Ao longo de sucessivas administrações, o governo dos EUA tem usado restrições comerciais rígidas para tentar sufocar a gigante chinesa de telecomunicações Huawei. Por sua vez, a empresa nunca perde uma oportunidade de mostrar que ainda está de pé.
No ano passado, no final de uma visita à China de Gina Raimondo, a secretária de comércio dos EUA, a Huawei apresentou um smartphone que era alimentado por um semicondutor avançado fabricado na China. O chip era exatamente o tipo de tecnologia que os Estados Unidos, em um esforço liderado por Gina, tentaram impedir que a China desenvolvesse.
O telefone da Huawei, chamado Mate 60 Pro, foi anunciado na China como o triunfo de um campeão nacional sobre as restrições americanas. Ele se esgotou em poucos minutos nas plataformas de comércio eletrônico chinesas. Muitos compradores optaram por combinar sua compra com uma capa de telefone estampada com uma foto do rosto de Gina.
Na terça-feira, no centro tecnológico chinês de Shenzhen, a Huawei voltou a se destacar com o anúncio de um novo dispositivo, poucas horas depois da Apple apresentar seu iPhone 16, na Califórnia. O mais recente telefone da Huawei, o Mate XT, é uma grande novidade: ele pode ser dobrado duas vezes, em ‘Z’.
O dispositivo do tamanho de um tablet se dobra ao longo de duas dobras verticais para ficar do tamanho de um telefone comum. É o primeiro smartphone com três dobras disponível comercialmente. Ele vem em duas cores, vermelho e preto, e estará à venda a partir de 20 de setembro.
“É um trabalho que todo mundo já pensou, mas nunca conseguiu criar”, disse Richard Yu, presidente do grupo de consumidores da Huawei. “Sempre tive o sonho de colocar nosso tablet no bolso, e conseguimos.”
O Mate XT, com uma tela que mede 10,2 polegadas na diagonal, é equipado com recursos de tradução, mensagens e edição de fotos habilitados para inteligência artificial (IA). Yu também apresentou um teclado fino que se dobra ao meio e fica do mesmo tamanho do telefone. Ele mostrou ao público como carregava os dois juntos no bolso de seu paletó.
A partir de US$ 2,8 mil, o Mate XT tem o preço de um produto de luxo. Desde que o Mate 60 Pro foi lançado no ano passado, a Huawei tem dominado o mercado de smartphones de ponta na China, ganhando da Apple.
Embora o telefone triplo esteja fazendo sucesso, a Huawei ainda não apresentou seu mais recente rival do iPhone, o Mate 70 de última geração.
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Nos últimos anos, a Huawei lançou novos produtos em setembro, que também é quando a Apple, normalmente, revela novos iPhones.
A Huawei usou os eventos para comemorar também a libertação, em 2021, de Meng Wanzhou, uma importante executiva e filha do fundador da empresa, que havia sido detida no Canadá depois que a empresa foi acusada de violar as sanções dos EUA. Seu caso tornou-se um ponto de inflamação geopolítica e seu retorno recebeu ampla atenção na China.
Os analistas disseram que o lançamento do Mate 70 foi retardado por restrições na produção de chips na principal fabricante de chips do país, a Semiconductor Manufacturing International Corporation of China, ou SMIC, apoiada pelo Estado.
A empresa estava por trás dos chips que permitiram que a Huawei surpreendesse o mundo no ano passado. Mas a tecnologia usada para fabricar esses chips é cara e propensa a defeitos, o que dificulta sua produção em grandes volumes.
A Huawei conta com a tecnologia mais avançada da SMIC para três de suas linhas de produtos, incluindo o novo telefone triplo, disse Joanne Chiao, analista da TrendForce, uma empresa de pesquisa de mercado.
A Huawei não confirmou uma data de lançamento para o Mate 70. A SMIC não respondeu a um pedido de comentário.
Huawei tenta resistir a embargos
A Huawei já foi uma das principais marcas globais de smartphones e fabricante de equipamentos de telecomunicações 5G. Sua participação no mercado mundial de smartphones despencou depois que o governo Trump tomou medidas em 2019 para restringir seu acesso a tecnologias essenciais, incluindo semicondutores. As sanções adicionais impostas pelos Estados Unidos e seus aliados reduziram ainda mais os lucros da empresa. Mas a Huawei se recuperou no ano passado, registrando seu crescimento mais rápido em quatro anos, impulsionado em parte pelas vendas do Mate 60 Pro.
O novo telefone dobrável é a tentativa da Huawei de mostrar sua liderança, apesar da incerteza em torno da data de lançamento do Mate 70, de acordo com Linda Sui, diretora sênior da TechInsights, uma empresa de pesquisa de mercado.
“A Huawei ainda tentou fazer algo para salvar a face, para fazer as pessoas acreditarem que ela se sente confortável em competir com a Apple lado a lado”, disse Sui.
Durante uma década, a China foi responsável por cerca de 20% do total de vendas da Apple. Era o mercado mais importante do iPhone, depois dos Estados Unidos.
Mas a participação de mercado da Apple na China caiu drasticamente durante o primeiro semestre deste ano. Mesmo oferecendo iPhones com desconto - uma medida rara para a Apple - não foi suficiente para reverter o declínio.
No trimestre que terminou em junho, a Apple deixou de ser uma das cinco marcas mais vendidas na China, de acordo com a Canalys, uma empresa de pesquisa. Esse foi o primeiro trimestre em anos em que os smartphones mais vendidos na China foram todos fabricados por empresas nacionais.
Desde que o Mate 60 foi lançado, a Apple perdeu quase um quarto de sua participação no mercado de smartphones de ponta, disse Sui. Essa participação foi conquistada pela Huawei.
A Apple enfrenta outros desafios: a relutância dos consumidores chineses em gastar, enquanto a economia está crítica, e a crescente pressão do governo para que as pessoas se afastem dos dispositivos fabricados por empresas americanas.
Muitos consumidores estão mantendo seus telefones por mais tempo em vez de gastar em uma atualização incremental. A Apple apostou que o novo software habilitado pela inteligência artificial motivará as pessoas a comprarem o iPhone 16.
Na China, o governo regulamenta rigorosamente o acesso a produtos de inteligência artificial, como alguns dos novos recursos descritos pela Apple. A Apple disse que planeja trabalhar com a OpenAI, a líder americana em inteligência artificial, em parte dessa tecnologia. Mas para disponibilizá-la na China, é provável que a Apple precise encontrar uma empresa parceira chinesa.
Uma escolha óbvia seria o Baidu, o gigante chinês das buscas. A Samsung, fabricante coreana de eletrônicos, fez uma parceria com a Baidu para as versões de seu novo smartphone habilitado para IA que foram lançadas na China este ano.
A Apple, que não respondeu a um pedido de comentário, não explicou como implementará seu software de IA. na China.
Lori Chang, analista sênior da Isaiah Research, uma empresa de pesquisa de mercado, disse que é improvável que o telefone triplo dê um grande impulso às vendas da Huawei. O dispositivo é caro e, como a tela dobrável é difícil de fabricar, espera-se que a empresa produza apenas algumas centenas de milhares de unidades. A Huawei lançou seu primeiro telefone dobrável com um vinco em 2019.
Em Shenzhen, na terça-feira, Yu, o executivo da Huawei, disse que o alto preço do telefone refletia o desafio de sua produção. “Esperamos reduzir o custo melhorando o processo depois que ele for lançado no mercado”, disse Yu.
Ainda assim, até terça-feira, 10, mais de quatro milhões de pessoas haviam se registrado no site da Huawei para serem notificadas quando o Mate XT for colocado à venda.
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