Tenho acompanhado de perto os avanços da regulação da inteligência artificial (IA) no Brasil e suas implicações para o mercado. O PL 2338/23, que tramita no Senado federal, tem despertado muitas preocupações, principalmente no que diz respeito à inovação e ao futuro das startups brasileiras.
O texto atual do PL se concentra excessivamente na responsabilização e nas punições para os maus usos da tecnologia. Enquanto a intenção de proteger os cidadãos e garantir um uso ético da IA é válida, essa abordagem punitiva pode ter um efeito colateral perigoso: desestimular a inovação. A legislação precisa equilibrar a necessidade de segurança com incentivos claros para o desenvolvimento tecnológico. Sem isso, corremos o risco de criar um ambiente onde a incerteza jurídica prevalece, afastando investidores e dificultando o florescimento de novas ideias.
Entre os pontos mais críticos, está a exigência de auditoria dos algoritmos de IA. Essa é uma tarefa que, em muitos casos, é tecnicamente inviável. Os algoritmos, especialmente aqueles baseados em redes neurais profundas, são incrivelmente complexos e nem sempre é possível entender ou explicar suas decisões de maneira clara. Obrigar empresas a realizar essas auditorias pode se tornar um fardo insustentável, especialmente para as startups, que muitas vezes não dispõem dos recursos necessários para cumprir essas exigências.
Além disso, o PL não diferencia o tratamento entre startups e grandes empresas. Isso resulta em uma desproporcionalidade que pode ser devastadora para pequenas empresas inovadoras. Startups são motores de inovação e crescimento econômico, mas quando submetidas às mesmas regulações rigorosas que grandes corporações, enfrentam desafios significativos que podem sufocar sua capacidade de existir. É essencial que a legislação leve em conta as diferenças de escala e recursos disponíveis entre esses dois tipos de empresas.
Outro aspecto preocupante é que cerca de 40% do texto do projeto menciona a necessidade de regulamentação específica, o que gera insegurança jurídica além de potencialmente altos custos para os cofres públicos. A criação de novas regulamentações pode ser um processo longo e custoso, além de aumentar a complexidade regulatória, dificultando ainda mais o cumprimento das normas por parte das empresas. Esse cenário de incerteza não é favorável para o crescimento de um setor que depende de agilidade e flexibilidade.
Leia também
A falta de transparência no texto do projeto de lei também é um ponto a ser destacado. A legislação é densa e de difícil compreensão, o que pode dificultar o entendimento e a adesão por parte das empresas e o entendimento das pessoas comuns e da sociedade civil sobre seus direitos. Uma regulação clara e acessível é fundamental para garantir que todos os atores do ecossistema de IA possam operar com confiança e segurança.
Como empreendedor, acredito que a regulação da IA é necessária, mas precisa ser feita de maneira equilibrada e que promova a inovação. O Brasil tem um potencial enorme para se destacar no cenário global de tecnologia, mas para isso, precisamos de um ambiente regulatório que apoie o crescimento e o desenvolvimento, ao mesmo tempo em que proteja os interesses da sociedade.
É importante que o diálogo entre legisladores, especialistas em tecnologia e a comunidade empreendedora seja contínuo e construtivo. Só assim poderemos criar uma legislação que não apenas mitigue os riscos da IA, mas também incentive a inovação e permita que o Brasil se torne um líder global em tecnologia.
Convido a todos os envolvidos a refletirem sobre os impactos dessa regulação e a buscarem soluções que equilibrem segurança e inovação. O futuro da inteligência artificial no Brasil depende de nossa capacidade de criar um ambiente favorável ao desenvolvimento tecnológico, sem sufocar a criatividade e o empreendedorismo que são fundamentais para o nosso progresso.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.