O mercado de startups viveu seus dois melhores anos da história durante a pandemia. Esse período de otimismo gerou bilhões em investimentos, com empresas atingindo valores altíssimos em tempo recorde. Entretanto, parece que a maré virou.
O mercado vem sendo recentemente bombardeado por notícias sobre demissões, especialmente de “unicórnios”. Grupos de empreendedores no Whatsapp estão repletos de relatos de investidores com recomendações para enfrentar a crise. Além disso, recentes números do setor mostram uma diminuição de mais de 60% do volume de novos investimentos nos primeiros meses de 2022.
De onde vem essa crise? Basicamente, de uma mistura de fatores macroeconômicos ligados à ressaca pós-pandemia e efeitos da Guerra da Ucrânia.
Uma das principais consequências desses fatores foi um aumento global nas taxas de juros. Com juros mais altos, investimentos de baixo risco tornaram-se mais rentáveis, desestimulando investimentos de maior risco, ligados ao aumento da atividade produtiva. Isso diminui tanto investimentos em tecnologia feitos pelo mercado forma geral, como a própria disponibilidade de capital. Além disso, a aceleração da demanda por soluções digitais, puxada pelo isolamento social, diminuiu. Com a reabertura do comércio, por exemplo, o e-commerce já sente.
Na prática, isso gera revisão de planos e, muitas vezes, cortes. Empresas acostumadas a um modelo que valorizava a velocidade de crescimento em detrimento da lucratividade precisaram se adaptar. Com menos capital disponível para financiar os próximos ciclos de crescimento, o valor das empresas também tende a cair.
O inverno para os investimentos em startups é, antes de tudo, uma correção de rumo. O bom e velho lucro nunca sai de moda e as empresas com bons fundamentos financeiros continuam sendo bons negócios.
Todas aquelas grandes oportunidades de longo prazo sobre o Brasil vendidas a investidores nos últimos anos continuam existindo. Por isso, segue muito válida a frase clichê que diz que toda crise traz oportunidade.
Do lado das startups, o novo momento gera novas demandas – em soluções que promovam a redução de custos, por exemplo. Ou mesmo para contratar bons profissionais que, em outros tempos, não estariam disponíveis. Já do lado dos investidores, mercados em baixa representam ótimas oportunidades de compra.
O inverno pode até ter chegado, mas encontrou um ecossistema de tecnologia bem mais forte e maduro.
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