THE WASHINGTON POST - Durante um dia de trabalho recente, o sistema de registro de imagens da clínica onde Ezinma Okoli trabalha deixou de funcionar. A radiologista do serviço nacional de saúde do Reino Unido disse que aquilo foi o pior cenário possível. A interrupção do sistema poderia ter causado problemas aos profissionais de saúde e, em última análise, levado a clínica a recusar pacientes. Para alguns, isso poderia ter significado a diferença entre ter um diagnóstico precoce ou descobrir uma doença tarde demais.
Mas não foi isso que aconteceu. Como os registros de imagens da clínica não são inteiramente digitais, a médica conseguiu ter acesso às impressões dos arquivos e diagnosticar sete mulheres com câncer. Uma delas tinha mais de um tipo de câncer, disse Ezinma.
“Para nós, não atendê-la naquele dia porque estávamos dependendo do software poderia ter sido um ponto sem volta para aquela mulher”, disse. “Sei que estamos falando apenas de papel, mas esse é o impacto na vida real de uma família.”
Para profissionais como Ezinma, ter acesso a impressões é vital. Embora esse não seja necessariamente o caso da maioria dos trabalhadores nos Estados Unidos, as impressoras ainda são fundamentais para a forma como trabalham. Materiais impressos auxiliam alguns a enfatizar certas informações. Ajudam outros a se concentrarem e facilitam na hora de fazer anotações. E proporcionam uma forma simples de distribuir informações para as pessoas. Mesmo com todos os pontos problemáticos, como erros de impressão, problemas mecânicos e papéis presos, alguns trabalhadores dizem que continuarão a imprimir.
Neste ano, a expectativa é que o mercado doméstico e de escritório dos EUA para impressoras chegue a US$ 10,47 bilhões, com mais de 16,9 milhões de dispositivos a laser e a jato de tinta vendidos, de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado International Data Corp (IDC). Isso representaria uma queda de 15% nas vendas e uma redução de 11% no valor de mercado nos últimos cinco anos. No entanto, ainda se espera vender milhões de impressoras no mínimo pelos próximos quatro anos, e talvez depois disso, sugere a IDC.
Alguns setores ainda dependem bastante das impressoras para registros em papel. Por exemplo, os prestadores de serviços de saúde costumam usar papel para coletar informações dos pacientes e atualizar os arquivos deles. E o sistema jurídico depende das impressoras para a coleta de provas, apresentação de documentos ao tribunal, troca de informações entre as partes envolvidas e, em alguns casos, contratos comerciais.
“Por mais que o mercado goste de falar de um mundo sem usar papel, a impressão ainda é algo que precisamos e exigimos para (alguns) trabalhos”, disse Keith Kmetz, vice-presidente de pesquisa de soluções de imagem, impressão e documentos da IDC. “Ele não está desaparecendo.”
Brad Shannon, especialista em TI em Simpsonville, na Carolina do Sul, descreve sua relação com impressoras como um caso de amor e ódio. Nos dias melhores, ele é grato a ela. Nos piores, gostaria de poder pegar um taco de beisebol e destruí-la em mil pedaços – como na famosa cena do filme “Como Enlouquecer Seu Chefe”.
Shanon, que presta serviços para uma pequena empresa do governo e tem sua própria empresa de consultoria, já lidou com tudo, desde impressoras que precisavam ficar desligadas por 20 minutos para saírem do modo de suspensão a problemas de conexão e impressoras travadas por papel preso. O processo para fazê-las voltar a funcionar pode ser tão complicado que ele tenta evitar o “aborrecimento” de imprimir a todo custo. Mas ele precisa de uma impressora para documentos de trabalho que devem ser autenticados e enviados pelo correio.
“Eu me sinto um idiota”, disse ele, rindo de seus problemas com impressoras. “Estou trabalhando com TI há mais de duas décadas... e é como se eu não soubesse o que estou fazendo.”
Para Evan Naar, consultor jurídico assistente de uma agência de licenciamento, o Beanstalk Group, com sede em Nova York, as impressoras às vezes são necessárias para acordos comerciais, principalmente quando ele tem que escrever alterações e compartilhá-las com ambas as partes. Ele também teve que enviar alguns documentos como correspondência registrada. E quando trabalhou anteriormente num escritório especializado em direito de família, disse que usava bastante as impressoras para os documentos que os advogados levavam para o tribunal e compartilhavam com os clientes.
Ainda existe lugar neste mundo para coisas físicas
Jon Shelness, fundador da My Property ID Registry
Embora entenda a necessidade de impressoras em sua área, Naar disse que elas às vezes ainda o tiram do sério.
“Sou uma pessoa impaciente, então o tempo de espera é o que mais me frustra”, afirmou, referindo-se a quando precisa imprimir um número grande de páginas. “Além disso, a tecnologia pode ser muito instável, então às vezes você não consegue conectar a impressora ao computador.”
As impressoras também são fundamentais para as pessoas cujas empresas dependem quase totalmente de um produto impresso.
É o caso de Jon Shelness, fundador da My Property ID Registry, uma empresa que fornece etiquetas para os pertences das pessoas. Cada etiqueta tem um número que a vincula a um banco de dados digital, que armazena informações como o número de série do item. O objetivo é ajudar as pessoas a dar informações específicas de seus bens à polícia no caso de eles serem roubados. Obviamente, grande parte do negócio depende de etiquetas físicas. Além disso, Shelness disse que imprime brochuras e materiais de marketing, assim como cartas individuais para possíveis clientes e órgãos de segurança pública.
Às vezes ele chega a imprimir entre 40 e 50 páginas em um único dia. Shelness acabou jogando fora várias impressoras a jato até passar a usar um modelo a laser para o trabalho.
“De certa forma, meu produto de segurança também é antiquado”, disse ele. “Acho que ainda existe lugar neste mundo para coisas físicas.”
Trabalhar com coisas físicas é a preferência de alguns profissionais, para os quais algo estar impresso no papel facilita o trabalho para eles ou para seus clientes.
Como recrutador do setor de vendas, Chris Stinson disse que gosta de imprimir os currículos dos candidatos para poder destacar ou fazer anotações nas margens antes das entrevistas. O morador de Alpharetta, na Geórgia, disse que salva tanta coisa em seu computador que, às vezes, encontrar o arquivo certo pode ser uma tarefa e tanto. Ele também disse que memoriza melhor as informações quando as escreve.
Mas ele já teve sua parcela de dor de cabeça com impressoras. Certa vez, sua impressora ficou parada mesmo depois de ele ter clicado no botão imprimir. Faltavam dez minutos para uma entrevista com um candidato, cujo currículo ele tinha planejado imprimir. Ele resolveu o problema a tempo, mas chegou na entrevista todo afobado, disse.
“No fim, você clica no botão imprimir e torce para que isso de fato aconteça”, disse Stinson. “Isso me irrita, mas não sei se poderia viver sem uma impressora.”
Adam Preset, vice-presidente e analista de local de trabalho digital da empresa de pesquisa e consultoria Gartner, diz que abandonar as impressoras talvez tornasse o trabalho dele mais difícil. Preset faz apresentações para grandes plateias com frequência, e ele sempre leva impressões de seus slides para o caso de ocorrer algum problema com seu laptop – e isso já aconteceu.
“Eu poderia conhecer meu conteúdo tão bem a ponto de não precisar de anotações ou recursos visuais de qualquer tipo, mas às vezes falo de conceitos que são muito complexos”, disse ele. “A cópia no papel é o meu seguro.”
Alguns trabalhadores apenas preferem a sensação e o foco que o papel proporciona. Emmett Hynous, diretor de vendas da empresa de software de gerenciamento de informações corporativas OpenText, disse que às vezes imprime conversas longas por e-mail para ler, fazer anotações e então responder digitalmente. Ele também gosta de revisar contratos dessa forma. O papel oferece uma pausa das telas para as quais ele passa o dia todo olhando. Sua maior preocupação: o preço da tinta. Ele gasta cerca de US$ 60 com cada troca. Até chegou a comprar uma marca mais barata, mas sua impressora não funcionou com ela.
“É um mal necessário”, disse ele sobre sua impressora. “É a única coisa que você simplesmente não joga fora ou se livra porque acha que vai precisar dela em seguida.”
Shannon Epps já teve vontade de jogar fora sua impressora mais de uma vez. Ela disse que às vezes precisa passar um tempo longe de sua impressora e de seus erros confusos antes de resolvê-los. Mas, como especialista administrativa trabalhando remotamente, ela é obrigada a imprimir porque alguns de seus clientes preferem a versão impressa de documentos e faturas e recebê-los pelo correio tradicional.
Ela disse que se pudesse magicamente criar a impressora perfeita, pediria para que ela fizesse uma única coisa: funcionar.
“Não vou falar mal dela com ela aqui do meu lado”, disse rindo e virando a cabeça em direção à impressora. “É só você falar dela que ela para de funcionar.” / TRADUÇÃO POR ROMINA CÁCIA
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