Como um irlandês que morava em Varginha criou o hit PlayerUnknown’s Battlegrounds

Com mais de 20 milhões de cópias vendidas nos PCs, game superou ícones como Zelda e Call of Duty e chega nesta terça-feira ao Xbox One

Brendan Greene, o criador de PlayerUnknown's Battlegrounds Foto: Bruno Capelas

Qual é o maior sucesso do mundo dos games em 2017? Errou quem apostou em Zelda, Mario, na nova aventura do PlayStation Horizon Zero Dawn ou no best seller Call of Duty WWII. Com mais de 20 milhões de cópias vendidas nos PCs, o improvável hit do ano se chama PlayerUnknown’s Battlegrounds – um game que ainda está em fase de testes e chega nesta terça-feira, 12, ao Xbox One, após uma longa jornada iniciada na cidade de Varginha, em Minas Gerais. 

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A história de PlayerUnknown’s Battlegrounds (ou PUBG, como o game ficou conhecido) começa, como muitas, com um sonho e um coração partido – no caso, o do DJ, fotógrafo e designer Brendan Greene. Irlandês, Greene veio morar no Brasil em busca do amor de sua vida, que ele conheceu pela internet e morava na cidade do famoso ET.“Depois de um tempo, as coisas não deram certo e virei o gringo sozinho morando em Varginha”, conta ele, em entrevista ao Estado. 

“Passei quatro anos tentando economizar dinheiro para voltar para casa. Nos dois últimos, descobri os games”, diz Greene, que se define como um “não jogador” – segundo o próprio irlandês, ele nunca foi capaz de zerar um game da série Zelda ou de Metal Gear Solid, dois ícones dos jogos. Enquanto juntava recursos para retornar à Irlanda, Greene se afeiçoou à ideia de criar seu próprio jogo. 

Foi aí que ele se envolveu com o jogo DayZ e sua comunidade de modders – isto é, pessoas que alteram o código do programa do game para criar novos personagens, histórias, modos e até mesmo possibilidades. Não que tenha sido fácil. “Eu não sabia programar. Gastei um mês apenas para aprender como criar um sensor de contagem regressiva no jogo”, diz. 

Inspirado pelo livro japonês Battle Royale (que por sua vez serviu de base à franquia literária/hollywoodiana Jogos Vorazes), Greene tinha em mente uma ideia simples: 100 jogadores entram numa arena online, mas apenas um deles sai vivo. O prêmio? O Chicken Dinner – um jantar especial com peru, como uma ceia de Natal. 

Na versão do Xbox One, o jogo terá novidades como uma motocicleta, que poderá ser usada pelos jogadores para percorrer o cenário Foto: Bluehole

Resta-um. Muita coisa mudou da primeira versão de DayZ até o lançamento da versão de acesso antecipado (early access) de PlayerUnknown’s Battlegrounds, em março. Ao contrário de um lançamento definitivo, esse modo de venda permite que os jogadores testem o game (e eventualmente encontrem erros) enquanto o desenvolvedor ainda cria novas funções. 

O espírito ainda é o mesmo, porém: sobreviver. “Sempre odiei jogos que me mandavam fazer coisas. Gosto de games de sobrevivência porque eles dão muita liberdade ao jogador”, explica o irlandês. 

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A primeira versão do jogo, ainda como uma modificação de DayZ, foi feita em seus últimos dias no Brasil – o esforço, porém, não rendeu nenhum centavo ao irlandês. Pouco tempo depois, porém, Greene finalmente conseguiu juntar dinheiro para voltar à terra natal. 

Já na Irlanda, ele foi convidado pela equipe de outro jogo – Arma 3 – para desenvolver um modo de partidas específico baseado em sua criação. “Foi ótimo, porque nem todo mundo sabe instalar um mod. Mas o que eles fizeram acabou não sendo o que eu queria, era mais complicado”, explica. 

Frustrado, Greene continuou na Irlanda, cuidando de sua filha, tocando suas três carreiras e dependendo do seguro-desemprego que o governo local lhe pagava. Até que um dia o estúdio coreano Bluehole o procurou. “Eles queriam fazer o jogo que eu sonhei desde o começo. E aqui estamos.”

Ícone. De março para cá, PUBG não se tornou só o jogo mais vendido do ano como também bateu o recorde de jogadores simultâneos online na Steam, principal plataforma de jogos para PC no mundo. “É surreal ter 2 milhões de pessoas jogando meu game ao mesmo tempo”, conta um deslumbrado Greene, vestindo bermudas e uma camiseta com a cara de Marilyn Monroe, durante a Brasil Game Show. 

Na feira de games, realizada em São Paulo em outubro, Greene foi uma das principais atrações, aclamado pelo público como um tipo específico de ícone – aquele que inspira qualquer um a acreditar que pode ter sucesso com seu jogo. Tanto pelo sucesso comercial, mas também pelo fator “exército de um homem só”, o irlandês tem sido comparado a Markus “Notch” Persson, o sueco que criou praticamente sozinho o game Minecraft – e depois vendeu seu estúdio Mojang por US$ 2,5 bilhões à Microsoft. 

Jogador tem de explorar o mapa para coletar recursos e se armar contra rivais; ganha quem sobreviver por último Foto: Bluehole

“Minha família já teve problemas com dinheiro, mas estou bastante confortável agora. Minha filha na Irlanda felizmente não tem com o que se preocupar”, comenta Greene. “Quanto a mim, não preciso de muito: uso jeans e camiseta o tempo todo!”. 

Antes de “vender” o jogo, porém, Greene ainda tem muito trabalho pela frente: na semana passada, o game ganhou seu segundo mapa, ambientado num deserto. “Só vou parar quando conseguirmos ter um grande campeonato de eSports, com milhares de pessoas assistindo times de várias partes do mundo em um grande estádio”, conta. 

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Além disso, o game tem sido bastante copiado – títulos como GTA, Metal Gear e Fortnite ganharam modos bastante semelhantes a PUBG. “Não é um problema. Até o pega-varetas, se você for pensar, é um jogo desse modo. Só quero que as pessoas coloquem algo novo quando fizerem seus próprios games.” 

No YouTube, PlayerUnknown’s Battlegrounds também foi uma das sensações do ano – no Brasil, youtubers como Felipe Neto e BRKsEDU jogaram o game, que também foi parar nas madrugadas da TV Globo com Tiago Leifert. “É um game fácil de assistir e se identificar com qualquer jogador: ele está lá para sobreviver. Não tem erro”, brinca. 

Para ele, o lançamento no Xbox é uma vitória pessoal. “Agora posso dizer aos taxistas que tenho um jogo de verdade. Eles acham que ninguém joga no computador!”. 

Aos jogadores iniciantes, ele compartilha sua estratégia: nos primeiros minutos da partida, diz ele, o melhor a fazer é se afastar dos outros jogadores no mapa (todos começam quase no mesmo ponto) e buscar recursos, como armas ou roupas de proteção. “Se você começar a lutar logo no início, você até pode se dar bem, mas não vai aprender a lutar”, explica. “Quando a luta realmente for para valer, você terá as melhores armas. No fim das contas, tudo que importa é ganhar o Chicken Dinner”. 

PlayerUnknown’s BattlegroundsProdutora: Bluehole GamesPlataformas: PC e Xbox OnePreço: R$ 56 (Steam), US$ 30 (Xbox One)Já disponível no Brasil

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