O WhatsApp decidiu lançar no Brasil o recurso Comunidades, que permitirá criar grupos temáticos e enviar mensagens para até 5 mil pessoas. Anunciado nesta quinta, 26, o recurso chega menos de três semanas após a invasão golpista de Brasília — ele já havia sido adiado durante o período das eleições presidenciais de 2022.
Lançada globalmente em novembro do ano passado, a ferramenta pode potencializar a pulverização de mensagens em massa, principal forma de organização dos ataques aos prédios dos Três Poderes. As mensagens planejando a invasão foram disparadas dias antes do ocorrido em diferentes plataformas, incluindo Telegram e WhatsApp.
As comunidades farão parte de uma nova aba no aplicativo — representada por um emoji de pessoas — e a ideia é que seja um agregador de grupos por assunto. Assim, cada comunidade vai poder contar com até 50 grupos diferentes ou um limite máximo de 5 mil pessoas. A empresa acredita que o recurso é uma forma de reunir espaços de serviços para seus usuários, como organizações de condomínios, escolas e ONGs, por exemplo.
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Atualmente, cada grupo no WhatsApp comporta 256 pessoas — no resto do mundo, o WhatsApp dobrou a capacidade de cada grupo para 512 participantes. Para conteúdos enviados em grupos, a plataforma estipulou que cada mensagem pode ser repassada para apenas um outro grupo por vez. Para contatos individuais, esse limite de compartilhamento é de até três pessoas.
Para cada comunidade criada, há um grupo de avisos em que apenas os administradores podem publicar. Esse “quadro de avisos” fica visível para todas as pessoas que fazem parte da comunidade — ou seja, uma mensagem pode atingir até 5 mil pessoas. Cada grupo, porém, pode fazer parte de apenas uma comunidade.
Para essas mensagens, o WhatsApp vai manter a criptografia de ponta a ponta, tecnologia que permite que apenas o emissor e o receptor da mensagem tenham acesso ao conteúdo. Em todo o ambiente da comunidade, as mensagens não passarão por nenhum tipo de moderação — o mensageiro só tem acesso a informações que não são privadas, como nome e foto de perfil, e descrição do espaço, dados usados nas decisões de banir ou bloquear grupos no app.
Ainda não é possível saber quantos administradores serão admitidos em cada comunidade, mas eles serão responsáveis por moderar os grupos e adicioná-los à aba. Além disso, os administradores poderão excluir mensagens, excluir contatos e bloquear solicitações — atividades semelhantes que “líderes” de grupos já podem fazer.
“Estamos criando novas ferramentas para administradores gerenciarem conversas entre seus grupos privados. Eles podem escolher quais grupos farão parte de sua Comunidade, formando novos grupos ou vinculando grupos pré-existentes. Forneceremos aos administradores recursos sobre a melhor forma de usar esses novos recursos”, afirmou a empresa em comunicado.
Em cada comunidade também será possível ver todos os grupos dos quais os usuários participam. Caso o contato não esteja adicionado a um dos grupos listados, o mesmo não deve aparecer na tela principal da ferramenta. A empresa afirmou que o recurso vai ser liberado para os usuários gradativamente.
Pós-eleições
Os acontecimentos de 8 de janeiro não fizeram a Meta, holding de Facebook, Instagram e WhatsApp, mudar os planos de implementação da ferramenta no Brasil — ela já está ativa em outros países. O Estadão apurou que a companhia não considera que a ferramenta possa turbinar grupos de organizações antidemocráticas. Quanto à possibilidade de comunidades com objetivos golpistas, pornográficos ou com qualquer outro tipo de violação de direitos humanos, a empresa deve continuar agindo dentro das políticas de uso já estabelecidas para os grupos no app e analisando casos repassados pelo Ministério Público.
Após 8 de janeiro, as plataformas digitais, incluindo os serviços da Meta, foram acusadas de lentidão na remoção de conteúdo golpista antes e depois da invasão. Quando foi anunciada, em abril do ano passado, a ferramenta de comunidades gerou debate entre autoridades e especialistas, preocupados com a disseminação de desinformação, principalmente antidemocrática, na plataforma.
Na ocasião do lançamento global, o WhatsApp afirmou que só disponibilizaria o recurso no País depois das eleições presidenciais do ano passado. A medida foi informada pela empresa em meio a uma série de conversas com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em meados de 2022, quando outras empresas de tecnologia também estavam em contato com o órgão para discutir a viralização de conteúdos falsos.
Posteriormente, o WhatsApp afirmou que as mudanças ocorreriam apenas em 2023 — a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal também externou a recomendação para que a ferramenta fosse lançada apenas neste ano.
Na época, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que adiar a ferramenta no País era “inadmissivel”.
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