo em que você está no carro. E isso é algo que ainda não podemos compartilhar, mas estamos sonhando e sonhando muito alto em como adicionar todos os tipos de atividades que facilitarão seu tempo durante a viagem.
Quando poderemos ver esses novos recursos?
Vamos acelerar esse desenvolvimento durante 2025. Esperamos ver mais durante a segunda metade do ano e até o final de 2025. Às vezes começamos a fazer experimentos com uma pequena quantidade de usuários, eles recebem os novos recursos e nem sabem que fazem parte desse experimento. Muitas vezes vemos como eles reagem e então decidimos como continuar.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.