A startup de imóveis Quinto Andar teve um grande ano em 2019. Para começar, recebeu uma rodada de US$ 250 milhões liderada pelo SoftBank e se tornou um unicórnio, entrando no seleto grupo de empresas avaliadas acima de US$ 1 bi. Mais que triplicou seu quadro de funcionários, saltando de 350 para 1,1 mil pessoas. Chegou à marca de 5 mil contratos de aluguéis assinados por mês. Ao todo, a empresa contabiliza R$ 28,9 bilhões em imóveis administrados por sua plataforma, que permite a qualquer pessoa alugar imóveis sem precisar de fiador ou pagar seguro-fiança – os números foram revelados com exclusividade pela empresa ao Estado.
Agora, para 2020, a palavra de ordem dentro da empresa é eficiência. “Nós crescemos bastante o quadro de funcionários, mas precisamos reduzir a proporção desse crescimento e nos tornar mais eficientes. Não poderemos ter 4 mil pessoas no final do ano que vem”, afirma André Penha, cofundador da startup. “Vamos investir em mais tecnologia, em especial aprendizado de máquina, para deixar o trabalho menos braçal e mais inteligente.”
Segundo o executivo, esse esforço será pouco perceptível para a maioria dos clientes da empresa. “Quando a automatização é boa, ela é quase invisível”, brinca Penha, em entrevista concedida no novo campus da startup, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. “É a primeira vez que temos um escritório com a nossa cara, nosso logo. Espero que não precisemos mudar daqui logo por necessidade de espaço.”
Além do espaço na Vila Madalena, com três torres de escritórios adminstradas pelo WeWork, a empresa também voltou às origens e abriu um centro de tecnologia em Campinas, com 35 pessoas – quando foi fundada, em 2012, a startup operava na cidade do interior paulista para reduzir custos. “Agora, buscamos talentos”, diz Penha.
Assim como persegue a eficiência interna, a empresa também pretende ampliar esforços nas cidades em que já atua – de acordo com Penha, o Quinto Andar não deve começar a alugar imóveis em nenhuma nova cidade em 2020. “Já sabemos como ‘abrir’ uma nova cidade. Mais interessante é aprender como intensificar parcerias com as imobiliárias, por exemplo”, afirma o executivo. Desde 2019, a startup tem fechado alianças com as empresas tradicionais – responsáveis por captar imóveis e atender os proprietários do jeito “offline”, enquanto cabe ao QuintoAndar administrar o aluguel e prover benefícios como pagamento em dia aos donos das residências.
Para 2020, outra projeto estudado pela empresa é a de oferecer adicionais junto ao aluguel. Entre eles, estão o adiantamento dos pagamentos por um ano aos proprietários, descontada uma comissão ou a contratação de serviços como internet e TV a cabo no momento em que o contrato é assinado. “Não queremos empurrar nada para ninguém, mas a ideia é reduzir o sofrimento de se fazer uma mudança de casa.” Segundo Penha, parcerias com operadoras já estão sendo estudadas, mas não há previsão para os planos começarem a funcionar.
Compra e venda
Outra novidade anunciada pela empresa no ano passado deve receber bastante atenção em 2020: a intermediação da compra e venda de imóveis usados. Desde a primeira semana de janeiro, mais de mil anúncios de residências (a maior parte, apartamentos) estão disponíveis no site da empresa. Por enquanto, a atuação fica restrita em alguns bairros das regiões Oeste, Sul e central de São Paulo, com valores que variam entre R$ 200 mil e R$ 3 milhões.
“Achávamos que o aluguel era um negócio mais importante, mas começamos a receber muitos pedidos para ajudarmos com venda. Percebemos uma demanda reprimida neste mercado”, afirma Penha. O executivo vê com bons olhos a concorrência de startups que atuam no setor, como Loft, Keycash e Grupo Zap. “Não é segredo para ninguém que o setor de imóveis precisa ser digitalizado. É saudável.”
O mesmo adjetivo é utilizado por Penha para definir um movimento atual no mercado de startups, no qual diversas empresas estão buscando reestruturações e fazendo demissões, com o propósito de se tornarem lucrativas. Só na primeira semana de janeiro, quatro empresas que receberam investimentos do SoftBank foram responsáveis por 2,7 mil demissões, incluindo a colombiana Rappi.
Segundo o executivo, o movimento não afetou sua empresa. “Recebemos dinheiro do SoftBank quando o mundo já estava mais cauteloso, após o que aconteceu com o WeWork”, diz. “Está na hora de todo mundo fazer contas, uma preocupação que temos desde sempre aqui. Temos um carinho especial pela contabilidade e pelo fluxo de caixa.” Hoje, afirmou a empresa, o Quinto Andar ainda opera no vermelho – mas já tem lucro em mercados mais maduros, como o da capital paulista.
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