A startup CargoX, especializada em conectar caminhoneiros com transportadoras, sempre foi vista como uma Uber dos fretes. Agora, com o recebimento de um aporte de US$ 200 milhões que a elevou ao status de mais um unicórnio brasileiro, a empresa quer ser vista mais como um Mercado Livre do segmento. Não por acaso, a companhia está mudando o seu nome para Frete.com e criando uma fintech focada em empréstimos para caminhoneiros chamada Frete Pago. A marca CargoX, por sua vez, continuará dando nome ao aplicativo de intermediação de fretes.
O aporte foi liderado pela empresa chinesa Tencent e pelo fundo japonês SoftBank. Além deles, a agora Frete.com também atraiu uma série de investidores relevantes que apostaram na empresa na própria pessoa física. Um deles é o ex-governador da Flórida Jeb Bush, filho de George Bush, ex-presidente dos EUA, e irmão mais novo de outro mandatário americano, George W. Bush. Reind Hoffman, fundador da rede social LinkedIn, também quis uma fatia da empresa. A empresa não divulga o valor de mercado exato, mas Vega afirma que está acima do US$ 1 bilhão, cifra mínima para uma empresa ser considerada um unicórnio.
Motoristas ‘digitalizados’
Segundo Federico Vega, fundador e presidente da companhia, a meta da empresa é escalar ainda mais o negócio e trazer mais eficiência para um setor que vem sofrendo bastante com o aumento de custos, como a disparada dos preços do diesel. Atualmente, a empresa tem em sua base com 615 mil caminhoneiros, cerca de 40% de toda a frota no País, e já intermediou R$ 100 bilhões em pagamentos entre transportadoras e motoristas.
Mesmo assim, o executivo enxerga um espaço para crescimento. Especialmente, para digitalizar a vida de parte dos caminhoneiros, que ainda trabalham da forma mais antiga, perdendo trabalhos, assim como uma diminuição da produtividade do modal. “Os caminhoneiros rodam vazios de 40% a 60% e isso é um custo enorme para eles. A digitalização diminui o impacto que eles estão tendo com a alta da gasolina”, diz Vega.
Sem grandes competidores nessa área de intermediação de fretes, a empresa se prepara para escalar outros segmentos da empresa. O principal deles é o Frete Pago, que vai financiar tanto transportadoras que demoram a receber dos clientes quanto garantir o pagamento dos motoristas, caso as transportadoras atrasem os pagamentos.
Além disso, a nova fintech vai conceder empréstimos tanto para motoristas quanto empresas – e as condições de juros e pagamento serão melhores para aqueles usuários (tanto pessoas físicas quanto jurídicas) melhores avaliados na plataforma.
Esse tipo de negócio já acontecia há alguns anos. Em 2019, o valor financiado já era de R$ 300 milhões e, este ano, Vega acredita que chegará a um valor próximo a R$ 1 bilhão. O dinheiro arrecadado nesse último aporte não será usado nessa área. “Vamos continuar emitindo FDICs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) e usar o dinheiro para aumentar a nossa operação, especialmente o time de tecnologia”, afirma.
Contratações e expansão
A corrida atual da Frete.com é contratar novos funcionários. De 2019 para cá, a empresa saltou de 140 para 1,3 mil. Até o fim de 2022, o número de colaboradores deve totalizar 3,5 mil. Além do mercado brasileiro, contratações também começarão a ser feitas em outros países da América Latina. Isso porque Vega enxerga que está no momento para entrar em locais como Argentina e Paraguai.
“Muitos caminhoneiros já fazem entregas nesses países e voltam sem nenhum tipo de carga”, diz Vega. E, claro, também será possível explorar esses países que são tão dependentes do transporte rodoviário quanto o Brasil.
Para Renato Mendes, sócio da consultoria F5 Business Growth, a internacionalização da operação faz sentido, assim como a fintech. Mas, para ele, uma das vias que a empresa pode seguir é aumentar os seus serviços para atender caminhoneiros e empresas.
Hoje, a companhia faz, além da concessão de crédito, emissão de documentação, seguro de carga e rastreamento de caminhões. A empresa já está estruturando esse negócio, chamado de FreteBras. “Enxergo um espaço para ser um local onde o caminhoneiro possa fazer tudo dentro da plataforma, como manutenção e seguros”, diz Mendes.
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