Para smartphones caros e poderosos, como iPhone e Galaxy S, o que ainda resta fazer quando se atinge o topo da montanha do mercado de consumo? Para o iPhone 15 Pro, que custa a partir de R$ 9,3 mil, a resposta reside em uma série de pequenas melhorias que garantem um certo nível de interesse e curiosidade, mas que não significam transformações radicais. O novo aparelho da Apple aposta principalmente em mudanças de design e na câmera para continuar disputando a coroa dos celulares.
Algumas das melhorias na nova geração foram feitas no corpo do aparelho, que recebeu uma armação de titânio do lugar do alumínio. A substituição focava em dar mais leveza no celular, já que esteticamente quase nada muda - as primeiras reações davam conta que o material ficava mais “manchado”, com marcas de dedos, mas não verificamos isso em nossos testes.
Resultado: tanto iPhone 15 Pro quanto o 15 Pro Max são 19 gramas mais leves do que os antecessores. O número parece pequeno, mas faz diferença na hora de segurar - para o bem e para o mal. Em alguns momentos, a leveza excessiva pode até incomodar quem se acostumou a manusear aparelhos mais pesados. No geral, porém, a mudança é bem-vinda, especialmente porque não resultou no aumento de preço do celular. Antes do lançamento do iPhone 15 Pro, especulava-se que a adoção do titânio poderia aumentar em US$ 100 o custo final.
Outras mudanças que visam ao conforto são a redução da borda em volta da tela, o que permitiu manter o mesmo panel de 6,1 polegadas em um aparelho menor. O iPhone 15 Pro tem 14,66 cm x 7,06 cm contra 16,07 cm x 7,76 cm do 14 Pro. É um detalhe perceptível apenas quando os dois aparelhos estão lado a lado, mas que faz diferença na sensação de conforto.
Por fim, a Apple suavizou os ângulos do corpo do aparelho, tornando o iPhone 15 Pro menos “pontudo” que os seus antecessores. Foi uma decisão que aumentou o conforto na pegada e reduziu as chances de queda das mãos sem impactar profundamente o visual adotado desde a família do iPhone 12.
Novos elementos do iPhone 15: USB-C e botão de ação
O corpo do iPhone 15 Pro recebeu mais duas mudanças, mas que não estão ligadas a conforto e ergonomia. A primeira é a inclusão da porta USB-C, em substituição à Lightning, presente nos aparelhos desde o iPhone 5. Não que a empresa quisesse fazer isso, mas ela foi obrigada pela União Europeia, que impôs um conector padrão para reduzir a produção de diferentes cabos de celular no mercado.
É necessário dizer que, neste momento de transição, a vida de quem já usava aparelhos da Apple permanece um inferno. Ainda são necessários cabos diferentes para carregar AirPods e Apple Watch - isso sem contar que a confusão continua grande se outros membros da família ficaram no Lightning. A tendência é melhorar, mas a utopia de um único cabo para toda a vida eletrônica da família é um projeto de médio prazo.
A inclusão do USB-C permite que o iPhone funcione como um “power bank” de outros aparelhos com entrada do tipo - é só conectar as entradas. Antes, já era possível carregar o iPhone a partir de outros aparelhos, com um cabo Lightning/USB-C, mas agora a troca energética virou uma via de duas mãos. No mundo real, isso faz diferença. Nos testes da reportagem, usamos o iPhone 15 Pro para carregar um iPad em uma situação de emergência, quando a confusão de cabos não permitia que o tablet fosse ligado à tomada ou ao carregador do carro.
No entanto, a Apple parece deixar claro que fez a inclusão do novo padrão a contragosto. Embora o novo telefone seja compatível com velocidades do padrão USB-C 3, o que garante taxas de transferências de dados de até 10 Gbps, o cabo que acompanha o aparelho na caixa tem suporte apenas ao USB-C 2, que tem taxa de transferência de 480 Mbps, ou 0,48 Gbps, mesma taxa dos cabos Lightning. Ou seja, se você quiser desfrutar de taxas mais rápidas, terá que comprar um novo cabo.
Entre alguns observadores mais detalhistas, há a reclamação de que a Apple poderia ter disponibilizado seu novo celular com suporte ao USB-C 3.2 (20 Gbps de taxa de transferência) ou até o USB-C 4 (120 Gbps). Talvez isso encarecesse demais o celular, mas ausência do cabo com USB-C 3 é mais difícil de justificar.
A outra inclusão no corpo do iPhone 15 Pro é o botão de ação, que substituiu a chave de modo silencioso, presente no iPhone desde a sua primeira geração em 2007. A Apple considera que, depois de 16 anos, a maior parte das pessoas já deixa o telefone no modo silencioso, então era hora de ampliar os horizontes do componente.
Assim, o botão de ação pode ser configurado para dar acesso rápido a outros recursos do telefone - e sai a “chave” (ativada quando é movida para cima e para baixo) e entra um botão de apertar. Com ele, é possível ter acesso rápido a gravador, câmera, lanterna, modo foco e atalho para aplicativos (que podem ser configurados). Para os mais tradicionalistas, o modo silencioso também pode ser escolhido.
Nos nossos testes, os acessos rápidos ao gravador e à câmera se mostraram bastante úteis - o primeiro é perfeito para a vida de um repórter. Não é um recurso essencial na vida das pessoas neste momento, mas tem potencial. No futuro, é possível que as pessoas se acostumem em ter esse tipo de customização diretamente no corpo do celular.
Quanto dura a bateria do iPhone 15 Pro?
Desde os primeiros dias de teste, o novo celular da Apple deixou a sensação de que consumia bateria mais rapidamente que seus antecessores. Ao final, o celular entregou 28 horas e 30 minutos de carga no modo econômico. Durante o período, ele foi submetido a tudo que se espera de quem tem uma vida digital intensa: jogos, vídeos, GPS ativado, 5G ativado, mensagens de WhatsApp, navegação na web e passeios por redes sociais.
De cara, parece um número interessante, já que isso significa passar tranquilamente por um dia todo fora da tomada. O número é até próximo do que a Apple promete: 29 horas no iPhone 15 Pro Max - o nosso teste foi com a versão menor, iPhone 15 Pro. Na realidade, porém, é um número que decepciona. Em nossos testes com o iPhone Pro 14, no ano passado, o aparelho foi submetido às mesmas condições e entregou 32 horas de autonomia.
Uma das possibilidades para o retrocesso no rendimento energético é o novo processador A17 Pro, que, com seis núcleos e componentes dedicados à inteligência artificial e processamento gráfico, pode ser potente demais para a bateria. De fato, a performance do aparelho continua bastante interessante.
No entanto, o grande suspeito é um visitante passageiro do telefone: o iOS 17. Quando um sistema operacional não está redondo, é a diferença entre um ótimo e bom. Parece que nesta geração, o novo sistema operacional precisa ser aperfeiçoado.
O iPhone 15 Pro esquenta?
O sinal de alerta de que o iOS 17 chegou problemático foi emitido quando surgiram relatos de que o telefone esquentava além do normal, forçando a Apple e outros apps a disponibilizarem uma atualização.
Decidimos testar o iPhone 15 Pro com a versão de fábrica, sem atualizar o sistema operacional, e também sem fazer atualizações nos aplicativos. Não tivemos episódios de superaquecimento, como foi relatado por alguns usuários - em apenas um momento ele parecia levemente mais quente do que o normal. Isso, no entanto, não significa que a experiência transcorreu livre de problemas.
O telefone apresentou diversos engasgos em apps diferentes, como o WhatsApp e os aplicativos de produtividade do Google. Experiência é similar à relatada no teste do iPhone 15, o que leva a crer que atualizar o iOS 17 é mandatório - mas isso é algo um tanto frustrante para quem coloca as mãos em um aparelho novo.
A câmera do iPhone 15 Pro é boa?
O iPhone 15 Pro manteve o conjunto de lente tripla, uma escolha presente desde o iPhone 11 Pro. O conjunto de 2023 é muito parecido com o de 2022: uma grande angular de 48 MP, uma ultra-angular de 12 MP e uma telefoto de 12 MP. A maior novidade é que a imagem padrão da lente principal é de 24 MP, em vez de 12 MP, resolução utilizada nos últimos anos pela empresa.
Isso significa que a câmera vai tirar com um clique várias imagens em 12 MP, além de usar o sensor inteiro de 48 MP para acrescentar detalhes, e costurar tudo isso via software para gerar uma foto de 24 MP. De fato, o resultado traz muitos detalhes e cores para as imagens - a melhora em relação ao ano passado é perceptível (ainda que pequena), principalmente em ambientes iluminados. No geral, porém, o sensor vem mantendo um padrão notado desde o iPhone 12 Pro de dar uma leve escurecida nas fotos - rivais, como o Galaxy S, costumam ter fotos mais “vivas”.
Nesse esquema de combinar o sensor inteiro com múltiplas imagens, a Apple diz que consegue emular o efeito de sete lentes diferentes apesar de o telefone ter apenas três de fato. Usando o sensor principal, o iPhone produz o equivalente a lentes de 24 mm, 28 mm e 35 mm. Todas elas podem ser usadas respectivamente no zoom 1x, 1.2x e 1.5x. É possível também configurar para que qualquer uma dessas “lentes” seja o padrão. É um trabalho de engenharia interessante, que extrai qualidade do hardware e do software, mas a realidade é que isso não faz tanta diferença no dia-a-dia.
Já a telefoto permite dois tipos de alcance focal: 48 mm (2x) e 77 mm (3x). No iPhone 15 Pro Max, o 77 mm dá lugar a 120 mm (5x), algo que realmente faz diferença para imagens de longa distância. No iPhone 15 Pro, o zoom de 2x e 3x são tão similares que não chegam a empolgar - aqui, houve uma decisão comercial da Apple de restringir o topo de linha de hardware apenas para o seu celular mais caro.
Por fim, a ultra-angular permite fotos que cabem muita gente, emulando uma lente de 13 mm (0.5x), além de permitir o modo macro, uma obsessão da indústria de celulares há alguns anos, mas que tem pouca utilidade na rotina. Os resultados da telefoto e da ultra angular são bonitos, com detalhes, mas acrescentam pouco às lentes do ano passado.
Alguns detalhes de software chamam bastante a atenção. Agora é possível acrescentar e remover o modo retrato, que borra o fundo da imagem, depois que a foto é feita - o que torna mais prático o processo, já que antes era necessário escolher o modo antes de fazer o clique. É possível também mudar o foco no objeto da imagem depois que a foto é produzida. São dois belos acréscimos, que acrescentam recursos na capacidade de realizar composições - e isso é feito graças ao sensor de profundidade do telefone.
No restante, poucas novidades em relação a selfie (12 MP), modo noturno e captação de vídeos. Continuam produzindo belas imagens, mas avançaram pouco em relação ao 14 Pro.
Vale a pena investir no iPhone 15 Pro?
A resposta padrão para as últimas gerações do iPhone é: se você está vindo da geração imediatamente anterior do celular, você pode segurar. O iPhone 14 Pro, disponível apenas no varejo, pode ser um caminho interessante. No entanto, o novo topo de linha recebeu aperfeiçoamentos no corpo do aparelho, que melhoram sua ergonomia e acrescentam recursos. Já a câmera continua sendo uma das melhores do mercado, ainda que não seja perfeita.
A Apple precisa, no entanto, garantir que a bateria não será sugada - e isso exige atenção também ao iOS. É o que se espera de um aparelho que foca nos detalhes para continuar disputando o trono dos smartphones. O iPhone 15 Pro é um bom telefone, aponta caminhos para o futuro do celular, mas não é fundamental.
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