“Olha, cara, eu vou te confessar uma coisa: eu estou cansado. Eu trabalhei muitos dias por 16 horas nessa quarentena. Mas eu faço isso feliz: a gente rala, mas ama o que faz”. Como muita gente, Rafael Forte viu a carga de trabalho aumentar desde o início da pandemia. Ao contrário de muita gente, ele é uma das poucas pessoas no Brasil que pode dizer que comanda uma startup que foi avaliada em mais de US$ 1 bilhão durante o período do isolamento social. Presidente executivo da Vtex no País, ele pode dizer como poucos como o comércio eletrônico cresceu de março para cá.
Dona de uma solução que ajuda grandes marcas a criarem e manterem suas lojas online, em um sistema que também permite o gerenciamento das lojas físicas – o chamado omnichannel, ou “todos os canais”, no jargão do setor –, a Vtex cresceu 98% na pandemia, atingindo já neste ano um tamanho que só esperava alcançar em 2023. Tudo porque conseguiu ajudar seus clientes – são mais de 3 mil em 42 países, incluindo marcas como Ambev, Coca-Cola, Nestlé e Motorola – a navegar o período mais crítico da quarentena.
“Muitos clientes sabiam que precisavam reagir, mas não tinham ideia de como fazer e a gente foi muito acessado. Ninguém esperava ter de fechar da noite para o dia, abrindo mão de 85%, 90% do faturamento”, diz Forte. “A gente começou a ser demandado por orientação, até porque somos vistos como especialistas no mercado. Não dava para nos omitirmos.” Apesar de custar dores nas costas ao executivo, o momento foi proveitoso para a Vtex: por conta da aceleração no e-commerce, a empresa levantou em setembro uma nova rodada de aportes avaliada em US$ 225 milhões, 10 meses após receber um cheque de US$ 140 milhões.
O investimento, liderado pelo fundo Tiger Global, deu à Vtex uma avaliação de mercado de US$ 1,7 bilhão – o suficiente para a empresa ser o primeiro “unicórnio da pandemia” no Brasil. Além disso, a companhia, que tem sede no Rio de Janeiro, também se tornou a primeira empresa latinoamericana a aparecer no quadrante de líderes da consultoria IDC. Para faturar, a empresa adota uma solução diferente dos rivais do setor: em vez de cobrar uma assinatura pelo software, a Vtex fica com uma comissão das vendas realizadas por meio de sua plataforma.
Com os recursos, a empresa pretende investir na expansão de seu time pelo mundo. Em novembro do ano passado, tinha 615 pessoas. Hoje, está com 900 funcionários – até o final de 2021, a empresa deve saltar para 1,4 mil empregados. Para o ano que vem, Forte está bastante otimista com os negócios, mesmo em um cenário em que o comércio eletrônico deixa de ser a única alternativa para os consumidores. “Muita gente aprendeu o poder da comodidade. Agora, a compra vai ser híbrida”, diz o executivo.
Para Forte, a Vtex colhe hoje os frutos de uma jornada longa. “Pode parecer que a gente é um sucesso do dia para a noite, mas é algo que leva 20 anos para ser construído”, diz o executivo, que completou 40 anos durante a quarentena. Uma das coisas das quais ele se orgulha é a governança da companhia, “que se prepara há muito tempo para ser uma grande empresa”. É o que lhe dá o conforto de, ao final de uma sexta-feira de 16 horas ou mais, descansar com calma e buscar o equilíbrio. “Dá para desligar o celular no final de semana e voltar renovado na segunda-feira.”
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