Relógios inteligentes ganham fama, mas pulseiras espertas seguem na moda

Apple Watch e Galaxy Watch chamam a atenção, mas acessórios como a MiBand, da Xiaomi, permanecem no pulso do brasileiro

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Foto do author Bruna Arimathea

Por volta de 2019, as pulseirinhas conectadas viraram febre. Com capacidade para medir passos, batimentos cardíacos e gastos de caloria, além de um precinho camarada, elas arrumaram espaço nos pulsos dos brasileiros. No entanto, com o crescimento e barateamento de relógios inteligentes, como o Apple Watch e o Galaxy Watch, a categoria ganhou uma opção de peso. Estariam as pulseiras fadadas ao museu da tecnologia?

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Muitas marcas acham que não - incluindo a Samsung. A fabricante de celulares lançou no mês passado a Galaxy Fit3, sua nova pulseira inteligente. Esse é o primeiro lançamento da marca no setor de smartbands desde o final de 2021, quando a Galaxy Fit2 foi lançada no Brasil.

De acordo com a empresa, a aposta na volta da pulseira — ou smartband — é uma resposta ao mercado na categoria de produtos mais acessíveis. O dispositivo, que pode monitorar sinais vitais além de exercícios físicos como caminhada, corrida e natação, chegou ao mercado por R$ 550.

“Na atual era do bem-estar, as pessoas buscam uma compreensão mais abrangente de sua saúde”, afirma Gustavo Assunção, vice-presidente de Mobile Experience da Samsung Brasil. “Nosso mais novo monitor de condicionamento físico, o Galaxy Fit3, destaca nosso compromisso em disponibilizar recursos acessíveis que incentivam o bem-estar diário.”

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Daniel utiliza um modelo de smartband da Xiaomi para medir sinais vitais e exercícios Foto: Felipe Rau/Estadão

A julgar pelo que dizem os adeptos do acessório, as pulseiras seguem vivíssimas. Daniel Aloia Plastina, 21, é estagiário de data analytics e escolheu uma pulseira inteligente para ajudar a monitorar atividades do dia a dia. “O motivo de ter comprado uma smartband foi totalmente voltado para o exercício físico, para ter um aparelho que monitora o esforço e o tempo entre outras categorias durante o treino na academia”, afirma.

A médica Michelle Sister, de 44 anos, começou a usar o dispositivo para entender melhor os padrões de sono. “Uso a smartband já há uns três anos. Comecei a usar porque acordava cansada, mesmo dormindo um tempo adequado. Queria ver a qualidade do meu sono.”

Preço ajuda

Espertas e “baratinhas”, as pulseiras se diferenciam dos smartwatches principalmente na quantidade de funções e de independência que podem ter dos celulares. A maioria dos dispositivos das duas categorias ainda precisa se conectar com um app no smartphone, mas os relógios podem ter ferramentas mais avançadas como GPS embutido, chip de internet e tecnologia NFC, de pagamentos por aproximação.

As pulseiras ficam com o básico de um dispositivo vestível: monitoramento de sono, batimento cardíaco, passos e - as mais modernas - medição do nível de oxigênio no sangue. Além disso, elas geralmente não oferecem compatibilidade com mensagens de voz ou possibilidade de responder mensagens diretamente no visor. É como se as duas categorias disputassem mercados completamente diferentes.

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“O relógio tem como seu principal uso a interface que pode funcionar quase como um mini telefone no seu pulso. Assim, você não precisa toda hora tirar o telefone do bolso”, afirma Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS. “Muita gente usa as pulseiras para monitoramento de saúde e exercícios. Então, se esse é o principal foco, realmente não tem porque você ter um relógio.”

Smartbands conseguem fazer monitoramento de sono, exercícios e batimentos cardíacos  Foto: JF Diorio/Estadão

Momento

As vendas de pulseiras, porém, já tiveram números maiores. Desde 2018, quando os modelos mais acessíveis e cheios de ferramentas chegaram, o dispositivo teve seu auge em 2021, durante a pandemia de coronavírus.

Na época, de acordo com a consultoria GfK, o aumento na procura dos dispositivos estava ligada ao desejo do usuário de monitorar melhor sinais vitais como níveis de oxigênio no sangue, estresse, batimentos cardíacos e qualidade do sono durante o período pandêmico. Com a restrição de atividades fora de casa, muitas pessoas optaram pelas pulseiras para monitorar os próprios exercícios caseiros.

“O mercado de pulseiras inteligentes ganhou força no Brasil por meio do conceito de ‘fitness band’ e teve um pico de vendas em 2021. O foco em saúde alavancou as vendas e o uso para o monitoramento de sinais vitais, como número de passos e nível de oxigenação, por exemplo, reflete essa mudança de hábitos por força da pandemia”, afirma Fernando Baialuna, diretor da GfK na América Latina.

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Desde então, as vendas das pulseiras inteligentes tiveram uma queda de 56%, considerando o ano de 2023, de acordo com a GfK. Para o mesmo período, os relógios inteligentes tiveram queda de 17%.

Mesmo com a queda nas vendas nos últimos anos, um dos maiores atrativos para o produto continuar no mercado é o preço. Com média entre R$ 200 e R$ 300, as pulseiras podem custar um quinto do preço de um relógio inteligente, entregando, muitas vezes, quase as mesmas funções que os “primos” mais avançados.

Plastina é uma das pessoas que aderiu às pulseiras inteligentes após a pandemia, quando considerou que uma smartband era a escolha ideal para a rotina e para o bolso. “Cheguei a pensar (em comprar um relógio), mas por conhecer outras pessoas que usavam essa mesma pulseira, ver que tinha bom funcionamento e um valor mais em conta em relação a outros modelos, acabei preferindo a smartband”, diz o estagiário de data analytics.

Custo benefício foi um dos fatores considerados por Daniel Plastina na hora de comprar o dispositivo Foto: Felipe Rau/Estadão

É esse custo benefício que compensa, de acordo com Carlos Rafael Neves, professor do curso de Ciências de Dados e Negócios da ESPM. Segundo ele, as necessidades mais procuradas por grande parte do público podem ser alcançadas com as pulseiras, o que alivia o bolso na hora de adquirir um dispositivo do tipo.

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“O mercado brasileiro aceita bastante esse tipo de gadget em uma faixa de preço mais barata justamente porque ele ataca na necessidade que a maioria das pessoas quer. É um mercado grande justamente por esse fator. Um relógio pode te dar mais funcionalidades, mas não é o que todo mundo precisa a todo momento nem todo mundo quer pagar a mais por isso”, diz Neves.

Modelos no mercado

Os modelos continuaram no radar dos consumidores e das empresas. Grandes fabricantes como Xiaomi e Huawei, duas chinesas gigantes no setor de vestíveis, também continuaram, nos últimos anos, olhando para o mercado do Brasil para investir em seus produtos do tipo.

Dos dispositivos mais recentes, a Xiaomi está no mercado com a MiBand 8 - linha que foi uma das favoritas dos brasileiros quando o setor chegou ao Brasil. Com estrutura metálica e tela de Amoled, a MiBand 8 custa cerca de R$ 525 na loja oficial da marca.

Já a Huawei tem, atualmente, a Honor Band 8 como seu modelo mais novo. O modelo também tem corpo metálico, tela de Amoled com 1,47 polegada e está nas prateleiras a partir de R$ 230. Os preços podem chegar até cerca de R$ 350 (a Huawei não vende no Brasil com seu e-commerce próprio, apenas em varejistas). Já o smartwatch Huawei GT4, modelo mais recente da marca, fica entre R$ 1.150 e R$ 2.168.

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A Amazfit, empresa que fabrica dispositivos em parceria com a Xiaomi, está no País com a Amazfit Band 7, nas cores preto, branco e rosa, a partir de R$ 270 em lojas de varejo - o relógio inteligente mais recente da empresa fica entre R$ 800, na versão GTS 4 Mini, e R$ 1.225 no modelo tradicional.

Galaxy Fit3 é nova pulseira inteligente da Samsung no mercado brasileiro Foto: Samsung/Divulgação

Agora, com a volta da Samsung para o mercado de pulseiras, mais um modelo ganha as prateleiras, o que sinaliza interesse renovado na categoria.

“Esse movimento da Samsung assina embaixo. Não é todo mundo que precisa ter sincronismo com playlist ou responder WhatsApp pelo relógio. São funcionalidades bacanas, mas não é todo mundo que precisa”, aponta Neves, da ESPM.

Futuro

O mercado das pulseiras, porém, deve passar por um momento decisivo nos próximos anos. À medida que tecnologias de componentes como tela e chips ficam mais acessíveis, os preços dos relógios podem diminuir, aumentando o leque de opções.

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Por enquanto, as notícias são positivas para as pulseiras: segundo a GfK, os mercados de relógios e pulseiras inteligentes ainda não competem entre si, por terem objetivos diferentes. Mas é possível que, no futuro, esses dois nichos possam se encontrar.

A salvação desses dispositivos pode ser uma tendência bastante difundida entre gerações mais novas, que buscam uma relação mais saudável com seus eletrônicos: a “desconexão” com a internet e com trackers de atividades.

Para muitos jovens, diminuir a quantidade de aparelhos e informações conectadas é um modo de aliviar o estresse e a ansiedade do dia a dia. Com ferramentas mais simples, as pulseiras podem oferecer exatamente este estilo de vida.

“Ela pode ser menos intrusiva. Essa é uma questão que está em pauta. Temos estudado bastante essa questão da computação um pouco mais invisível, no sentido em que já estamos cheios de distrações, de alertas. Existe um público que já está está muito sobrecarregado de notificações de informações e que prefere esse dispositivo por ser menos invasivo”, afirma Pellanda.

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