Elon Musk é um gestor tão caótico que, em meio à confusão generalizada instalada no Twitter, fica por vezes difícil entender se ele tem alguma ideia do que está fazendo. Mas há pistas de que ele tem, sim, um projeto para a rede social. A sua aposta faz sentido, mas não deixa de ser uma aposta. E, do jeito que ele pretende implementá-la, há riscos.
O primeiro sinal está no serviço de assinatura. A oferta, a princípio, não parece muito — oito dólares ao mês, sabe-se lá quanto será no Brasil, para ter em troca o selinho azul. Entra no jogo um quê a mais: os tuítes de assinantes pagos terão prioridade na hora de aparecer para quem frequenta a rede.
Nenhuma das grandes redes sociais se baseia em um modelo de assinaturas. Em geral, o principal sustento vem de publicidade. Além disso, o selo azul foi inventado pelo próprio Twitter conforme vinha sendo povoado por gente com influência no debate público. Servia para garantir a quem lê que aquela conta de fato pertence à pessoa ou empresa que assina. Certeza de autenticidade da origem é importante se estamos em uma conversa que gera notícia.
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O segundo sinal vem de tuítes soltos publicados por Musk. Ele afirmou que vê a plataforma voltada para notícias grandes em tempo real. E, insistindo no conceito, ordenou que toda a equipe do Twitter pusesse todo o foco, nestas semanas, na Copa do Mundo. O bilionário defende que, no universo digital, sua plataforma é e será cada vez mais o melhor local para acompanhar o que está acontecendo no planeta.
O mal de origem da desinformação é um algoritmo que procura fazer com que os usuários não saiam nunca da rede. O tipo de conteúdo que dá maior engajamento é aquele que insufla rivalidades, mexe com emoções fortes, atiça preconceitos. Redes que vivem de publicidade precisam que as pessoas sejam expostas a propaganda toda hora. No momento em que a empresa faz dinheiro com assinaturas mais do que com anúncios, o algoritmo deixa de insuflar o frenesi. Ao contrário, vai querer fazer daquela uma experiência que traga valor real. E, se o objetivo é noticiar, credibilidade passa a ser coisa importante.
É preciso ver, porém, se pode conviver com a ideologia do empresário por trás da Tesla e da SpaceX. Musk, como libertário, flerta abertamente com a extrema-direita e vem trazendo de volta muita gente que foi expulsa por desinformar usuários na plataforma. Ele próprio é um que dissemina teorias conspiratórias sem piscar.
O modelo para a rede é bom. Resta saber se terá chance perante a gestão caótica e a imaturidade política do CEO.
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