Por que o iPhone 7 faz tanto sucesso entre os seminovos?

Final de primeiro ciclo, preço baixo e resistência ajudam a entender a longevidade do modelo no mercado brasileiro

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Seminovo mais vendido no Brasil, o iPhone 7 foi beneficiado pelo dólar barato no ano de seu lançamento Foto: Regis Duvignain/Reuters

Lançado em 2016, o iPhone 7 tem um lugar especial no coração (e no bolso) do brasileiro. Segundo a startup Trocafone, especializada na venda de smartphones usados, ele foi o aparelho mais comprado na plataforma durante 2020. O que poderia explicar a popularidade de um celular apresentado cinco anos atrás (e aposentado das lojas da empresa em 2019)?

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“Ele tem aspectos muito bons, com boa capacidade de memória, ótima câmera e preço acessível”, explica o presidente executivo da Trocafone, Guille Freire. “As pessoas compram o iPhone e ficam felizes porque nunca pensavam que teriam um iPhone. É algo aspiracional.”

Porém, não é só da marca que esse iPhone vive - as especificações técnicas fazem ele resistir ao tempo. O 7 trazia à época impressionantes 256 GB de espaço (ainda muito bons para os tempos atuais), vinha com maior desempenho de bateria comparado aos antecessores e, para a categoria Plus, foi o primeiro em que a Apple inseriu a câmera dupla. Mesmo a câmera simples do modelo menor ainda mantém desempenho aceitável.  

O aparelho levantou também uma grande polêmica, mas que hoje não assusta mais: foi o primeiro celular a abandonar a entrada principal de fone de ouvido, conhecida como P2. Ou seja, o iPhone 7 definiu as tendências para as gerações seguintes do aparelho. Desfilar com um desses não significa que o usuário está carregando um fóssil tecnológico. 

Ao contrário, o legado do iPhone 7 é tão forte que a Apple parece ter se inspirado no seu design e recursos para lançar o iPhone SE 2020, um aparelho de entrada (para os padrões da marca, claro) que custa a partir de R$ 3,7 mil.

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Assim, é normal que os usuários insistam nesses modelos mais tradicionais, mesmo que mais velhos. O mineiro Carlos Michel, 49, executivo de vendas, reconhece que não consegue largar a Apple, já que usa o iOS desde o iPhone 3GS: “Não tenho coragem de pagar por um iPhone novo porque é caro demais, mas já me acostumei com o sistema. Continuei com o meu iPhone 6S até aparecer a oportunidade”, diz.

Em março de 2021, ele comprou do chefe um iPhone 7 Plus, de 256 GB, e um iPhone 8, de 128 GB, por R$ 900 e R$ 800, respectivamente. “Aqui em Minas a gente fala que cavalo arreado não costuma passar duas vezes, então juntei o útil ao agradável”, brinca.

Características de telefone premium fazem o iPhone 7 resistir ao tempo Foto: Issei Kato/Reuters

Suporte

Pesa muito a favor do iPhone 7 o fato de que o aparelho, desde 2016, vem recebendo atualizações do sistema nativo, o iOS. Lançado com o iOS 10, espera-se que o futuro iOS 15, a sair neste ano, contemple o queridinho do Brasil, aumentando ainda mais a vida do celular - algo com que a maior parte dos Android não pode contar, já que as atualizações costumam durar uma ou duas gerações no sistema operacional do Google.

Outro ponto que ajudou a popularização do 7 foi o dólar mais palatável naquele ano, que teve câmbio médio de R$ 3,50. Isso permitiu que mais gente comprasse unidades novas do iPhone 7, que hoje abastecem o mercado de usados.  

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Ciclo da vida

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Outro fator a favor do iPhone 7 é que celulares premium têm recursos de ponta, o que permite que consigam chegar com saúde ao final do que especialistas chamam de “primeiro ciclo”, isto é, o momento em que o primeiro dono do celular se desfaz do produto e o vende para terceiros, que irão iniciar o segundo ciclo. De acordo com especialistas, um ciclo pode durar de dois a três anos em média.

Com os devidos ajustes, a Trocafone estima que um iPhone pode passar por até quatro donos, se o produto for bem cuidado — o que hoje é facilitado graças ao fácil acesso a peças de reparo dos smartphones, aumentando ainda mais a durabilidade dos aparelhos no longo prazo. Nem sempre o reparo e as peças de iPhone foram acessíveis, algo que também tem mudado. 

O analista da consultoria GfK, Fernando Baialuna, explica que esses aparelhos dão às classes mais baixas recursos que smartphones low-end não têm, ainda que não sejam de ponta no mercado atual. “O consumidor compra um modelo velho e tem acesso a tecnologia mais defasada, mas o benefício é que o aparelho tem mais resiliência e mais durabilidade do que os de baixo custo”, diz.

“Em vez de comprar um aparelho novo com menos recursos, por que não um seminovo com mais recursos e maior durabilidade? Isso é consequência da ‘premiunização’”, aponta Baialuna.

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Celulares acima da faixa dos R$ 10 mil, portanto, devem ficar ainda mais comuns, a depender das empresas de tecnologia. Mas também ficarão por mais tempo nas mãos dos usuários.

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