Os brasileiros estão mais interessados em tecnologias para controlar a casa – da luz do quarto aos eletrodomésticos – pela internet. Uma nova pesquisa realizada pela consultoria GfK, obtida com exclusividade pelo ‘Estado’, estima que mais de 90% dos brasileiros já sabem o que é uma casa inteligente e mais da metade (57%) consideram que a automação residencial terá impacto em suas vidas nos próximos cinco anos, até mais do que os carros conectados e a computação em nuvem.
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“O brasileiro conhece o significado do conceito”, diz o diretor da GfK, Felipe Mendes. “Cada vez mais pessoas começam a usar essas tecnologias.” A pesquisa foi realizada pela consultoria entre setembro e outubro com 1 mil pessoas no País e em outros sete, como Alemanha, Coreia do Sul e Estados Unidos.
Apesar de o levantamento evidenciar o interesse, as casas inteligentes ainda são minoria no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 63,3 milhões de residências no País. Do total, somente 300 mil são equipadas com essas tecnologias, segundo a Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside). “Ainda é um mercado incipiente, mas percebemos um claro aumento de interesse”, diz o presidente da Aureside, José Roberto Muratori, que enxerga um mercado de pelo menos 1,8 mil casas que poderiam usar automação no Brasil.
Empresas de vários segmentos veem uma oportunidade de negócio e tanto nas casas conectadas. Já existem construtoras brasileiras especializadas em construir condomínios de apartamentos inteligentes em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Todos os nossos empreendimentos são automatizados. Sem exceção”, afirma o engenheiro de novas tecnologias da construtora Porte, Josenei Spinelli. A empresa, que está no mercado há 29 anos, já lançou cinco empreendimentos conectados desde 2014.
A Avanço Aliados já lançou seis condomínios do tipo desde o ano passado. Segundo o diretor Sanderson Fernandes, os novos recursos atraem clientes. “Atendemos uma demanda que antes não tinha espaço no mercado imobiliário. Agora vemos outras construtoras fazendo o mesmo.”
É o caso da Even e da Tecnisa, que não se especializaram em condomínios inteligentes, mas já começaram a testar as novas tecnologias. Em quase todos os novos prédios das marcas, há a opção de o cliente adotar um kit de automação residencial, que inclui controle de sistema de som e fechadura digital.
Comprar um apartamento inteligente, porém, ainda custa caro. A opção mais barata da Porte – um imóvel sem paredes no estilo Loft – tem preço entre R$ 500 mil e R$ 700 mil. “Há oito anos, se você tentasse comprar um apartamento com automação, pagaria cinco vezes mais”, lembra Spinelli.
O aumento do interesse dos brasileiros em automação residencial acompanha a situação em outros países. “As construtoras estão abraçando a tecnologia para diferenciar suas casas e oferecer conveniência e segurança”, diz o especialista da consultoria norte-americana Strategy Analytics, Bill Ablondi.
Enquanto os americanos preferem investir em sistemas de entretenimento, na Europa a onda é usar a tecnologia para reduzir os gastos com energia elétrica. Muitos desses recursos estão começando a chegar ao Brasil e os exemplos de fora têm ajudado brasileiros a compreender a automação.
Para tornar a casa inteligente, é preciso instalar um conjunto de sensores e atuadores, além de um software de controle, para que o morador envie comandos a partir do smartphone. É o que fez o casal Maira e Augusto Faustino (veja box abaixo), que investiu R$ 45 mil para controlar a iluminação e o sistema de segurança. “A automação abriu um mundo de possibilidades”, diz Maira, que é arquiteta e gastou R$ 45 mil com a instalação da tecnologia. “Não é só uma questão de conforto.”
Barreiras. Apesar das previsões otimistas, as empresas do setor ainda enfrentam desafios importantes para popularizar o conceito. O preço alto dos produtos, além da infraestrutura de rede precária e falta de profissionais são alguns deles.
Segundo especialistas, um projeto básico de automação residencial custa, no mínimo, R$ 5 mil – com controle restrito de iluminação, alguns sensores e uma central de controle. A falta de interoperabilidade entre dispositivos é outro problema, já que sensores, lâmpadas e outros dispositivos não seguem um mesmo padrão. “Os aparelhos não conseguem ‘conversar’ entre eles”, diz Muratori. De acordo com a GfK, a falta de integração é um dos motivos que fazem com que parte das pessoas desistam de automatizar a casa.
Para superar esse problema, “integradoras” surgiram no mercado nos últimos anos. Elas fazem os aparelhos “conversarem” com o sistema de controle. Atualmente, há 250 empresas do tipo no Brasil. “Há um grande mercado para os ‘encanadores digitais’ que instalam, programam e asseguram que a tecnologia está funcionando”, diz Ablondi, da Strategy. Entretanto, não é fácil encontrar profissionais que sejam capazes de instalar qualquer dispositivo de automação residencial.
Oportunidade. As grandes empresas do setor de tecnologia, entre elas Apple e Google, também estão de olho no setor e tentam colocar os smartphones no centro da casa inteligente. No ano passado, elas anunciaram esforços para garantir que o iOS e Android substituam as centrais para controlar lâmpadas, termostatos e outros aparelhos de forma mais fácil e barata. “A Apple e o Google querem facilitar o acesso à tecnologia, mas vão precisar convencer as fabricantes a ajustar os dispositivos para funcionar no protocolo delas. Não é uma tarefa fácil”, diz Ablondi.
Seja como for, os especialistas concordam em um ponto: as casas se tornarão inteligentes em um futuro próximo. “Assim que produtos bons e baratos chegarem ao mercado, as pessoas vão apostar na automação residencial”, prevê Mendes, da GfK. Para Muratori, da Aureside, esse momento está próximo. “Até 2020, as casas conectadas no Brasil estarão no mesmo nível do que já encontramos nos EUA e Europa.”
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