A Era dos Robôs: feira mostra máquinas por todos os cantos e indica mundo futurista mais próximo

A CES, principal evento de tecnologia do mundo, deixou claro: você ainda vai interagir e ter robôs parecidos com os de filmes de ficção científica

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Foto do author Bruna Arimathea

LAS VEGAS - Não é novidade que a Consumer Electronics Show (CES) esteja repleta deles todos anos: robôs fofinhos, que imitam pets, assistentes que carregam bandejas e máquinas tão realistas que parecem humanos. Mas, em 2025, a principal feira de tecnologia do mundo mostrou que o mundo onde humanos coexistem com robôs está se aproximando mais rápido do que você pensa - claro, pelas mãos da inteligência artificial (IA).

O cenário já estava bem estabelecido muito antes do evento começar, mas ganhou ainda mais força quando Jensen Huang, CEO da Nvidia, subiu ao palco da principal como a maior estrela da feira. Em sua apresentação, ele afirmou que a era dos robôs está muito próxima e que a sua empresa acredita fielmente que esse é o próximo passo na evolução da IA.

Jensen Huang detalha modelos de IA para alimentar robôs humanoides  Foto: Patrick T. Fallon/AFP

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“O momento do ChatGPT para a robótica está chegando”, afirmou Huang na apresentação, completando que o avanço da área vai trazer a “maior tecnologia que o mundo já viu”. Ou seja, ele acredita que modelos de IA vão poder operar não apenas mais em uma janelinha no computador ou no app de celular. Esses sistemas controlarão robôs altamente sofisticados, capazes de leituras e execuções de contexto no mesmo nível de excelência que o chatbot da OpenAI apresenta no domínio da linguagem.

A Nvidia anunciou um projeto chamado GR00T Blueprint, uma modalidade de IA que se baseia no aprendizado por repetição. É um software que pode treinar máquinas com base de dados de vídeos, por exemplo, e que, eventualmente, consegue corrigir seus movimentos. O GR00T Blueprint é essencial para treinar robôs no aprendizado de novas habilidades.

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Além disso, o anúncio do Cosmos, um modelo de fundação que ajuda robôs e outras IAs a entenderem melhor o mundo físico, faz Huang posicionar a Nvidia na nova fronteira da tecnologia. O Cosmos servirá como o GPT funciona para o ChatGPT. Ou seja, é o cérebro por trás de quem deseja desenvolver máquinas inteligentes. É um salto da IA para o mundo físico.

Caso a explosão dos robôs se confirme, a Nvidia poderá surfar outra onda gigante de valorização. A companhia foi a grande protagonista de 2024, encerrando o ano como a segunda mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 3,4 trilhões.

Para todos os gostos

Enquanto as máquinas mais sofisticadas, como as de filmes, ainda não chegam, a CES exibiu muitos exemplares de equipamentos, que deixam poucas dúvidas de que você ainda vai ter um robô - ou de que, no mínimo, vai passar a interagir mais com eles.

É muito fácil avistar um robô no pavilhão da CES, basta seguir as pessoas se amontoando com celulares na mão e, muitas vezes, expressões ao mesmo tempo confusas e admiradas. Esse era o cenário no estande da Enchanted Tools, empresa francesa que desenvolveu o Mirokai, um robô parecido com uma raposa, que interage por voz e movimentos e espera ser o novo ajudante de atendimento em hospitais, restaurantes e hotéis.

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Mirokai, da The Enchanted Tools, chamou a atenção pelo visual futurista e simpático Foto: Patrick T. Fallon/AFP

Já o Tombot entra na categoria pets fofinhos: um cachorrinho que responde ao toque com sons e movimentos. Ou o Mi-Mo, que parece uma mesa com uma luminária mas, na verdade, se mexe e anda pela casa com uma câmera que segue o dono.

Para Huang, porém, é o segmento de robôs humanóides que deve evoluir nos próximos anos. Em sua apresentação, o CEO da Nvidia apareceu no palco em frente a um telão com vários modelos de robôs que imitam a anatomia humana para fazer tarefas de força, agilidade e habilidade com as mãos - curiosamente, o TeslaBot, proposto pela empresa de Elon Musk, não estava presente no pequeno “exército” montado por Huang.

Segundo o executivo, três tipos de robôs caminham para se tornar tendência: robôs agentes de IA, carros autônomos e robôs humanóides.

“O motivo pelo qual a robótica geral é tão importante é que, enquanto os robôs com esteiras e rodas exigem ambientes especiais para acomodá-los, há três robôs no mundo que podemos fabricar e que não exigem greenfield (que sejam iniciados do zero)”, explicou Huang. “Se pudéssemos construir esses robôs incríveis, poderíamos implantá-los exatamente no mundo que construímos para nós mesmos”.

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O Apollo, da Apptronics, representa bem o que Huang quer dizer. O robô com corpo e articulações que lembram um ser humano já consegue fazer movimentos suaves e sutis, diferente de outros modelos que ainda sofrem para simular a complexidade dos movimentos dos dedos ou dos membros - mesmo que não tenha nenhum apelo para se parecer, de fato, com uma pessoa. Com previsão de começar a fabricação em março deste ano por uma fábrica da Mercedes, o Apollo vai contar com um software de IA e deve ser mais autônomo do que a versão apresentada na feira.

Já a Aria, da Realbotix, imita a fisionomia humana. O modelo tem cabelos, um revestimento que simula pele e pode interagir por voz e movimentos. Equipado com uma IA semelhante ao ChatGPT, a Aria ainda pode responder perguntas e conversar com o usuário. Atualmente, o equipamento está no mercado por US$ 175 mil.

Aria, da Realbotix, imita aparência humana  Foto: Abbie Parr/AP

Outro grande sinal de que os robôs estão mesmo perto de nós foi o lançamento da Ballie, uma espécie de bolinha mecânica da Samsung, anunciada pela primeira vez na CES de 2020. O pequeno robozinho - que anda de forma semelhante ao BB8, da saga de filmes Star Wars - tem câmeras e sensores que podem escanear a casa e detectar movimentos, por exemplo. Uma das propostas da Ballie é ser uma espécie de babá de pets, mostrando aos tutores, em tempo real, como está o animalzinho.

Robô Unitree H1 cumprimenta visitantes da CES Foto: Abbie Parr/AP

A Ballie também pode fazer projeções no teto, chão e parede, além de se movimentar pela casa. Mesmo sem preço ou data de lançamento revelada, o robô deve chegar ao mercado ainda no primeiro semestre de 2025, afirmou a Samsung. É a chancela de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo de que uma máquina considerada futurista há quatro anos já está pronta para entrar no seu lar.

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Tudo isso aponta para um futuro em que o aspirador de pó robô vai ser apenas um parente velho da tecnologia doméstica, enquanto assistentes que falam e podem carregar objetos podem estar presentes na vida das pessoas. Se os próximos anos trouxerem as previsões das tendências de tecnologia - e do próprio Huang - será cada vez mais natural conviver com máquinas e interagir com elas.

*A repórter viajou a convite da Consumer Technology Association (CTA), organizadora da CES

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