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Com alta de golpes digitais, startups de segurança crescem 'na surdina'

'Security techs‘ ganham holofotes e atraem investimentos em 2021, mas preferem se manter invisíveis aos clientes

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Foto do author Guilherme Guerra

Tradicionalmente, as startups de segurança digital (ou security techs) operavam “na surdina”, aplicando sua tecnologia em apps de bancos ou do e-commerce sem que clientes e consumidores percebessem. Em 2021, porém, elas ganharam holofotes: o ano foi marcado pelos megavazamentos de dados, aumento de ataques e golpes digitais e vigência plena da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que regulamenta como empresas e cidadãos devem tratar a privacidade nas plataformas digitais. O trabalho para evitar fraudes e golpes ganhou ainda mais peso. 

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Ao contrário do que se pode supor, o foco dessas empresas não são programas como antivírus ou software de monitoramento e varredura de máquinas. A nova geração de startups de segurança desenvolve tecnologias para atestar a veracidade de documentos em cadastros bancários ou comprovar identidade ao logar em sites e aplicativos – hoje, ter somente uma senha não é suficiente para evitar intrusos. Entre o que é oferecido estão tecnologias de reconhecimento facial e visão computacional que fazem a leitura de texto em imagens para analisar documentos e geolocalização. 

“Conforme as pessoas e as empresas foram se acostumando a usar os serviços digitais, surgiram os desafios de segurança”, explica ao Estadão Lincoln Ando, fundador e presidente executivo da IDWall. “Esse cenário exige maior preocupação com dados pessoais e táticas antifraude.”  Fundada em 2016, a IDWall sentiu o salto, que também foi impulsionado pelo movimento de digitalização na pandemia: a receita da empresa cresceu 385% entre março de 2020 e setembro deste ano. Com seus serviços de reconhecimento facial e leitura de imagens de documentos (OCR) para empresas, a startup reduz o tempo de espera na abertura de contas de instituições financeiras e faz a checagem de antecedentes criminais de clientes de locadoras de automóveis.

Lincoln Ando, fundador e presidente executivo da IDWall Foto: Taba Benedicto/Estadão

Os investidores estão especialmente atentos a esse cenário, que está no radar dos fundos de venture capital. Em junho, a IDWall levantou uma rodada de US$ 38 milhões. No mês passado, a rival Unico, também focada em identificação digital, tornou-se o primeiro unicórnio (avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão) brasileiro do setor, em rodada que contou com a participação do conglomerado japonês SoftBank.

Acompanhando o setor, a gestora brasileira Bossanova anunciou a criação de um fundo de até R$ 5 milhões para financiar startups de segurança ainda em estágio inicial no Brasil. Ao todo, devem ser beneficiadas até dez startups de áreas como proteção de identidade, internet das coisas e alarmes.

Invisíveis

“Sabemos que o mercado está bem aquecido e, com a aceleração da transformação digital, o segmento de segurança se tornou um meio imprescindível para reduzir a incidência de vulnerabilidades”, afirma em nota João Kepler, presidente executivo da Bossanova. 

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A principal característica dessas startups é que são “discretas”, já que seus produtos são utilizados por milhares de pessoas diariamente nos serviços de outras empresas – o usuário final não costuma saber quem é o responsável por desenvolver a tecnologia ao tirar uma “selfie” com o RG em mãos para se cadastrar em uma fintech. 

Mesmo crescendo, elas querem permanecer invisíveis. Essas empresas se dedicam a deixar a experiência do usuário o mais suave possível, sem engasgos – isso, muitas vezes, significa desaparecer aos olhos dos usuários. A ideia é evitar lembranças de um passado nem tão distante, no qual era necessário anotar senhas, gerar tokens únicos e ir a agências bancárias para usar certos serviços digitais de forma segura. 

“A grande tendência da categoria é usar as capacidades de processamento gigantescas de celulares e computadores, com sensores e leitores de biometria, para entregar segurança sem deteriorar a experiência do usuário”, observa André Ferraz, fundador e presidente executivo da Incognia, que utiliza dados de geolocalização para criar um perfil único dos usuários que tentam logar em serviços de bancos ou de comércio eletrônico. 

Para o professor de inovação Gilberto Sarfati, da Fundação Getulio Vargas, o obstáculo dessas empresas é manter-se à frente de hackers, fraudadores e golpistas na corrida tecnológica – além dos próprios concorrentes do setor. “A tecnologia pode virar uma ‘commodity’ muito facilmente. O reconhecimento facial era algo único, mas hoje existem milhares de fornecedores diferentes”, diz. 

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Confiança

Outro desafio dessas startups é “criar confiança”. Ao usar essas soluções, o cliente (seja um usuário ou uma empresa) precisa acreditar na segurança do produto, que deve ter a proteção e a confiabilidade similar a de um documento firmado em cartório.

“A partir do momento em que você gera confiança, é possível viabilizar mais negócios, e não só bloquear aqueles clientes indesejados”, conta Ando, da IDWall. Ele diz que, no Brasil, há muita desconfiança entre os cidadãos, o que torna diversas operações do cotidiano repletas de etapas, com papeladas e assinaturas. “O brasileiro preenche esse vazio de confiança com burocracia.”

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Para essas startups, o desafio é convencer o brasileiro a trocar o que já existe pelo que é novo – e o mantra é que a solução seja simples de usar. “Precisamos sempre criar o caminho mais fácil e o mais seguro”, diz Thiago Diogo, diretor de segurança da informação na Unico. “Precisamos unir praticidade à segurança.”

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