Computação espacial: O que é a nova tecnologia que pode ser o fim das telas de celular?

Termo diz respeito a uma nova forma de interação com ambientes físicos e virtuais

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Foto do author Guilherme Guerra

Depois de metaverso e inteligência artficial (IA) generativa, o mundo tem se acostumado a uma nova palavra no mercado de tecnologia: computação espacial. Mas, afinal de contas, o que isso significa?

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O termo foi anunciado pela Apple em junho do ano passado, quando a companhia revelou pela primeira vez os óculos Vision Pro. Após meses de expectativas, o aparelho chegou nesta sexta-feira, 2, às lojas dos Estados Unidos por preços que vão de US$ 3,5 mil (R$ 17,5 mil) a US$ 4,5 mil (R$ 22,5 mil).

“Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Vision Pro nos apresenta a computação espacial”, declarou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, em 5 de junho do ano passado no palco da WWDC, conferência para os desenvolvedores da empresa, em Cupertino, Califórnia, sede da Apple.

Para a Apple, a computação espacial, que explora o espaço físico em torno da pessoa, é uma continuidade da computação tradicional, área em que a Apple é especialista desde as primeiras máquinas criadas pela dupla de fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. É como se a computação espacial fosse uma versão moderna desse tipo de tecnologia que está presente em nosso dia a dia há décadas.

Atualmente, interagimos com máquinas por meio de uma tela física e botões, com uma interface limitada pelo tamanho do display. Quanto maior a tela, mais informações podem ser apresentadas no visor. Já a computação espacial extrapola isso — e vai além da bidimensionalidade de uma tela e usa o espaço físico do usuário para criar interfaces.

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“A computação espacial usa o ambiente à nossa volta para projetar telas e outros objetos”, explica o professor Eduardo Pellanda, da PUC-RS. Na prática, a computação espacial permite que o aparelho saiba o que é a parede, o chão ou uma mesa e consiga performar uma tarefa a partir dessa dimensionalidade. “A máquina entende o espaço físco”, diz ele.

Vision Pro, da Apple, permite ampliar telas em tamanhos em qualquer escala Foto: Divulgação/Apple

Pioneirismo da computação espacial

O Vision Pro é o primeiro dispositivo da Apple a navegar pelo mercado de computação espacial. E é um dos poucos no mercado a utilizar esse termo — até então, aparelhos no formato de óculos ou capacetes eram apresentados como sendo de realidade virtual (RV), com imersão total, ou de realidade aumentada (RA), com interação com o mundo real por meio de câmeras.

Na categoria de RV, o maior nome é o Quest 3, da Meta, vendido a US$ 500 nos Estados Unidos para ser usado nos games e comunicações imersivas. Há o PSVR 2, óculos de realidade virtual do PlayStation 5, da Sony — cuja utilidade é a área de games, sem conectividade à internet e sem funcionar como ferramenta de comunicação

Já em RA, as utilizações costumam ser mais corporativas. Há os Hololens, da Microsoft, que desenhou o aparelho para ser aplicado a diferentes indústrias, como engenharia aeronáutica e treinamento em cirurgias médicas. Há um novo dispositivo da Sony, revelado em janeiro passado para ajudar na criação de design e de animações. E existem os óculos inteligentes da Meta criados em parceria com a Ray-Ban, que podem transmitir fotos e vídeos diretamente para o Facebook e Instagram, bem como ler e responder mensagens e tocar música.

“O Vision Pro se diferencia em relação aos outros óculos do mercado por não ser especificamente de RV nem de RA”, explica Pellanda. “Não é uma substituição dos óculos de VR ou VA.”

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Nesse sentido, um sinônimo para computação espacial tem sido realidade mista (RM), quando um dispositivo consegue cumprir tanto funções de RV, quanto de RV. Esse é o caso do Vision Pro, da Apple, embora a empresa não utilize essa nomenclatura.

A Apple afirma que os óculos realizam uma série de atividades, como ver filmes e séries, jogar games, trabalhar, navegar na Web, fazer exercícios e até tirar fotos espaciais — leia mais (”Para que serve o Vision Pro?”).

Para dar conta disso, os óculos da marca precisam de sensores de ponta, bem como um software afiado com inteligência artificial e visão computacional para conseguir “entender” o mundo real.

Vision Pro, da Apple, permite trabalhos multitarefas, com várias janelas em diversos aplicativos Foto: Divulgação/Apple

O aparelho da companhia tem uma tela de altíssima resolução, superior a 4K em cada lentes dos óculos, com taxa de atualização a 100 Hz. Ainda, há 12 tipos diferentes de câmeras embutidas, com intuito de registrar o mundo externo, rastrear os olhos do usuário e clicar fotos e vídeos espaciais. Dois novos chips (o M2 e o R1) dão conta de todo o processamento de informações por tempo real, integrados ao sistema operacional visionOS.

Uma das grandes novidades do Vision Pro está na forma de interação com o aparelho. Ao contrário do computador pessoal, que exige um teclado e mouse, e do smartphone, que funciona com uma tela multitoque, os óculos da Apple recebem comandos por voz (pela assistente digital Siri), por gestos manuais (como performar pinças com os dedos no ar) e por acompanhamento ocular (que funciona como um indicador para onde “clicar”).

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Origem da computação espacial

O termo computação espacial é atribuído ao pesquisador americano Simon Greenwold, que, em 2003, publicou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) um trabalho de 130 páginas definindo o conceito e apontando caminhos para a tecnologia — quando sequer havia smartphone.

“A computação espacial é a interação humana com uma máquina na qual a máquina retém e manipula referências a objetos e espaços reais. Ela é um componente essencial para tornar nossas máquinas parceiras mais completas em nosso trabalho e diversão”, escreve Greenwold na apresentação do trabalho.

O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Tróia da Apple para acabar com todos esses produtos

Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS

Para o professor Pellanda, o avanço da computação espacial pode significar o fim das telas em nosso dia a dia, apontando para um futuro mais interativo com o mundo real, com mais possibilidades em aberto.

“Hoje, temos um mundo multitelas de vários tamanhos, como o smartwatch, smartphone, tablet, computador, TV”, diz. Para cada uma, há uma interface com um fim específico: saúde, dia a dia, leituras mais longas, trabalho e entretenimento. Mas ainda não há nada que cumpra todas essas funções com a mesma eficácia e praticidade. “O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Troia da Apple para acabar com todos esses produtos”, diz Pellanda.

Da mesma forma que o iPhone foi criado sabendo que iria eliminar o iPod e que o iPad poderia reduzir a necessidade por computadores Mac, os óculos de computação espacial da Apple podem ter papel semelhante.

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